De Conto Em Conto

Conto 1

Era uma manhã fria de inverno quando ela foi vista pela primeira vez naquela cafeteria. Sua beleza simples e jovial chamava a atenção de todos a sua volta. Suas roupas sempre em tons escuros transmitiam o mistério que aquela jovem aparentava ser.

Naquela simples cafeteria no centro da cidade, enquanto tomava seu capuccino calmamente e pensava em tudo que estava acontecendo na sua vida ultimamente, os problemas familiares e principalmente o relacionamento abusivo que ela tanto lutava para que tivesse fim.

O que ela não percebia era o desconhecido que todos os dias lhe servia seu pedido, e a observava atentamente, tentando desvendar todos os segredos que rondavam a mente daquela jovem garota. Todos os dias o jovem garçom observava a garota de cabelos escuros tomar seu habitual capuccino enquanto pensava na vida.

Sempre vestida com seu costumeiro sobretudo preto e meia-calça da mesma cor, a garota sentava sempre no mesmo lugar, na primeira mesa do lado esquerdo, perto da porta, e de frente para a janela, de onde podia ver a neve cair em dias muito frios, e de onde era observada.

Em um certo dia, apesar de ainda ser inverno, a chuva e o frio haviam dado uma trégua, a garota trocou suas habituais roupas de frio por um leve vestido florido de mangas curtas, que combinava muito com seus traços doces, mas que sempre carregavam um semblante cansado, amedrontado até.

Seu admirador notara as mudanças na roupa da jovem, e não deixou de pensar em como ela ficava linda de todas as formas, mas durante a minuciosa observação, notou algo a mais no corpo da jovem, eram manchas que apesar de estarem coberta por maquiagem, ainda estavam visíveis, as marcas eram notáveis em seus braços e principalmente em seu pescoço, onde se demorou olhando e pensando em quem teria tido coragem de machucar aquela doce menina de olhos assustados, aqueles mesmos olhos que agora o observavam.

Ao notar o olhar da menina sobre ele, notou também seu olhos vermelhos que demonstravam um choro recente, pensou em ir até ela, perguntar o que estava acontecendo, oferecer sua ajuda, mas a jovem apenas sorriu para ele, um sorriso doce e singelo como quem diz : " está tudo bem, não se preocupe", e então colocou o dinheiro sobre a mesa e foi embora.

Ele não sabia ainda, mas aquela seria a última vez que ele veria a misteriosa e encantadora jovem naquela cafeteria. Depois daquele dia ela sumiu, e todos os dias o jovem garçom pensava em como estaria a menina dos olhos assustados, até que um tempo depois daquele dia, em uma tarde de verão, ele a viu, sentada em uma toalha de piquenique, na grama do parque.

Suas roupas leves e coloridas a deixavam mais linda, os olhos que antes demonstravam medo, agora transmitiam uma alegria contagiante, e ele pensou consigo mesmo que ela combinava muito mais com verão.