Parte 4

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— Ah, eu gostei dele — diz Amélia, dando de ombros e cerrando as unhas, parando ora ou outra para analisá-las

— Ele faz você feliz. É bem nítido — franzo o cenho para Rui, porque, é claro, gosto de estar com Gustavo, mas não é algo nítido como está dizendo

— Não é não! — discordo

— É. É sim! — reafirma Amélia — ontem na piscina vocês estavam só sorrisos, quando fizemos a noite de jogos também. Ele te faz bem e não há nada de errado nisso. Vocês tão saindo não é?

Fico pensativa, porque não é. E não quero manter um segredo assim dos meus dois melhores amigos. Não quero fingir com eles, e me arrependo completamente dessa situação que me meti.

— Na verdade, não — confesso

— Como assim não? — indaga Rui

— Não de não estamos saindo, !

— Mas você disse que...

— É, eu sei! Mas só disse aquilo porque fiquei brava com vocês quando disseram que não arrumaria um namorado nem tão cedo. Eu me estressei e falei que estava saindo com alguém, e me sentiria estúpida demais desmentindo aquilo — digo, sentindo meu orgulho sendo ferido por mil e uma espadas

— E não se sentiu estúpida fazendo toda essa trama ao invés de falar com a gente? — Rui parecia embasbacado com a história que levei longe demais, reviro os olhos como defesa, porque sim, eu me sentia estúpida do mesmo jeito

— Já aconteceu, Ok? Não precisamos mais tocar no assunto

— Mas por um lado foi bom — fala Amélia —, você conheceu ele, e dá pra ver que gostou disso. Deveria chamá-lo para sair — agora a ruiva se concentrava em passar um esmalte nas unhas de uma cor tão forte quanto a de seus cabelos

— Assim do nada?

— E como chamou ele pra essa viagem? — ela me encara com tédio, como se eu tivesse contestando um absurdo — Mandou cartinhas no correio por uma semana para depois chamar ele pra uma viagem com pessoas que ele quase nunca falou na vida? Boa estratégia — ela é sarcástica quando diz

— Maia, só irá chamá-lo para sair. Não é lá grande coisa — Rui desmerece

— Certo! — me rendo, erguendo as mãos — Talvez eu o chame para dar uma volta ou sei lá

— Você quer mesmo sair com ele? — pergunta o moreno

— Sim! — respondo sem precisar pensar muito

— Então tire esse "talvez" da frase — diz Ame

A noite, meus amigos saíram para jantar. Rafa e Rui foram a um restaurante numa cabana aqui perto, abriram uma excessão nesse domingo para o dia dos namorados. Amélia e Connor estão em um jantar super romântico no chalé, ele mesmo preparou tudo para surpreende-la.

Já eu e Gustavo, para ceder a construção alugada ao casal, estamos acampando. Trouxemos dois cobertores e travesseiros para perto do lago, desta vez, não estamos no píer, e sim do outro lado, bem de frente a água, com um dos cobertores forrando o chão, cheio de pedrinhas pontiagudas, e outro por cima de nós, nos mantendo aquecidos, cada tem um um travesseiro. Estamos observando as estrelas agora. Cada um numa própria linha de raciocínio. E daria tudo para saber o que o moreno ao meu lado está pensado.

— Gustavo! — chamo, ele virá a cabeça na minha direção, estando tão perto que posso sentir sua respiração quente no meu rosto

— Que?

— Feliz dia dos namorados! — digo, odiando tê-lo chamado por impulso, sem ter nada programado para dizer, ele dá uma pequena risada

— Feliz dia dos namorados, Maia! — também deseja

— No que estava pensando? — pergunto, não controlando a curiosidade

— Sobre esses dois últimos dias — confessa —, as coisas vão mudar? Quando voltarmos para a escola na segunda feira? Quero dizer, não nos falávamos antes e nem nada e...

— Você quer que não coisas mudem?

— Não

— Eu também não

— Isso é bom — diz —, gosto de conversar com você. E depois de descobrir isso não sei se conseguiria ficar sem suas manias estranhas

— Ei! — reclamo, fingindo está ofendida — Contei aos meus amigos sobre você. Sobre ser mentira estarmos saindo

Há um momento de silêncio entre nós dois. O som da natureza a nossa volta é o único que pode ser ouvido.

— Então fizemos isso pra nada? — indaga

— Não. Pude te conhecer. Conhecer de verdade. Então não foi por nada. Se arrependeu de ter vindo? — pergunto, com um pouco de receio pela resposta

— Não. Nem um pouco — responde e sorrio instantâneamente

Voltamos nossos olhares as estrelas outra vez. E pensando sobre tudo o que Rui e Ame disseram, pensando sobre os dois últimos dias, eu inspiro fundo antes de dar a sugestão, virando minha cabeça em sua direção outra vez, tão próximo quanto antes, se não mais.

— Gustavo, o que acha sobre tornar a minha mentira uma verdade?

— Como assim? — sopra, franzindo o cenho levemente

— Estou tentando chamá-lo para sair — enfim digo, ele sorri largo e me tranquilizo

Não recebo uma resposta instantânea, sinto primeiro o macio dos seus lábios nos meus. Sua mão indo a minha bochecha e escorregando para o meu queixo, segurando-o entre o seu indicador e polegar por um momento antes de ir a minha nuca. Minha mão se apoiou na sua e correspondi ao seu beijo.

— E então? O que me diz? — pergunto, me afastando minimamente, apenas o suficiente para poder falar

— Sairei com você, Maia Fernandez

— Me pegue as oito — digo, com um sorriso tão grande nos lábios que não podia conter

— Legal — diz, trazendo a tona um dos nossos repetitivos diálogos ao longo do nosso final de semana, como se pudesse ser possível, o meu sorriso aumenta, e o dele também

— Legal! — copio

No final das contas, trazer Gustavo comigo nessa viagem foi umas das melhores coisas que eu já fiz na minha vida.

Sinto que esses dois dias ficarão marcados para sempre, e sei que haverá grandes consequências na minha vida.

Boas ou ruins eu não sei.

Mas o dia doze de junho nunca sairá da minha cabeça.

E nem do meu coração.



( 981 palavras )

Dois Dias Para Amar |✓Onde histórias criam vida. Descubra agora