A curva

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Não há grades na janela
e o sorriso do vento me chama.
Como um enxame de abelhas desalojadas,
o manto invisível do vento me chama.

E me torturam os ouvidos,
os gritos estridentes dos reclusos
que me ladeiam aos pares
em dias de tanta perplexidade,
como o de hoje.

É complexo o quadro,
com todas as suas bordas infinitas,
desajustadas e íngremes.
O desassossego inevitável
desabotoa todas as dores
de minha mente arrochada
de tantos pensamentos devaneantes.

E desvelo-me cambaleante
por instantes eternos,
percorrendo todos os corredores
da inútil teimosia
de minha inócua existência.

Nada encontro que me traga o não.
Lamento a curva que engoli
e protesto em chamas
pelo descaso da aspereza
que me apaga a luz
sem qualquer cerimônia.

Da Depressão e de Outras TormentasOnde histórias criam vida. Descubra agora