Capítulo 1 : o inicio

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 Tudo se inicia com Kandorh, que está sentando no chão do seu quarto brincando com um carrinho de madeira feito à mão pelo seu pai, o qual por sinal era seu brinquedo favorito dentre tantos, justamente por esse motivo. Ele era um garoto quieto, de negros cabelos desgrenhados, e olhos profundos, porém muito sorridente. Hoje ele irá completar 8 anos.

Sua mãe Melissa entra no quarto dizendo:
- Kan, já está na hora de banhar, meu filho... Seus colegas daqui a pouco vão chegar.
A mãe de Kandorh também tinha belos cabelos pretos, sua pele era branca e macia, e seus olhos tinham um tom castanho.
- Tá mãe, já tô indo! - Respondeu Kandorh sorrindo com a ideia de ter uma festa para o seu aniversário.
Ao começar a se mexer, entretanto, Kandorh percebe uma estranha agitação vindo do seu guarda-roupa. Antes que ele pudesse se levantar, uma criatura bizarra vem voando em sua direção. Era como uma pequena nuvem transparente... mas que possuía olhos e uma pequena boca. Ambos se assustaram e gritaram. Kan, em seu susto, cai para trás, imóvel. Nunca tinha visto algo parecido.
- O-o que você é?! - perguntou Kandorh extremamente surpreso.
- Ei, você pode me ver, humano? - pergunta a criatura com uma voz baixa e sinistra, mas não ameaçadora. - Interessante... Eu acho que nós seremos grandes amigos. Pode me chamar de Iaco.


Depois de passado o susto de Kandorh, os dois ficaram algum tempo conversando ali mesmo no chão, de forma que o garoto sondava tanto a estranha criatura que pouco falava, ao ponto de em sua inocência de criança se esquecer o quão ela era diferente de tudo que havia visto até então, tagarelando pelos dois, e simplesmente passa a tratar o monstro como um de seus amigos. Eles continuam até Melissa chamar Kandorh pedindo ajuda para terminar com seus enfeites da festa. Agora para onde Kandorh ia, Iaco se posicionava logo atrás.
- Me passa a fita, por favor - pede Melissa ajeitando alguns balões coloridos no teto da casa.
- Toma mãe. Ahn, mãe, será que meu pai vai vir mesmo pra minha festa hoje?
- Ele prometeu que viria, talvez até traga alguma surpresa pra você.
- Eu nem acredito que ele irá voltar para casa... - disse Kandorh sorrindo.
- Seu pai anda muito ocupado com o exército, filho - disse a mãe preocupada com a possibilidade do marido não vir e de seu filho se decepcionar. - Ele é um recruta. A fase de treinamento é bem extensa.
- Entendo... Mãe, será que eu posso chamar o Caio e o Silas pra festa?
- Pode sim, meu filho, fique à vontade para chamar quem você quiser! - disse Melissa animando o filho para mudarem logo de assunto. - Agora, cola isso aqui para a mamãe, Kan.
- Aham - balbuciou colando os preparativos no mural. - Ahn, pronto, eu já volto, vou tomar um banho.
Enquanto corria, ele começou a falar com o fantasma que o acompanhava: ''Você ouviu Iaco, o meu pai vai voltar para casa! Faz dois meses que eu não o vejo... Eu estou muito animado!''


Passado as horas, a festa enfim ficou pronta, e aos poucos, amigos e parentes começavam a chegar. Era uma festa linda, da qual se podia escutar o barulho de alegria a quarteirões de distância, com balões, enfeites, comidas, doces e tudo o que há de bom para uma criança.
Kandorh brincava alegremente com seus amigos no quintal, quando escutou um grito da sua mãe vindo da porta de entrada o chamando. ''Eu já volto, pessoal'', disse esbaforido indo checar o que era. Quando chegou à porta, teve uma enorme surpresa: ao lado de sua mãe, estava seu pai. Os olhos do garoto brilharam e ele correu para abraçá-lo.
- Oi, meu filho, parabéns pelo seu dia! Como você está?
- Eu estou bem, senti muito a sua falta pai...
- Eu também senti muito a sua falta, meu filho - disse o pai de Kandorh, George, o abraçando ainda mais. - Mas, olha só o que eu trouxe pra compensar:
Kan, ainda nos braços do pai, olhou pelo canto do olho para a direção que seu pai apontava e viu uma bicicleta o esperando.
- É pra mim?! - Disse super animado não podendo esconder a empolgação.
- É sim, aproveite seu presente.
Naquela noite, todos pareciam felizes, curtindo dos doces e salgados, festejando a harmonia que a família de Kandorh parecia transmitir em um dia tão especial para uma criança, até que um convidado inesperado chegou: o tio de Kandorh.


