Convidado

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"Senhores passageiros, o avião irá pousar em dez minutos."

Retirei meus fones de ouvido para ouvir melhor o comunicado do piloto. Taehyung mal se mexeu, apenas continuou dormindo, apoiando-se em meu ombro.

Ainda não conseguia acreditar que eu estava mesmo voltando para Daegu depois de tanto tempo. Nasci e passei parte da minha infância lá, porém minha família se mudou para Seoul, onde cresci. Meus pais decidiram voltar para Daegu há um ano, e eu continuei estudando em Seoul.

Nunca mais vi meus pais desde então.

O baque do avião pousando no chão era como um sinal de um mau presságio. Era tarde demais para me esconder atrás de um assento e voltar para Seoul?

- Nossa noona, está com uma cara péssima. - disse meu companheiro sonolento.

- Como sempre muito sincero, Taehyung. - revirei os olhos. - Você não pode falar nada tendo essa cara amassada de sono.

- Isso é um sinal de que eu tive meu sono da beleza, diferente de certas pessoas.

Soquei seu braço e ele abafou uma risada. Excluí a ideia de permanecer no avião e recolhi minhas malas. Taehyung e eu descemos junto com os outros passageiros.

Paramos num Starbucks do aeroporto e pedimos dois cafés gelados. Daegu era sempre quente nessa época do ano, o que fez nos arrependermos de virmos com roupas de inverno.

- Estou suando feito um porco! - meu amigo reclamou. - Jin-Ah, sua casa é muito longe daqui?

- Não se preocupe, vamos pegar um táxi. - respondi.

- Ótimo, você anotou o endereço, certo?

Silêncio. É, eu não anotei o endereço. Taehyung deu um suspiro longo e pesado.

- O quê? Eu me esqueci! - tentei me defender.

- Não podemos chegar até lá sem um endereço, sabia?

- Obrigada por falar o óbvio!

Paramos de discutir antes que as pessoas ao nosso redor achassem que éramos loucos.

- Tá, então ligue para eles.

- Eles quem?

- Seus pais, noona!

Abri a boca para falar, mas as palavras morreram em minha garganta. Ele estava certo, não tínhamos outra opção. Com as mãos um pouco trêmulas, eu peguei meu celular na minha bolsa.

- Está tudo bem? - a expressão de Taehyung suavizou.

- Está sim, é que... Faz um bom tempo que eu não falo com eles. Não sei como começar.

Taehyung me lançou um sorriso cheio de ternura e segurou minhas mãos. De repente, eu não estava mais nervosa pelo telefonema, e sim pela proximidade repentina.

- Vai ficar tudo bem, não precisa ficar nervosa com isso.

Assenti, sem dizer nem uma palavra. Então, disquei o número (que por mais incrível que pareça, eu ainda sabia de cor), e esperei alguém atender.

- Alô?

Prendi o ar nos pulmões quando ouvi a voz do outro lado da linha. Pai.

- Oi, pai. Aqui é a Jin-Ah. Eu não peguei o endereço, então pode passar para mim? Vamos pegar um táxi.

Ele permaneceu em silêncio por um bom tempo. Pensei em dizer alguma coisa, mas ele falou antes de mim.

- Vou pedir para um carro te buscar. Você está no aeroporto, certo? - respondi que sim. - Então está bem.

Rain and Asphalt (KTH)Onde histórias criam vida. Descubra agora