rascunho.

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Rascunho

O papel me encara
Eu encaro o papel
A palavras me escapam
Como presos no quartel

Queria eu escrever algo
Que me lembra você
Mas pensamentos em alto
Me afastam de tal poder

Então, nestes versos simples
Escrevo os sentimentos
Sinceros, falantes, excuciantes
Que reprimo por medo de você

Depois da situação embaraçosa na casa Kim, algo no clima entre minhas relações e minha mente pareceu se alterar drasticamente.

Em um primeiro momento, foi perceptível a mudança repentina no olhar e ações de Taehyung assim que Jimin me deixou perplexo na calçada mínima da casa Kim, um buquê de girassóis, de uma vivacidade incrível, em mãos. Desconfiei que o mais velho estivera nos observando pelas janelas, escondidas por cortinas de seda, da casa, pois, assim que o menor virara a primeira esquina e desaparecera por entre a selva de concreto, imediatamente o som da porta de entrada da residência se abrindo chegou até meus ouvidos. A presença do castanho pesou sob meus ombros e eu soube que estava encrencado pelo modo como suas sobrancelhas se franziam acima dos olhos. Não sei se fui um grande felizardo ou um grande desafortunado, já que, apesar de seus pequenos atos gritarem o ímpeto de me socar ou gritar, o mais velho se manteve calado em relação a mim.

Consequentemente, devido às tais últimas ocorrências na casa, a tal festa para seu amigo, Hoseok, e a comemoração por sua conquista pessoal foi adiada e o restante da semana foi regado por olhares afiados e silêncios desconfortáveis entre nós — algo que não é suposto acontecer. Por esse motivo, evitando eventuais conflitos, minha presença no café Jungjae, que antes apresentavam certa constância, se tornaram mais raras e as visitas, mais breves. Ainda assim, os poucos momentos que tivemos juntos foram perfeitamente resumidos por um constrangimento, principalmente de minha parte. Até mesmo encarar o rapaz nos olhos se tornara uma tarefa complicada.

A falta de poder sobre minha palavras verbais sempre me foi um um inconveniente, sobretudo em ocasiões divergentes ao extremo e que me exigem uma calma e concentração absurdas, mas nunca um empecilho voraz, assim como a constante explosão de sentimentos e emoções. Uma boa porcentagem das brigas em que estive inserido irromperam apenas por conta de minha mente leiga e ansiosa. A fórmula perfeita para o desastre. Algo evitável, obviamente, mas que, como se uma espécie de vida parasita ligada à minha tomasse uma forma esmagadora, minha mente seguia um caminho próprio, com suas decisões indiscutíveis, gerando tais conflitos indesejáveis. E eu, claro, casado com meu orgulho dificultava meu próprio trabalho de ter uma relação decente com uma pessoa.

O penhasco de diferenças entre eu e Taehyung também não é de auxílio algum, apesar de o mais velho possuir um controle maior sobre si mesmo e suas palavras, além de ser paciente e um bom ouvinte.

Embora eu tente arduamente não fazê-lo, algumas ocasiões de minha vida tediosa são capazes de me afetar por um longo prazo. Durante todos os meus vinte e três anos de uma rotina maçante, um dos meus outros passatempos era, e ainda é, o trabalho que exerço comigo mesmo em não me importar com ideias irracionais ou equivocadas de mim e eventuais conflitos que possam ocorrer comigo. E somente devido a minha persistência em manter aquela atividade, hoje eu sou capaz de não dar a mínima para certas coisas, concluindo meu exercício pessoal e orgulhando minha própria mente.

No entanto, alguns abalos poderosos conseguem penetrar minhas barreiras, chacoalhando os muros altos que ergui envolta de meu próprio cérebro. Estes momentos são incomuns, inusitados, mas dependendo da força do tremor na escala "Não-Dou-A-Mínima" a nota que atingem chega a ser algo próximo do total, algo extraordinariamente chocante. E normalmente, graças a nossa aproximação peculiar e afeição que eu possuo pelo mais velho, esses tipos de abalos são causados somente por Taehyung, o único capaz de desarmar minhas defesas e derrubar meus exércitos.

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