4º Capítulo

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4 – O dia que eu comecei a conhecê-lo

Faz cinco dias que ele não aparece no meu quarto. E cinco longos dias que eu sonho com o toque de sua mão na pele do meu rosto. Percebo que não mantenho com ninguém mais o mínimo de uma relação e seu toque foi o mais próximo que cheguei de alguma coisa com um ser humano nos últimos dois meses.

Enrolada na cama, eu desisti de tomar banho há dois dias. Quebrei meu padrão, não comi ontem, mas estranhamente comi bem hoje. E pedi um livro. Na verdade não disse um específico, pedi qualquer um, e eis que a Sra. Fátima trouxe algo inimaginável pra mim: Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago.

Pelo menos posso dizer que a história faz parecer minha vida um conto de fadas. Não consigo imaginar algo mais baixo e vil do que o que se faz aos seres humanos na história. E ainda sim, Saramago faz algo fascinante: nos produz esperança.

Eu fico relendo algumas passagens preferidas minhas e chego a sublinhar algumas frases. Eu já o tinha lido quando era adolescente, mas relê-lo está me dando uma nova perspectiva da história.

No meio de uma parte extremamente instigante do livro, eu observo um ligeiro movimento na maçaneta. Num primeiro momento penso que pode ser Ripper, mas acostumada com alguns de seus detalhes pessoais percebo que não pode ser ele. Ele não hesita em entrar no quarto. E a maçaneta se movimenta, uma, duas, três vezes. Até que para.

Estou no meio do quarto completamente em alerta e me preparo para ouvir qualquer ruído. E novamente vejo movimento na porta e estanco quando um homem desconhecido entra no meu quarto.

Ele tem braços fortes, cabeça raspada como Ripper, mas não tem nada de bonito. Um rosto marcado de cicatrizes. Seu olhar percorre meu corpo e ele se detém em meus seios sem sutiã. Sorri de lado quando eu coloco meus braços em volta de mim e se aproxima agarrando meus cabelos fortemente. Segurando os, aperta a lateral do meu corpo e me curva em sua direção. Seu hálito nojento chega primeiro nas minhas narinas e ele se vira provavelmente querendo tocar minha pele do pescoço. Antes que ele alcance, ouço o ranger da porta e uma figura surge com uma arma na mão.

Sra. Fátima.

Eu grito quando ela atira em uma de suas pernas e ele se curva uivando de dor. Quando ele se abaixa tentando alcançar sua arma, ela lhe dá mais um tiro que atinge sua mão.

Eu olho arregalada para a mulher que acaba de me salvar, e ela continua a não me dar nem um fio de sua voz. Olha para o cara, enquanto dois outros entram no meu quarto e arrastam o sujeito para fora. Quando ela fecha a porta sem me olhar, ouço sua voz lá de fora:

- Não te matei, porque as ordens de Ripper é para te deixar vivo para ele.

Volto cambaleando para o centro do quarto, pensando “quem é ele?” e “porque Ripper o quer?”.

Adormeci minutos depois e só acordei quando notei uma respiração além da minha dentro do meu quarto.

RipperOnde histórias criam vida. Descubra agora