Neve

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Acordei ao som do despertador alto do meu lado,indicando uma da tarde,que por um minuto teve seu som abafado pelos meus pensamentos.

[Droga!Parece que nem dormi,meu corpo dói e está nevando...]

 Arregalei os olhos e desliguei o despertador,sentei na cama e olhei para a janela.

[Ah, tão lindo..]

Levantei rápido,acabei ficando com tontura e não sentia minhas pernas,me debrucei na cama,fechei os olhos e respirei fundo.

[Eu preciso comer algo]

Caminhei lentamente até a cozinha,me segurando nas paredes e móveis. Abri a geladeira e estava praticamente vazia,olhei dentro do armário e só tinha três pacotes de macarrão instantâneo,preparei um e comi.

-Hoje está ótimo para sair..

Me despi,entrei na banheira e fiquei la durante algum tempo pensando no que iria fazer, ja que fazia tempo que não saia. Vesti meu suéter,o sobretudo vermelho vinho da minha mãe,minha calça leggin preta de inverno e minhas botas. Sequei meu cabelo, vesti meu gorro e um cachecol de lã bege do meu pai. Vesti meu óculos e peguei minha carteira junto do meu celular,colocando ambos no bolso do sobretudo.

Eu estava finalmente pisando na neve. Era funda,fria e fofa,o que me fazia sentir pesada.Peguei um punhado nas mãos,moldei em formato de bola e joguei longe. Ver que ela só se desmanchou quando tocou o solo me fez sorrir,era a primeira vez que tinha prestado atenção nisso... nas outras vezes,fazia as bolas numa espécie de piloto automático só para fazer mais que meus pais e jogar neles.

 Decidi ir caminhando para respirar um pouco.

Entrei em uma cafeteria e pedi o expresso mais forte num copo grande,junto a um onigiri.

Sentei na mesa ao lado da janela,onde pude ver pessoas brincando com a neve.

             Eu estava realmente bem.

A garçonete trouxe o meu pedido,agradeci e sorri. E por mais irônico que seja,começou a tocar a musica "Earth, Wind & Fire - September" na cafeteria,o que me fez sorrir ainda mais,de um jeito bobo.

Degustei meu pedido com calma,ja fazia um bom tempo que não comia algo fora. Levantei-me e paguei meu pedido,saindo calmamente do local.

Respirei fundo.

Peguei meu celular e botei a mesma musica novamente,ela me deixava bem,me fazia sorrir.  

Sai andando sem pensar pra onde ir, dançando e cantarolando sem me importar com os olhares de desaprovação das outras pessoas na rua,afinal,ser feliz não é um crime,não é?

Quando a música acabou eu me joguei na neve e comecei a fazer um anjinho,eu ria alto,uma risada sincera,nada forçado,eu estava realmente feliz. 

...

Não é?

[Seu pai continua morto,sua mãe continua doente e a garota continua te odiando mesmo que você a ame com todas as coisas que ela te fez.]

 Eu queria conseguir ignorar aquele pensamento e continuar a ter um momento para me sentir bem,mas não foi o que aconteceu.

Eu me sentei e coloquei a musica novamente, tentando cantarolar ,mas tudo que se podia entender era o balbuciar de palavras que continham no lírico da musica e minha respiração pesada.

Eu queria gritar até minha garganta sangrar, mas não o fiz.

Algumas pessoas vieram até mim perguntando se eu precisava de ajuda e se estava tudo bem, eu aleguei que estava ficando louca e pedi para me levassem a um hospital.

E assim eles o fizeram.

Durante o trajeto não houveram questionamentos ou alguma tentativa de diálogo. Existia só o silêncio, que me abraçava e me confortava o caminho todo, da maneira mais sufocante que se pode imaginar.

Não houve nenhuma tentativa de impedi-lo de me dizer aquelas coisas enquanto se fazia de bom amigo, e me condenava a ouvir as várias formas de me matar, que ele fazia questão de soletrar se fosse necessário. Eu ouvia com atenção cada palavra, já havia escutado aquilo tantas vezes que poderia dizer quantas letras cada palavra obtinha, mas parecia que sempre era uma ideia nova mesmo que dita exatamente como nas outras vezes.

Eu fiquei com medo.

Tranquei a porta do carro rapidamente, com medo de ele me jogar para fora e eu acabar como meu pai...

-Eu não quero morrer...Eu não quero morrer... eu não quero....

Eu sussurrava para mim mesma repetidamente, até que a moça sentada ao meu lado colocou a mão sobre minhas costas, o que me fez sentir um forte arrepio e assim que senti a pressão dos seus dedos em meu agasalho, me esquivei e a encarei. Eu estava apavorada e dava para ver claramente no meu rosto que eu não estava nem um pouco bem.

Mal vi o tempo passar e ja estávamos estacionados em frente a um hospital psiquiátrico.

Destranquei a porta e à abri, saindo do carro rapidamente e agradecendo pela carona, fechei a porta novamente. 

Me voltei para o hospital e com passos rápidos fui até a recepção.

-Por favor me ajude!! Eu tenho tanto medo...Ele me diz coisas horríveis....

                                                                        ......

                                                       Não houve resposta.

Em uma adorável depressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora