CAPÍTULO 3 - O pacto (conclusão)

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Quando as aulas iniciaram, o menino continuava com o pensamento longe, imaginando as aventuras que teria ao lado de seu novo amigo. Pela primeira vez em muito tempo Max não sentia-se oprimido pelo ambiente da escola. Quando chegou a hora do recreio ele caminhou junto de todas as outras crianças, quebrando um hábito que ele mesmo havia se imposto há tanto tempo. Levou seu sanduíche e sentou-se num banco bem no meio do pátio, sem nenhum medo ou receio. Comeu tranquilamente e ficou ali sentado, sonhando acordado em meio as outras crianças até que o sinal tocou e todos voltaram às aulas.

E o dia no colégio transcorreu surpreendentemente bem. Ao chegar em sua última aula Max já não conseguia conter seu sorriso, que emergia fácil, só de imaginar que iria logo mais encontrar-se com seu amiguinho. E quando a aula finalmente acabou foi um dos primeiros a sair correndo porta a fora e toda a avalanche de crianças veio atrás.

Saiu pelos portões apressado, ora correndo, ora dando passadas largas, chacoalhando seus livros, canetas, lápis e borrachas em sua velha bolsa de couro, que pendurou voltada para trás, para que não atrapalhasse sua ofegante corrida. Foi direto para a rua das Margaridas, virando rápido pela travessa que dava na praça e por fim no bosque. Ele resolveu fazer o mesmo caminho do dia anterior imaginando que pegando a trilha poderia economizar tempo e chegar logo em sua casa.

A descida até a praça foi fácil e Max só diminuiu o passo quando se aproximou do velho Coreto. A antiga construção de madeira estava abandonada ha muito tempo e as tábuas estavam todas soltas ou podres pela ação do tempo. O menino caminhou tranquilo contornando os destroços pois se lembrava muito bem que era justamente atrás deles que se escondia a entrada da trilha.

Mas atrás do Coreto, sentado sobre uma pilha de madeira, estava Betão, o menino mais temido da escola. Max sentiu seu coração parar de bater por um instante. Ele não acreditava no que via. Quando voltou a respirar, seu peito já queimava e sentiu-se zonzo.

Ao ver o menino chegando Betão levantou-se em um estalo e saltou do amontoado de tábuas. Caiu pesadamente e cerrou os punhos num claro sinal de suas intenções. Betão coçou seu volumoso nariz e falou com voz de trovão:

— Eu vi ontem o caminho que você faz para ir pra casa. A partir de hoje você vai me pagar todos os dias.

Max ficou petrificado. As palavras não saíram.

— Quero cinco moedas! — Disse Betão se aproximando ainda mais.

O menino de óculos apalpou os bolsos, mas sabia muito bem que não havia nada lá. Ele respirou fundo e finalmente conseguiu falar:

— Eu não tenho nenhum dinheiro hoje. Aquelas moedas que te dei ontem era tudo o que eu tinha guardado.

Betão não retrucou. Sua resposta veio rápida na forma de um soco que acertou Max bem no peito. Franzino como era, não suportou o golpe e foi arremessado para trás caindo de costas no chão. A alça da bolsa se soltou e os livros se esparramaram todos.

—Você vai me pagar agora! — A voz de Betão estava cheia de raiva.

Maximiliano tossiu e tentou levantar-se, mas seu algoz novamente o golpeou, dessa vez acertando sua têmpora esquerda. O frágil menino rolou para o lado e ficou com o rosto na grama, aturdido com o forte soco. Seu rosto parecia estar em chamas. Abriu ligeiramente os olhos e tudo estava embaçado. Seus óculos haviam voado de seu rosto. Apoiado nos cotovelos ele ainda conseguiu erguer a cabeça a tempo de ver Betão agachado sobre a sua bolsa, revirando todo o conteúdo, provavelmente a procura de algum dinheiro.

Concentrando toda a força que ainda tinha, Max ficou de joelhos e tateou o chão ao redor, encontrando seus óculos. Rapidamente os colocou, respirou fundo, se ergueu e pôs-se a correr o mais rápido que podia em direção a trilha. Mesmo tonto, conseguiu passar com habilidade por entre os arames farpados da cerca e disparou bosque a dentro. Um instante depois, já envolto pela mata, Max ouviu um grito de Betão, praguejando lá atrás, provavelmente por ter se ferido na cerca.

O MagufeWhere stories live. Discover now