Scott era seu nome. Ele era uma pessoa totalmente desprezível, viciado em bebidas e cigarro, nunca compareceu em festas ou eventos familiares. Era realmente uma pessoa que não faria a menor falta se um dia simplesmente desaparecesse.
- Melissa, o que ele está fazendo aqui? Você o chamou?! - disse George notavelmente irritado com a presença de Scott.
- Não, eu nem sei como ele ficou sabendo da festa - esbravejou também surpresa.
O pai de Kandorh se dirigiu ferozmente na direção de Scott, seu irmão-problema.
- Ei, Scott!
- E aí, mano, festa bonita hein? - respondeu seu irmão com um tom meio trocista.
- O que que você tá fazendo aqui?! - rosnou George ameaçando empurrar o irmão.
- Ei calma mano, eu apenas vim dar parabéns para o garoto. Eu também sou da família, sabia?
- Olha só para você! Você não se importa com ele. Tá todo desleixado, fedendo...
- Olha, por favor, me deixa ficar, mano, eu vou me comportar, eu juro, e já já eu vou embora.
George, o pai de Kandorh, não querendo causar uma confusão e estragar a festa do seu filho, suspirou e disse:
- Tudo bem. Só não cause problemas, por favor...
- Pode deixar - respondeu de forma vaga seu irmão.
''Crianças, vamos cantar parabéns'', chamava Melissa. Kandorh se dirigiu à mesa do bolo e pegou um banquinho a fim de subir para ficar um pouco mais alto que a mesa de aniversário.
Ele estava muito feliz. Todos estavam ali, o observando. Menos seu tio, ''deve ter ido no banheiro se embreagar'', pensou. Todos cantaram e ele fechou os olhos. Desejou que sua vida sempre fosse assim, feliz, perto das pessoas que ele amava. Então, assoprou as velas.


Quando abriu seus olhos, teve uma surpresa que mudaria sua vida para sempre:


Viu seu tio saindo do banheiro, vomitando no tapete da sala, mas... não era só isso, ao lado de Scott haviam várias criaturas horrendas de tons verde e roxo que se agarravam a ele pelos ombros e costas. Elas soltavam gosma pelo corpo do seu tio, e quando abriam a boca também, fazendo barulhos assustadores. Pareciam estar sugando a energia dele. Kandorh se assustou e caiu do banco. Ele estava em choque.
George foi na direção de Scott, para expulsá-lo da festa. Kandorh olhou ao redor e, apesar do burburinho pela confusão, parecia que absolutamente ninguém mais conseguia ver o que ele enxergava, aqueles monstros de energia ruim se alimentando de seu tio. Nem mesmo o próprio Scott parecia perceber, apenas se mostrava mais deplorável do que antes, fedendo e gemendo enquanto era retirado do local pelo irmão. Mas aquela cena, das criaturas estranhas ao redor de seu tio, nunca iria sair da sua mente.
Mais tarde no seu quarto, encolhido embaixo de suas cobertas, assustado, o menino recorreu a Iaco, o fantasma que o acompanhava desde cedo.
- O que são aquelas coisas, Iaco?! Estavam por todo canto... Me diz! Você sabe, não sabe?
Iaco ficou por alguns instantes em silêncio e respondeu:
- Eram demônios. - disse em um tom pesaroso. - Agora você pode ver tudo, Kandorh. Pode ver o meu mundo. Mas você ainda não viu nada... Se prepare.

Notas Finais
Agradeço a todos que leram, em breve postarei a continuação.

shinikibõWhere stories live. Discover now