𝐂𝐚𝐩𝐢𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐: Promessa é Dívida

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... em nome de Jesus. Amém.

Amém – uma voz uníssona ecoa pelas tumbas próximas ao local em que todos os soldados, familiares e amigos se encontravam de pé.

Com a concordância dos presentes, o pastor capelão termina o culto fúnebre.

O Comandante da nossa tropa se aproxima do caixão. Num gesto excepcional e disciplinado, ele abre a bandeira nacional em suas mãos e estende sobre o madeiro. Conforme tradição.

Dava pra perceber em seus olhos que sentiria falta de Fiat. Quem não? Afinal, por mais que tivesse todos seus defeitos, ele nunca seria esquecido. Era um garoto novo que não tinha vontade e jeito nenhum pra ser militar, mas tinha garra. Era audacioso, e isso o fazia um dos melhores soldados. Uma motivação e desafio diário para qualquer Comandante de tropa.

Com o toque de um clarim, dá-se início às honras fúnebres.

Ouve-se os tiros num raio de 2km. Toda ave que estava por perto alçava voo no mesmo instante das rajadas tomarem seus rumos – não, nenhuma ave havia sido ferida durante as honras.

Geralmente esse tipo de velório era realizado apenas para Oficiais-Generais e pessoas importantes com cargos altos. Entretanto, por conta de um grande número de soldados ter enviado solicitação para o gabinete do comando, conseguimos fazer isso acontecer.

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Após as palavras, gestos e despedidas, e todas as devidas cerimônias terem sido executadas, o Comandante Dias volta a se por em frente ao esquife. Ele dobra a bandeira que havia sido estendida outrora e então a entrega nas mãos da mãe do garoto, a qual desabava em choros sem ligar pra qualquer outra coisa a sua volta.

Quando Dias aproximou-se dela teve de se controlar mais do que o normal. Já era horrível o suficiente a sensação de perder um dos seus, imagina o quão difícil seria para uma mãe enterrar o próprio filho – ainda mais quando a ordem natural e esperada é de que os filhos enterrem os pais.

Após os familiares terem se despedido, alguns de nós ainda permanece no local para finalizar o evento. Fizemos questão de dar essa honra para nosso irmão. Até mesmo Estevão estava envolvido.

Depois de mais algumas despedidas individuais, Stev se apoia em mim e sussurra quando os outros já estão um pouco longe:

Nós o encontraremos. Vamos achar quem fez isso com Fiat.

Viro-me para visualizá-lo no mesmo instante.

Não, você precisa ficar no quartel – retruco no mesmo volume para não sair do padrão.

De jeito nenhum, vou ajudar a procurar o responsável por essa tragédia. Você sabe que não pode falar nada que me faça mudar de ideia.

Estevão tinha pavio curto, odiava coisa errada. Se ele encontrasse os responsáveis por isso, com certeza os caras virariam peneira no mesmo instante. Mas ele fazia parte da equipe de Saúde. Não só fazia parte, como comandava uma das mais importantes tropas. Ele treinou pra isso a vida inteira, e eu não deixaria que se metesse nessa encrenca apenas para perder seu posto.

Penso em uma desculpa rápida que fosse compreensível para que ele entendesse.

Nós precisamos de informações de dentro da guarnição – sussurro ao caminhar com ele ao encontro dos demais. – Além disso, você é Comandante de uma das mais importantes equipes médicas do batalhão. E se chegar mais alguém com um tiro na cabeça ou numa maca na Emergência tachado como "acidente de treinamento"? Quem vai comandar a equipe?

– Andreilson. Ele já tá ciente, e venho o treinando pra assumir meu posto quando precisar.

– E quem vai passar as informações precisas? Você, além de ter treinado comigo e Fiat, sabe distinguir exatamente o que houve com um soldado apenas de olhar pros ferimentos. Não precisa nem examinar direito. Vai saber se chegar mais um no mesmo padrão que o nosso irmão, ou até mesmo do Harris.

𝑪𝒂𝒔𝒕𝒍𝒆 𝑬𝒅𝒊𝒕𝒊𝒐𝒏: 𝐈𝐫𝐦𝐚̃𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐀𝐫𝐦𝐚𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora