Eu tenho você

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A chuva se misturava com as minhas lágrimas que caíam, uma a uma, no asfalto da rua. As pessoas desviavam de mim, que permanecia imóvel em meio a multidão.

As gotas de água escorriam pelo meu rosto como se moldassem uma escultura de porcelana. Uma imagem bonita, porém ao mesmo tempo deprimente.

A única coisa que me aquecia em meio aquela paisagem fria e urbana era o sentimento de nostalgia que queimava em meu peito. Eu já estive ali.

Era o local do acidente.

- Ei, Jin-Ah.

Me virei em direção a voz, sentindo meu estômago embrulhar ao reconhecê-la.

Jimin...

- Para quem são essas flores? - ele voltou a falar.

Só então que percebi que estava segurando um buquê de margaridas. Estavam despedaçadas e completamente sujas de terra.

- Estão mortas... - Jimin se aproximou, tocando as pétalas murchas da flor.

Ele se aproximou do meu rosto. A chuva parecia ter ficado mais forte, mas naquele momento eu só conseguia pensar em Park Jimin.

Então, ele completou sua frase num sussurro, me causando um arrepio na espinha.

-...Assim como eu.

Uma buzina de carro ecoou, fazendo com que eu cobrisse meus ouvidos de imediato. Me virei, vendo o veículo passar por nós e bater numa árvore.

O carro foi completamente esmagado.

Tentei chamar por Jimin, mas minha voz não saía. E o desespero tomou conta de mim quando eu percebi que ele não estava mais ao meu lado.

Jimin estava ao lado do carro, coberto de sangue e lama, junto das margaridas mortas que antes estavam em minhas mãos.

Então eu gritei, sentindo minhas pernas falharem, assim caindo de joelhos no chão. Eu fechei os olhos, mas a cena havia ficado gravada em minha mente, me obrigando a ver aquilo de novo e de novo.

Eu já não conseguia respirar direito e minha cabeça doía sem parar. A buzina do carro continuava tocando.

Eu quero sumir daqui, agora!

- JIN-AH!

Alguém gritou pelo meu nome, mas eu parmaneci de olhos fechados em completo desespero.

Senti alguém me agarrar pelos ombros, e antes que eu pudesse gritar, eu colidi contra o peito do indivíduo.

- Eu estou aqui, Jin-Ah, está tudo bem. Foi só um pesadelo.

Pesadelo...?

.
.
.

Abri meus olhos ao sentir um toque frio contra a minha bochecha. Taehyung tinha um olhar preocupado sobre mim.

Olhei em volta, vendo que estava no meu quarto esse tempo todo. Eu tremia da cabeça aos pés e meu corpo parecia quente e pesado.

- Você está com febre. - ele observou, colocando a palma da mão sobre a minha testa.

- Estou bem. - respondi, completamente rouca. Segundos depois, eu comecei a ter um ataque de tosse.

- Defina "estar bem". - ele me lançou um meio sorriso, se levantando da cama.

Involuntariamente eu o segurei pela camisa.

- Eu não quero ficar sozinha... - pensei em voz alta. Eu não queria me mostrar tão vulnerável, mas também não queria que ele fosse embora.

Rain and Asphalt (KTH)Onde histórias criam vida. Descubra agora