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pra ser sincero • draxler

Pra ser sincero, não espero que você me ame mais.

Isso não signifique que não ame mais você, seria uma completa mentira escrita.

Eu amo você com toda a força do meu corpo, cada célula minha é apaixonada por cada centímetro do seu corpo.

Poderia escrever nesta carta apenas o quanto eu amo você, mas esse não é o intuito.

Sempre admirei a sua determinação, sem você, não sei se teria continuado jogando em Wolfsburg ou qualquer outro lugar.

A vida é uma viagem, não um destino.

Você costumava me dizer a sua frase da vida, sempre que eu quisesse desistir ou não via futuro no que estava fazendo. Você foi o meu farol por muito tempo.

Não tínhamos medo do julgamento, éramos apenas um casal formado por um jogador de clube pequeno e uma estudante de psicologia.

Um alemão e uma uruguaia.

Dois corações que se uniram.

Um amor que transbordava.

E por anos se seguiu. A sua concentração lendo um texto de 150 páginas na parada do ônibus com um guarda-chuva, e o meu carro em uma velocidade elevada resultou em você e seu texto encharcado.

Nunca vou me esquecer do seu rosto vermelho, os olhos soltando faíscas e os xingamentos em espanhol que descobri, meses depois, que eram nada amigáveis.

Um livro destruído resultou numa promessa de um novo e um número para devolver o "presente" depois.

Pra ser sincero, eu senti no momento em que desci do carro para me desculpar e você me jogou o livro no peito, que o destino traça o próprio caminho.

O mundo é engraçado, não acha?

Você foi minha luz.

E eu destruí o meu farol.

Pra ser sincero, eu não me perdoaria se fosse você.

Você nunca quis sonhar com casamentos, lugares para morar, onde comprar o seu túmulo.

Você vivia o hoje.

Eu não soube reconhecer a pessoa incrível que tinha do meu lado. Eu achava que essa era uma imperfeição sua. Até porque, quando se está com uma pessoa do seu lado que não pretende planejar o futuro dela do seu lado, você se sente insuficiente.

E isso me destruiu.

Hoje eu vejo que interpretei da forma errada.

Você tinha medo de me assustar com os seus sonhos altos de mais.

Como uma estudante e leitora, você tentou mostrar isso nas entrelinhas.

Como um jogador literal, não tive o cuidado de perceber.

Sempre tão intensa, tinha medo de mergulhar no raso.

Não vou implorar pelo seu perdão, você não merece um cara chato e estúpido na sua volta. E não se preocupe, sei que falam que o perdão é para quem perdoa, mas eu não mereço nem mais um pedaço seu.

Minha imperfeição se apaixonou pela sua simples perfeição.

Sua forma simples e madura de encarar o mundo e sorrir era o olhar mais lindo que meus olhos já capturaram.

Você foi meu alicerce.

Meu farol.

Meu amor.

E eu o destruí igual ao templo de Ártemis.

Nós só damos valor a algo quando o perdemos.

Eu não perdi você.

Você nunca pertenceu a ninguém, apenas a si mesma.

Estou seguindo o meu coração, como você me ensinou.

Acontece que metade dele está me guiando para Paris.

A outra metade você levou na sua mala, quando pegou suas coisas da minha casa.

Posso contar nos dedos de uma mão ás vezes que pedi perdão a você. Meu orgulho esmagava o meu peito e eu pensava que essa era uma das maiores dores que poderia sentir.

Até descobri que não sentir nada é mais doloroso.

"Você poderia fazer qualquer coisa, se você apenas se atrevesse."

Estou indo para Paris.

Peço perdão de corpo e alma a mulher que me ensinou o que é o amor.

Sinto muito por não ter te ensinado como amar, eu não sabia.

Vou parar de procurar você.

Você merece a paz que tanto amou, o silêncio e independência que sempre teve e tentei mudar.

Apenas quero que saiba que eu sinto cada célula minha afastada de você.

Você está seguindo o seu sonho.

Estou seguindo o meu.

Mas se você quiser falar comigo, apenas para eu escutar novamente a sua voz, este é o meu telefone.

Espero que a gente se encontre em algum momento, para poder admirar mais uma vez a mulher que és.

O mundo não merece você, nem eu.

Seja feliz Clarissa, mesmo que não seja do meu lado.

Com amor, Julian.