8° Por que:

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VINTE E OITO ANOS

Eu nunca entendi o por que de minha mãe gostar tanto de ter toda a familia na mesa para jantar a noite. Isso sempre foi ridiculamente irrirtante. Minha avô era da mesma forma. Para ambas, se não estivermos morrendo, não há desculpa válida para não sentar à mesa e jantar olhando para cara de cu de toda sua familia. Eu odiava isso. Por muito tempo não tive a permissão para sai de noite pois eu tinha que estar às sete em casa, na hora em que mamãe colocava a mesa.

Com vovô, era ainda pior, pois além de jantar, você ainda era obrigado a manter uma conversa civilizada com todos os presentes, e, sabe aqueles tios escrotos? Então, não podia mandar eles toma no lugar onde a luz não bate pelas merdas que eles tanto insistiam em falar. Por isso eu sempre passava muita raiva quando mamãe decidia fazer uma viagem em familia para visitar vovô, eu implorava para que ela me deixasse ficar com os Gomez mas o jantar em familia era importante demais para trocar por outras pessoas.

Enfim, o ponto é: A hora do jantar sempre foi um momento importante para minha familia e apenas agora, a milhões de quilômetros longe deles e sem minha linda mãe, eu fui entender o por que.

Em algum momento antes d'eu e Selena começamos a namorar criamos o hábito de passar esse momento juntas, e mesmo que, na época, nossas conversas não fossem saudáveis, quando tinha uma, essa passou a ser minha hora do dia favorito, e Selly me confidenciou a alguns dias que a recíproca sempre foi verdadeira.

Depois de que a pedi em namoro nossa interação antes, durante e depois de comermos se tornou ainda mais constantes. Com o tempo passamos até a cozinhar juntas, como um bom casal clichê de filmes de romance. E, mesmo que eu precise ficar em plantão ou Selena esteja muito atarefada com algum caso urgente, nos nunca deixamos de estar uma com a outra na hora de comer.

Já chegamos até a fazer isso por Skype quando Selena teve que ir até Chicago defender um cliente importate da firma e não conseguiu voltar a tempo para jantar comigo pois as decolagens tinham parado por conta do clima. Com isso, ela foi à um restaurante qualquer do aeroporto, ligou o notebook e comemos juntas através de uma ligação de vídeo. Segundo ela, a comida estava horrível, mas a companhia foi a melhor - Essa última parte eu que acrescentei, sei que ela concorda comigo -.  Obrigado tecnologia por nos permite que isso fosse possível.

Nas vezes em que estou no plantão, ela vem até o hospital com duas vasilhas com comida, eu providencio as bebidas e, então, sentamos em algum lugar calmo por aqui para comer. Já fizemos isso tantas vezes que a recepcionista nem pedi mas o nome de minha mulher, já avisa onde eu estou antes mesmo de Selena encostar no balcão.

Fazemos isso mesmo que estejamos brigadas. Como aconteceu a duas senanas atrás. Selena insistia em seus ciúmes bobo, criando varios momentos tenso entre nos duas. Segundo ela, eu passava muito tempo no hospital, e ela tinha medo de um dia eu deixar de ama-la por ela ter me feito esperar por tanto tempo ou coisa parecida, e decidir troca-la por outra. Esse foi o maior absurdo que eu já ouvi sai da boca dela em todos os quatro anos que estamos juntas. Não superei meu amor por ela nem quando ela me desprezava, imagine agora que ela é tão minha.

Me irritei ao ouvir todas as besteiras que ela falava, por isso decidi adiantar meu inicio de plantão e larguei ela falando sozinha em casa. Lá por volta das nove da noite, quando estou saindo de uma cirurgia, uma enfermeira vem me dizer que ela estava me esperando na recepção e me pedia para não desistir dela. Eu quis correr, rindo igual uma louca, até ela sabe? Fiquei tão feliz por ela ter vindo que quase não me aguentei de tanta felicidade. Atravessei o hospital em tempo recorde e a encontrei sentada em uma cadeira na recepção segurando duas vasilhas no colo. Quando me viu ela sorriu amarelo, levantou os braços mostrando a comida que trazia e erguendo os ombros, fofa. Sinalizei com a cabeça para ela me segui e a levei até um dos dormitórios que tinha lá para os plantonistas. Comemos em silêncio, eu tentando segurar meu sorriso a todo custo e ela suspirando culpada o tempo todo. Ao larga as vasilhas em qualquer lugar do chão, não dei tempo nem dela respirar, a beijei com todo o amor e a felicidade que sentia no momento deixando bem claro que os seus ciúmes não tinham fundamento algum.

Como não amá-la Onde histórias criam vida. Descubra agora