Capítulo 2 - Anatomia

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Sua boca estava tampada com uma fita parda, e o teto estava manchado de gotículas avermelhadas. O chão estava coberto de sangue, e a roupa de cama clara e leve se torna pesada e escurecida. Os cabelos ruivos de Bianca estavam molhados com seu próprio sangue, e seus olhos revirados estavam apontando para sua testa, que ensanguentada, deixava o líquido escorrer pelo rosto.

Gabriel nunca se sentiu tão trêmulo, muito menos tão assustado. Com toda força que tinha gritou o nome de Felipe. O corredor estava deserto, sem pessoas e muito menos supervisores. Felipe, que estava quase virando a esquina do passadiço, virou-se e viu o garoto em choque. Em desespero, o rapaz seguiu reto e chegou o mais rápido o possível a enfermaria, que fica no mesmo andar, logo ao lado de onde ficam os dormitórios.

Os dois paramédicos correram em direção ao corredor B e foram surpreendidos com Gabriel no chão, desmaiados. Um deles levou Gabriel à maca na enfermaria, e ooutro seguiu para chegar a situação no quarto de Bianca. O homem de meia idade e de aspecto impecável não pode nem chegar perto de Bianca. Que a garota estava morta ele já sabia, mas por ser uma cena de crime, é proibido a modificação dos objetos e de qualquer material presente no arranjo. O homem levou sua mão ao bolso e tascou seu telefone. O número da polícia foi discado.

— Foi, definitivamente, um assassinato. E um assassinato bem planejado, viu. Precisamos levar o corpo à autópsia. — o homem de aparência sabia disse apontando os dedos para uma estagiária. A moça de óculos se dirigiu aos paramédicos e ordenou a retirada do corpo.

Todos os alunos se concentravam no pátio dos fundos, onde alguns se dividiam entre os bancos do jardim de girassóis,outros se dividiram na quadra de basquete e o resto estava disposto sentado no gramado. Uma dúvida pairava no ar, muitos não faziam a mínima ideia do quão pesado fora a situação.

Felipe estava sentado próximo a grade que demarca o fim do jardim de girassóis e o início da quadra de basquete. Jogado em seus pensamentos, olhou de relance seu lado esquerdo e percebeu um girassol belo, muito belo, e longe de todos os outros. O sol-pôr reluzia suas pétalas cor mostarda e transformava a cor em um majestoso degradê. As raízes da flor eram entrelaçadas na grade de cor acinzentada, o que tornava mais simbólico o momento reflexivo.A imagem de sua mãe veio à cabeça, mas um rosto familiar o tirou do transe pensativo.

— Vitória!? — Exclamou o garoto com animação.

A garota de cabelos ruivos e olhos negros o levantou e em um instante deu um abraço fraterno.

— Meu deus Felipe, como você continua feio! — disse a garota com uma cara de ironia. — Os olhos azuis ajudam né?

— Cale a boca, ruiva. — O rapaz disse antes alavancar uma gargalhada da garota. — Ué, você não ia vir amanhã?

— Eu vinha pra aula amanhã, mas meu pai precisou fazer uma cirurgia no outro lado do país e precisou me deixar aqui antes.

— Sua mãe ainda tá na França?

— Sim, ela só volta mês que vem.

Felipe abriu seu sorriso para que talvez assim, Vitória pudesse estar feliz depois de falar de sua mãe. Ele sabia que sua mãe sempre faltou com atenção em Vitória, era claro como cristal. Mas é difícil entender que a maior cirurgiã pediátrica da América Latina pudesse dar tempo para sua filha. Vitória mudou de assunto.

— Tô sabendo que você apadrinhou alguém! É bonita? Hahaha.

— É um garoto chamado Gabriel.

— É bonito?

— Cala a boca, ruiva.

Os dois caíram na gargalhada de novo. Vitória sentou-se do lado de Felipe e olhou pra escola quieta, e o gramado barulhento.

O Dia PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora