Single Chapter- Gerard Way

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Aconteceu em uma terça-feira.

Sabe, adoraria dizer que aconteceu em uma terça-feira escura, chuvosa e todas aquelas baboseiras de filmes de terror... mas não podia.

Aconteceu em uma terça-feira normal, quando estava sozinho em casa.

Ainda era difícil de acreditar quando recebi a notícia de Mikey... ninguém queria muito me contar porque ao ver de todos, eu ainda era o culpado. Não estou negando, de fato, sou. Mas... se soubesse que isso aconteceria naquela época, daria um soco no meu eu do passado e mandaria entrar na porra dos eixos.

Fui avisado na quarta de manhã. Estava tomando meu café na minha caneca predileta, entretanto assim que atendi o telefonema de meu irmão e ouvi suas palavras, minha caneca predileta se espatifou no chão, com estilhaços e respingos do líquido negro para todos os lados. Minha esposa e filha correram em minha direção, mas não poderia... não conseguia contar.

Todo o pessoal estaria lá no final de semana. Todo o pessoal da banda, até os produtores que nos acompanharam. Seria meio... estranho juntar todo mundo de novo, mas... dessa vez, era necessário.

O resto dos dias foram uma bagunça total e completa. Inexplicavelmente deixei de acordar cedo por conta própria, o que causou na falta de Bandit na escola dois dias... faltei em inúmeros eventos de quadrinhos, entrevistas... apesar de Umbrella Academy ser a série mais vista do mundo atualmente e meu editor estivesse quase arrombando a porta da minha casa pra me puxar para alguma entrevista, eu o mandei a merda e me tranquei no meu estúdio de desenho.

Lá, fiquei por dias apenas lendo HQs antigas e escutando discos de David Bowie e Iron Maiden. Não tentei criar porque sabia que os acontecimentos da semana se resultariam no meu trabalho, então nada de bom poderia sair disso. Por mais que ainda não acreditasse ao certo naquilo, as lágrimas começaram a cair assim que me tranquei.

Chorei em silêncio, sem deixar que ninguém escutasse, talvez apenas para alimentar meu próprio masoquismo ao deixar as outras pessoas pensarem que estava bem, deixarem pensar que sou um monstro ainda pior por isso. Tudo bem, eu mereço.

Era bem injusto. Durante toda a trajetória de nossas vidas, tudo o que fiz foi ser um monstro com todo mundo, muitas vezes uma prostituta por atenção e drogas... agora me arrependo disso, é claro, quem não se arrependeria? Mesmo assim, não me arrependo da maneira que deveria me arrepender. Não mudaria o passado se pudesse, as desculpas que pedi quando melhorei não foram realmente desculpas, foram apenas palavras para que começasse a me tornar um ser humano melhor... coisa que que não sou.

Claro que não. Gerard Way? Uma boa pessoa? Não posso dizer que sempre fui mau, mas... tudo desandou mesmo depois do 11 de setembro. Acho que, naquele dia, talvez tenha absorvido um pouco da crueldade e miséria humana por osmose, por estar muito perto do local. Essa crueldade não se mostrou presente no início, talvez por conta da depressão... essa foi a época em que tive minha última ideia realmente altruísta e humana... a decisão de criar a banda.

Parte de mim ainda afirmava que não era minha culpa. Essa é a minha maneira de ser, por que deveria mudar pelo mundo? Eu não precisava ser carinhoso, não é como se fosse meu ex.

A outra parte de mim, no entanto, negava... certo, não era ex de um jeito romântico, mas em outros sentidos. Era um ex-algo, um ex-talvez... um ex-quase.

Um "ex" que diversas vezes se preocupou muito mais do que minha própria esposa.

Não estou dizendo que Lindsey não me ama. É claro que ama, somos casados há dez anos. Mas... ela não me conhecia desta maneira... não me conhecia há tanto tempo assim.

No Shows | Frerard One ShotOnde histórias criam vida. Descubra agora