Passos de um passado com futuro

2. Bioanálise

A análise dos sintomas é incrível, não basta a bactéria ativar núcleos cerebrais voltados à coordenação motora e aos ciclos de movimentos involuntários como ela também modifica traços sinápticos dos neurônios dos hospedeiros, causando atrasos ou adiantamentos nas respostas hormonais deles - a pequena bactéria Hoplitas Brasiliensis é uma controladora eficiente e disciplinada de suas vítimas!

Denira está mais empolgada do que nunca! Ela ajeita os cabelos tingidos de azuis no rabo de cavalo e acerta o óculos Rayban no rosto com um dos dedos, os olhos castanhos sem perder um movimento sequer do pequeno castor mantido na contenção blindada. Ao lado o microscópio mantém uma amostra de sangue e o IMac relata os padrões básicos do retorno cerebral do pequeno animal. A pele lisa e morena dela contrasta com o os rugões vermelhos que surgem na pele desnuda do animal ( em três dias quase todos os pelos dele caíram), seu nariz inquisidor não perde uma pista do que ocorre no laboratório.

- Nova equipe de busca saindo amanhã pela manhã. Reunião em quinze minutos! - Fran, líder do contigente de cientistas do ICMBIO das Cavernas do Peruaçú alerta com sua voz carregada de sotaque baiano. - Mo Deuso, não se atrasem!

Denira com certeza estará na próxima busca!

- Fran, cabe mais um?? Preciso ver essa espécie em seu habitat!

- Ainda bem que você se voluntariou, até agora só geógrafos e espeleólogo querendo descer no achado. Pensei que biólogos fossem mais ativos... como Richard Rasmussen. - Ela contém uma risada sarcástica.

- Vou colocar essa na sua conta e cobrar depois, dona chefa do agreste! - Denira caçoa.

A reunião é rápida, diversos especialistas do instituto compartilham pequenas preocupações e objetivos com a saída para a caverna recém descoberta no parque. Geógrafos estão entusiasmados com os padrões de solo, completamente exclusivos; historiadores estão alucinados pelas escritas nas paredes, arqueólogos querem novas tumbas indígenas. O campo especulativo nunca fora tão forte naquelas cavernas de Minas Gerais.

Em pensar que tudo começou com um acidente de turistas. Denira sorri na sua Harley enquanto dirige pela rodovia para sua casa, em Januária. Com o belo sol se pondo à sua direita, entre serras e vales verdejantes do centro do Brasil, ela admira o poder da natureza por toda a existência do mundo. Turistas tropeçaram numa pedra e ela desmoronou, formando uma galeria completamente nova no complexo. Tão perto e tão longe... quantas vezes eu mesma não passei por ali? A Grande Mãe a tudo controla no universo, mesmo minha moto depende da vontade dela - o petróleo.

Fã de AC/DC, ela dorme aos riffs de Back in Black e com devaneios de novas descobertas.

Quando o sol surge no horizonte, a van do ICMBIO já descarrega uma leva de cientistas na entrada do parque. Todos com enormes mochilas de materiais de estudo, além de jaquetas grossas para o frio e cinturões de segurança.

- Quem já equipou segue pro oeste! - Ricardo, arqueólogo chefe e líder da expedição grita - Quanto mais rápido, melhor. A equipe de cargas pesadas já chegou??

- Será que nos novos sítios poderemos encontrar espécies endêmicas? - Denira questiona alegre para Hermínia, Especialista em carbonos e amiga de longa data.

- Com certeza, mon amour . - Ela responde sorridente, respirando fundo o ar puro das trilhas entre a floresta verde do vale. - E pelos testes que fiz nas amostras superficiais do sítio, o isolamento é de longa data, pelo menos uns mil anos. Quanto mais fundo, mais antigo será.

- Espero que a pequena bactéria também esteja lá...

- Sua bactéria me assusta, Denira. - Hermínia fita a colega com seus olhos azuis. - Ela controla cérebros, isso é tipo assim, muito macabro!