carpe diem • isco

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A primeira vez que te vi, eu te achei um completo babaca.

Eu estava no parque com meu sobrinho, estava visitando meu irmão em Madrid depois de ter encerrado a graduação. Estava aproveitando o dia com o ser mais especial que existia, e levei para brincar.

Comunicativo como sempre, fez amizade com um garotinho com cabelo castanho e sorridente que estava sozinho, brincando na areia. De um minuto para o outro, viraram amigos inseparáveis. Registrei a primeira foto de amizade dos dois, que retratava a inocência e ficaria guardada para sempre.

Quando o Lucca veio me apresentar seu novo amigo, senti vontade de abraçar os dois e nunca mais soltar. Depois de ter me apresentado como Jasmine, o pequeno disse que seu nome era Francisco.

Lucca disse que o meu abraço era o melhor do mundo, e o moreno pediu um para ver como era. Quando envolvi meus braços ao redor do pequeno corpo, junto com o meu sobrinho em um abraço triplo, você apareceu.

Não tive tempo de assimilar o que estava acontecendo, até ter um dedo apontado no meu rosto e palavras raivosas perguntando quem eu era e como estava sequestrando o filho dele.

Quando voltei à vida, olhei com cenho franzido para você. Quem você pensava que era?

Então acusei-o de não cuidar do filho, para perceber que na ultima hora, estava acompanhado de um novo amigo. Você pensou mesmo que eu ia roubar uma criança?

"Papai, eu estava apenas abraçando a tia do Lucca, o abraço dela é mesmo o melhor do mundo."

Sua cara foi no chão, levantei ainda mais a cabeça, após a afirmação do seu filho. Quando o mesmo apresentou Lucca a você como o melhor amigo dele, você permitiu-se sorrir, perguntando como ele estava e se apresentando como Francisco.

Eu pouco me importava com quem você era, seu time ou suas Champions. Queria que você explodisse.

"Eu gosto do seu time, mas a Jas prefere o Barcelona."

Seu olhar para mim foi de acusador para deboche, os cantos da sua boca se elevaram em um sorriso irônico. "Coitada da titia Jas, Lucca. Ela tem mau gosto".

Lembro-me de ter os olhos soltando faíscas, e do pequeno Francisco convidar Lucca para brincar na casa dele, que era "muito grande para os dois".

"Precisa fazer a culé deixar, Lucca".

E com o orgulho inflamado, não ia deixar o merengue passar por cima de mim. Assim, combinando do meu sobrinho brincar com o amigo no outro dia.

A segunda vez que te vi, continuei te achando um completo babaca.

E, diferente do que eu esperava, as duas crianças criaram uma ligação tão forte quanto um laço familiar. Os dois viraram a dupla dinâmica.

Meu irmão trabalhava o dia inteiro, a mulher dele era modelo, e eu virei a babá. Trocavamos poucas palavras, apenas o necessário.

Foi quando vi o pequeno Isco chorando escondido de você. Lucca estava dormindo no sofá, e o moreno deixava as lágrimas rolares pelo rosto em silêncio.

A cena me partiu o coração, quando ele notou a minha presença do seu lado, apenas pulou no meu colo e permitiu-se chorar nos meus braços. Não pedi explicações, apenas deixei o mesmo soluçar na minha camiseta, enquanto acariciava seu cabelo falando que estava ali.

Você chegou momentos depois, com um olhar preocupado que se derreteu quando viu o filho no meu colo. Você não se mexeu, sentiu que o pequeno estava encontrando a segurança na figura pouco conhecida que eu era. Apenas me mandou um olhar agradecido.

Naquele momento, você não era mais o babaca pai do amigo do meu sobrinho.

Era apenas um pai esgotado, que se sentia insuficiente.

Com aquele olhar, você não só obteve o meu primeiro sorriso de cúmplice direcionado para ti, mas também a minha atenção.

A imperfeição pode ser considerada o maior contraste entre o mundo televisionado para o mundo e o real.

O pequeno adormeceu nos meus braços, mesmo com pouca força, me abraçando ainda. Você tomou um suspiro, e veio sentar do meu lado. Perguntou com o olhar, se podia se juntar no abraço.

E ali ficamos, com você me abraçando com um braço e fazendo carinho no rosto do filho com a outra mão. Eu me senti a intrusa naquele momento tão paternal, mas você não pareceu se incomodar com a minha presença.

Depois de colocar os dois na cama, você pediu desculpas pelo gesto, perguntando se podia me recompensar com um jantar para contar um pouco mais sobre a vida imperfeita que tinham.

Aquela era a terceira vez que nos encontrávamos de verdade, ignorando os passeios rápidos no parque ou o cumprimento para deixar o outro com o amigo.

A terceira vez que te vi, e senti pela primeira vez, a sua imperfeição me atraindo.

No jantar, você contou sobre a dificuldade que estava encontrando em criar o pequeno sem a presença da mãe após o divórcio.

A vida é algo complexo, Francisco. Não tente contrariar o que o mundo está tentando formar.

Eu contei-te sobre uma famosa lenda japonesa, que as pessoas nasceram unidas. Na vida anterior, as almas gêmeas são separadas, unidas apenas por uma fita vermelha invisível entorno do dedo.

Que o propósito de muitos era encontrar a sua outra metade da alma. Mas que ela apareceria naturalmente quando estivesse maduro o bastante para enfrentar a imperfeição um do outro.

Naquele momento, eu sabia que a memória do seu olhar ficaria marcado para sempre em mim.

A partir daquele momento, parei de contar os nossos encontros como dias corridos, mas como fui, lentamente, me apaixonando pela sua imperfeição real.

Eu contei a história da lenda da fita, fazendo referência aos pequenos. A união ali existente não era algo deste mundo. Mas parece que me contrariei, o destino não apenas juntou laços de amizade, mas também criou o nosso.

A ternura que você me tratava, mostrando também o carinho pelo pequeno Lucca. Quando vocês três se reuniam para falar mal do meu time, até o primeiro Él Clássico. Que você teve a brilhante idéia de fazer uma aposta.

No final do jogo, você veio com o maior sorriso pela vitória, pulando com os pequenos no sofá da sala. Gritando o hino do time merengue, olhou para mim com o maior sorriso de uma criança grande, que tinha conquistado o meu coração.

Naquele momento, não me importava mais com a aposta. Importava apenas em viver o momento.

Lembrei-me de quando você perguntava sobre a minha tatuagem na lateral do braço, expliquei que Carpe Diem significava viver o momento, aproveitar o dia, não deixar o passado influenciar no seu futuro.

Naquele momento, ver a felicidade dos três me mostrou que Carpe Diem se refere aos pequenos momentos da vida.

Então eu digo Francisco: a vida é curta. Aproveite-a enquanto pode. Obrigada por ter me mostrado a minha outra parte da alma e ter guardado tão bem a outra metade da minha fita vermelha.

postal 221 • contosOnde histórias criam vida. Descubra agora