Conhecidos

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Os três dias de minha suspensão estavam sendo mais longos do que eu gostaria.

Desde que atingi a maior idade, moro numa casa simples em um bairro de Seoul. Era pequena, aconchegante e bem perto da escola. Minnie sempre foi minha fiel companheira, e a única que ficava naquela casa além de mim.

Até Kim Taehyung aparecer.

Se eu havia achado um absurdo ele entrar na minha casa e usar o meu banheiro, pode-se imaginar a minha surpresa quando o encontrei dormindo no sofá na manhã seguinte.

- Bom dia. - ele disse, sua voz ainda sonolenta.

- Bom dia? O que faz aqui?

- Depois que você foi dormir, eu terminei de jantar e fui assistir TV. Acho que acabei dormindo por aqui. - ele riu, como se aquilo fosse realmente engraçado!

- E você não avisou ao seus pais que passou a noite aqui?

Ele soltou um sorriso sem graça. É, ele não havia avisado. Inacreditável.

Ignorei a presença dele pelo resto da manhã. Apesar de ter sido difícil, já que ele não tirava os olhos de mim. A presença dele estava começando a me incomodar.

- Você não tem nada melhor para fazer? - perguntei, me servindo de uma boa xícara de café. Ou eu seguia com o meu dia, ou eu matava aquele garoto.

- Sim, eu tenho aula. Apenas um de nós teve a sorte de ser suspenso.

- Haha, muito engraçado. - ri, sem humor. - Da próxima vez esteja lá quando um babaca estiver tirando sarro do seu melhor amigo.

O sorriso de Taehyung morreu. Era como se uma nuvem escura tivesse estacionado por ali. Ele se despediu silenciosamente, saindo logo em seguida. Mesmo ele sendo irritante, acabei me sentindo mal por aquilo.

Senti Minnie me olhar, como se soubesse de todos os meus pecados.

- E-Eu sei, tá? Não precisa me olhar assim. Vou pedir desculpas à ele mais tarde.

Terminado o café, decidi dar uma faxina na casa, sobretudo em meu quarto. Talvez isso me distraísse um pouco.

Já eram quase 15:00 quando terminei tudo. Me joguei no sofá, exausta. Meus pensamentos voltaram para a expressão triste de Taehyung.

Ok, eu tinha sido muito dura com ele. E ainda não tinha me desculpado pela pequena explosão de ontem. Ele quis me ajudar, do jeito intrometido dele, mas quis.

Vendo que nem mesmo a faxina havia sido o bastante para organizar meus pensamentos conturbados, decidi dar um passeio. O Sol ainda estava brilhando, o que queria dizer que precisava da minha sombrinha.

Enquanto caminhava sem rumo, refleti sobre minha vida até aquele ponto. Não havia muito o que se pensar, nada nunca mudava. Mesmo com o Sol, meus dias sempre eram nublados e chuvosos. Eu desejava acordar daquele pesadelo. Sim, eu queria acreditar que tudo não passou de um pesadelo, que o acidente nunca aconteceu, que Jimin me acordaria e que eu veria seu sorriso novamente.

Por que as melhores pessoas deixam você? Eu me fiz essa pergunta tantas vezes, por que você, Park Jimin? Não era justo, nada disso. Me foi tirado o meu bem mais precioso, o motivo diário dos meus sorrisos, tudo se foi tão de repente.

Nada nunca mudava. Eu continuava perdida na escuridão porque minha luz não estava mais aqui para me guiar.

- Moça, está tudo bem?

A voz da atendente da loja de conveniência me despertou de meus pensamentos. Eu havia ficado parada em frente ao estabelecimento sabe-se lá por quanto tempo.

Rain and Asphalt (KTH)Onde histórias criam vida. Descubra agora