o rei silencioso.

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O rei silencioso

"[...] Segui-o pelo caminho
Em direção ao ninho de pedra
A relva me roçando os calcanhares
E os ares rápidos tocando-me na face

Os olhos do viajante flamejam
Enquanto os meus fraquejam
Ao se aproximar da imensidão
Do castelo em escuridão

És corajoso o suficiente
Para enfrentar o rei onisciente?
Um sorriso pintando seus lábios travessos
Observando a casa infesso

Onde em seu reinado eterno
De silêncio e sono sempiternos
O rei solitário
Se põe adormecido, negligenciado
Esperando algum intruso armado enfrentar
E deixá-lo... [...]"

O som estrondoso, gracioso e meticulosamente calculado e planejado da música da banda indie folk, Beirut, explode nos meus fones de ouvido. A harmonia musical entre os diversos instrumentos como trompete, ukulele, piano, sanfona etc, relaxa a tensão acumulada em meus músculos e eu sorrio em prazer ouvindo algumas das minhas canções favoritas, enquanto rodopio lentamente na cadeira de meu escritório, os olhos fechados tentando captar todos os detalhes possíveis da música. Aos poucos minha consciência vai se perdendo, cegada pela beleza das batidas, a música instigando minha mente trabalhadora a relaxar. Os fones bloqueavam toda e qualquer sonoridade externa, causando uma experiência perfeita, permitindo que a música e eu interagíssemos diretamente, quase como se ela pudesse tocar e envolver meu corpo com os dedos invisíveis de suas ondas.

Desde minha infância fui um apaixonado por músicas que seguissem o gênero de Beirut, que ousa sem temer e leva minha mente a direções sem rumo, instigando minha imaginação a trabalhar em diversos cenários, vendo destinos que eu nunca me preocupei muito em atingir, embora eu soubesse que minha vida maçante seria muito mais fácil se eu estivesse inserido ali. Eu podia me ver em cenas das quais gostaria que acontecesse, que eu desejava acima de tudo: uma mente limpa e calma como um lago, sem mais preocupações e dúvidas pairando acima. Era uma utopia agradável que duraria menos de dez segundos, mas ainda agradável e que eu gostaria de tomar como algo concreto, algo que realmente aconteceria. Eu respiro fundo, desfrutando das minhas imaginações e mergulhando cada vez mais fundo nessas fantasias.

As vezes eu me sinto na necessidade de me anestesiar da vida com essas cenas fantasiosas. Imaginar vidas que eu poderia ter ou não são como uma terapia para minha mente, embora muitas das vezes ela própria nega tudo com sua contradição. Eu nunca senti carência de ambições ou sonhos. Em minha vida, eu nunca realmente imaginei um desejo que me interessasse como me encontrar com o amor da minha vida (se é que isso existe) ou ser bem sucedido. Entretanto, em minhas fantasias, eu costumo ter essas visões de um futuro para mim, um futuro clichê, tomando como base sonhos alheios e transformando-os em meus. Mas minha mente, seguindo o pensamento que moldei, não me aborrece por eu não ter nada daquilo, ela apenas fala "tudo bem, isso é legal, mas você não precisa disso". Por conseguinte, eu continuo apenas vivendo e pensando no presente, sem me incomodar com o meu destino, possivelmente, patético ou incrível.

Arregalo os olhos e salto da cadeira assustado quando um jato de água fria atinge meu rosto, me puxando do meu mundo das ideias. Devido ao movimento brusco, acabo batendo meu joelho no tampo da escrivaninha e solto um grunhido de dor e irritação, lançando junto uma série de palavrões sem sentido e inventados naquele momento. Encaro furioso a pessoa que me interrompera, mas sou obrigado a relaxar o rosto e arrancar os fones de meus ouvidos ao me deparar com meu chefe, Kim Namjoon, parado a minha frente impaciente e com os braços cruzados, o pé martelando o chão repetidamente, claramente estressado comigo. Um pequeno revólver d'água se encobria entre seus dedos esguios e eu abro a boca e arqueio as sobrancelhas em um "ah", finalmente as pistas se encaixando no quebra-cabeças.

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