xix.

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ele me toca

em todas as partes que eu não gosto

de ser tocada por ele

e sussurra minha 

com a boca áspera

colada no lóbulo do meu ouvido

para que eu possa entender

de uma vez por todas

que sou dele

e de mais ninguém.

quando os lábios descem por mim

arrancando minha alma parte por parte 

com a língua como se fosse

um machado afiado

eu transpiro

engulo o choro

e despedaço como vidro frágil por dentro.

mas não grito

nunca gritei

e nem me debato pra fugir

porque quando ele acaba de me usar

como copo descartável,

me jogando no lixo em seguida

eu fecho os olhos e adormeço

com a mão dele ainda pairando

sobre a minha cintura.

nos meus sonhos ainda o vejo

sorrindo daquele jeito h o r r e n d o

para mim.


[as lembranças que eu tenho do meu pai]

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