2° Por quê:

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QUINZE ANOS

Minha mãe é filha de um casal de homossexuais, mais comumente dito: de gays. O meu nonô Luigi, italiano, se apaixonou perdidamente pelo vovô Leon, peruano. Ambos se conheceram em uma viajem que o nonô  fez ao país do vovô para estudar as flores nativas da América. Segundo o nonô, ele se apaixonou assim que viu o vovô no porto descarregando uma carroça de uvas. Ele se aproximou, se apresentou e pediu que o ajudasse a conhecer um pouco a cidade.

Não tardou para que o vovô Leon demostrase algum interesse no nonô Luigi, que rapidamente percebeu o sinais. Desde então, nonô lhe entregou uma flor diferente para cada dia que ficou no Peru, lhe contando seu significado em uma notinha que sempre acompanhava a flor.

Eles iniciaram o romance duas semanas antes da segunda guerra mundial ter fim, o que foi uma grande vitória para eles já que o nonô, por ser italiano, sofria muitas represálias, e estão juntos até os dias de hoje, o nonô com noventa e um, e o vovô com oitenta e oito. Não foi fácil, afinal era um romance homossexual, mas o vovô me garante com todas suas forças - Que, infelizmente, já não é muita. - que não se arrependeu de nenhum dia se quer que viveu ao lado do nonô. Inclusive eles tem uma safra de vinhos inteirinha, homenageado por um amigo de muitas datas deles, e uma tatuagem, próximo a parte interna do cotovelo, com as inicias deles, L&L.

E, lembrando disto, eu pensei: Porquê não? De deu certo com eles porque não daria comigo? Levantei às cinco da manhã, pulei minha janela, desci dois quarteirão até a casa dos Cabellos e arranquei uma rosa carmin do canteiro que a senhora Sinu cultivava.

Voltei saltitando de felicidade até minha casa e escalei de volta ao meu quarto, porém, minha felicidade se esvaziou no minuto seguinte ao que entrei. Como ela saberia que fui eu? Como ela saberia o que eu queria lhe dizer? Como ela receberia a flor? Ou melhor Como ela saberia que a flor é dela?

Saí do quarto mais uma vez - Desta vez pela porta -, e invadi o quarto dos meus avôs. Achei o livro que procurava em uma caixa no fundo do guarda roupa, o levei para meu quarto, tirei fotos de todas as suas páginas, e o devolvi ao armário dos vovôs.

Anotei em um post-it branco o que esta escrito em uma das paginas e segui até a casa da frente, o colando junto a flor na porta da casa. Desejando imensamente que elas funcionase comigo também.

Para Selena :

Nenhuma outra flor está tão associada ao amor e à paixão quanto a rosa vermelha. No período Vitoriano, quanto mais forte o sentimento, mais escura era a cor da rosa. Assim, uma rosa carmim era a melhor forma para se demonstrar uma grande paixão.Diz-se que uma única rosa vermelha demonstra amor. Duas, um compromisso. Uma dúzia significa gratidão, e cinquenta rosas vermelhas em um buquê querem dizer amor incondicional.

P.S.: Acho que lhe devo mais quarenta e nove.

Durante os dias seguinte foi muito comum eu ouvi a Tia Sinu reclamar por ter um ladrãozinho de rosas, assim como também ouvia os relatos empolgados de Selena e via seus sorrisos quando encontrava cada rosa que eu lhe deixava.

Como não amá-la Onde histórias criam vida. Descubra agora