PASSO O NÚMERO ERRADO, MAS REVELO MEU ENDEREÇO

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Estamos no carro dela e estou bêbada, bêbada o suficiente para culpar a bebida por deixar outra pessoa que não seja Alex apertar minha coxa como Karolina está apertando agora. Nossa respiração está ofegante do nosso décimo beijo, estou contando para saber o tamanho do erro que estou cometendo. Ela está olhando no fundo dos meus olhos o que faz meu corpo tremer de maneira constrangedora. Ficamos assim por um bom tempo até que ela me beija novamente dando fim as tremedeiras e acelerando ainda mais meu coração. Nos beijamos por tempo suficiente para que ela se sinta confortável comigo e enfiar sua mão dentro da minha camisa.
"Eu preciso ir", digo sem pensar e agora não tenho como voltar atrás.
"O que?", ela se afasta confusa.
"É, eu preciso ir", repito.
"Ah, tudo bem", ela diz saltando pra parte fronteira do carro e sentando no banco do motorista e faço o mesmo e me sento no do carona. "Eu te levo, só me guiar"
"Okay", digo.
"Okay", ela repete. "Tem papel e caneta no porta-luvas, anota seu número para eu saber se você vai acordar sem ressaca amanhã"
"Okay", digo.
"Okay", ela repete enquanto anoto um número que não é o meu no papel.
Ela dirige por um tempo até que eu peço que ela pare.
"Estamos no meio do nada não tem como aqui ser a sua casa", ela diz. "Fica tranquila não vou aparecer na sua casa do nada, nem outra coisa do tipo"
"Eu sei, só quero conversar", digo.
"Tudo bem, mas sobre o que?", ela estaciona o carro e vira o corpo de lado no banco e eu faço o mesmo para que nos possamos olhar diretamente uma no olho da outra. "Então?"
"Quero saber mais sobre você", digo. "Vamos fazer um jogo de perguntas e respostas"
"Eu começo então", ela diz sem um pingo de animação aparente.
"Pode começar então, Karolina"
"Música favorita?"
"não sei se tenho uma e você?"
"Lucy in the Sky with Diamonds dos Beatles"
"Minha vez", observo. "Você é de onde?"
"Não sou daqui?", ela diz. "Essa é uma resposta valida?"
"Não", realmente não tem validade, não para mim.
"De lugar nenhum, nunca me senti de parte alguma", ela diz. "É o máximo que vai conseguir arrancar de mim", o olhar de triste dela me deixa triste.
"Tá. É... eu sempre morei aqui", minha voz soa tão melancólica quanto à dela.
"Eu acho que não tá funcionando", ela fala enquanto estica a mão em direção o volante para rodar a chave e ligar o carro.
"O que?", digo embora tenha uma idéia da resposta.
"Isso de perguntas e respostas para me enrolar até você conseguir inventar uma desculpa para eu te levar embora", ela diz balançando a cabeça.
"Não tô enrolando, não desse jeito", só quero mais tempo com ela. "Eu nem perguntei dos seus pais, sua família"
"Ok, mas eu tenho que ir e não gosto de falar sobre a minha família", ela faz aspas com as mãos ao dizer família.
"Tá bom", eu coloco minha mão em sua nuca e arranco um beijo e depois relutantemente mostro o caminho até minha casa, fico feliz por ela saber meu endereço quando me lembro do numero aleatório no papel.
O carro corta a cidade até minha casa e passamos o caminho todo em silêncio, todo esse silêncio é constrangedor. Quando ela estaciona vejo Alex nos degraus da calçada e mesmo com Karolina abrindo a boca para dizer algo simplesmente salto do carro agradecendo pela carona, ela sai sem dizer nada assim que bato a porta do carro.

More Than That || deanoruOnde histórias criam vida. Descubra agora