Frederico abriu um sorriso. Seu uniforme totalmente alinhado, olhos claros reluzentes na luz que vinha do teto de vidro e a beleza do sorriso criavam uma atmosfera de aconchego. Realmente olhar para ele não era nada difícil de fazer, principalmente quando o olhar era retribuído. Andava de um jeito confiante, com a bolsa transversal pendurada em um lado de seu ombro. Os olhos de todos se voltavam a ele. Ninguém discordava de sua beleza.
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Felipe acordou muito mais cedo do que o habitual. Deitado em um chão de textura felpuda, levantou seu corpo apoiando-se em seus cotovelos e olhou o que o rodeava. Via uma grande tela, uma poltrona amarela, Vitoria e Gabriel... "Sala de cinema! Nós dormimos na sala de cinema!".
O garoto levantou-se de supetão, e com a mão direta recolheu os cobertores e com seu pé chutou o corpo de Vitória que estava esparramado no chão de madeira. Gabriel acordou com o berro de Vitória, que nunca tinha xingado tão alto em toda a sua existência.
— Sh! Vai chamar atenção pra cá! – disse Gabriel quase recuperando sua consciência. — Temos que sair rápido, já são oito horas e as aulas começam daqui a pouco.
Vitória abriu os olhos com resistência e ajustou seu pijama com as mãos ainda não alongadas. Levantou, praticamente, dormindo ainda e foi em direção às porta.
— O que estão fazendo aqui? Podem me dizer? — Faliu Alexandre Jandier, Diretor da escola, com todas as palavras alinhadas como seu terno fosco. — Vocês têm permissão para estarem aqui?
Felipe trancou, Vitória manteve a calma e Gabriel se escondeu nas almofadas.
— Já estamos de saída. Vem, Vitória e Gabriel!
— Gabriel? — Disse Alexandre. — O novo aluno? Encontro ele em minha sala. Agora!
Gabriel saiu das almofadas quase que esganando seu novo amigo. "Justo o aluno bolsista iria para a coordenação, só escola de elite para ter esse tipo de injustiça", pensou o garoto.
— Quanto a vocês, veteranos. Suspensão das aulas do dia!
Felipe e vitória saíram derrotados da sala de cinema, e Alexandre seguiu atrás de Gabriel. Os dois desceram a escada de mármore e foram ao segundo andar, onde uma porta de vidro revelava o escritório de Jandier.
— Sabia que conheci sua mãe? Foi há muito tempo atrás, éramos apaixonados e, sinceramente, pensava que a única pessoa com quem iria ser feliz era ela. Jana, um nome bonito, eu diria.
— Aonde quer chegar com isso? — Disse Gabriel enquanto batia seus dedos em um som repetitivo.
— Você é um aluno bolsista. Isto é claro. Sei do seu potencial, tanto que investi no mesmo. Mas espero que não se meta, muito menos em encrencas, pois isso pode, sim, retirar sua bolsa. E também, mais um assunto que queria te falar.
— Diga — Disse o garoto que, desta vez, está mais aliviado.
— Nos contratamos uma psicóloga para Você e o aluno que te encontrou desmaiado. Felipe... Ferraz? Contatamos os pais dos dois e cremos que, após deste momento traumático, vocês consigam ter uma vida letiva mais simples e sem tantas preocupações.
— Muito obrigado, diretor.
— Me chame de Alexandre.
Alexandre atendeu o telefone depois de um som ensurdecedor adentrar à sala. Com poucas palavras finalizou a conversa no aparelho e pôs o mesmo sobre a mesa.
— Não arranje mais problemas, hein! — E riu, com uma risada singela até, diria Gabriel. — E volte para suas aulas, hoje é seu primeiro dia como aluno de verdade!
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O Dia Perdido
Ficção AdolescenteGabriel acabara de chegar em sua nova escola e já havia acontecido milhares de coisas. Tinha feito um amigo, tinha conhecido a escola, tinha agradecido ao diretor pela bolsa e tinha presenciado um assassinato.