Brincar de Casinha

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18 de Junho de 2019,


Eu tenho uma casa.

Bem, não. Não é uma casa, é um apartamento. Apartamentinho. Não entendo de metros quadrados, mas são poucos. E não é de verdade, eu tenho ele em um plano mental de ideias, de desejos ou talvez de objetivos(?). Nem eu sei. Mas ele está lá. Nos meus pensamentos.

As paredes cheias de quadros ou pôsteres ou quem sabe até só aquele negócio de imprimir uma imagem, cobrir de papel contact transparente e enquadrar (economia, fizeram isso e me deram de natal uma vez, era a imagem de um desenho de uma capivara), não importa muito o quê, eu só gosto da ideia de cobrir as paredes com referências a coisas que eu gosto. Talvez umas prateleiras pra exibir meus poucos livros de lazer, há muito, infelizmente abandonados... Não sei dizer por que parei de ler eles ou acoplar novos... Não sei se foi a falta de tempo que desenrolou a falta de maravilha, quem sabe? Mesmo assim, olhar pra eles me lembra de quando eu me maravilhava lendo-os e de que talvez eu possa voltar a ter a mesma sensação um dia. Não é como se eu fosse exibir eles na saleta, que muito provavelmente seria unida com o quarto, para as visitas. Não imagino que eu teria muitas. Mesmo que tivesse.

Com ou sem dinheiro para grandes reformas, todo utensílio que eu pudesse conseguir (ênfase na raiz "útil" do substantivo "utensílio" e no significado do verbo infinitivo "conseguir", porque eu não dou a mínima pra coisas novas, contanto que funcionem - chupa capitalismo) que viessem nas tonalidades de lilás, roxo, lavanda, púrpura, violeta, etc. Não sei exatamente o porquê, mas essas cores me acalmam, pelo que me contam, desde que eu tinha mais ou menos uns 5 anos e mesmo agora eu tenho o máximo possível nessas cores. Olhar pra elas me traz paz. Tenho certeza de que existe alguma explicação psicológica pra isso, eu apenas a desconheço.

Não sei se foi pelas tantas mudanças que fiz em minha história relativamente curta com menos de duas décadas e as tantas quebras que as camas sofreram, tábuas e pés, montagens e desmontagens, só sei que, se a casa for completamente minha, eu dispenso camas. Um colchão em cima duns pallets e voalá (sei lá como fala francês).

Eu ia precisar de uma mesa. Podia ser uma mesinha, mas eu ia precisar dela. Nem pra comer, exatamente, mas pra estudar. Não me interessa quantos anos eu ia ter, o lugar provavelmente ia estar cheio de cadernos e livros espalhados e um notebook. Não posso dizer de certeza absoluta qual área eu quero seguir, muito menos qual emprego eu estaria daqui vinte anos, mas, tenho noção de que provavelmente incluiria trabalhar numa mesa semelhante a um escritório. Incluiria dados e algumas formas de relatório ou algo do tipo. Na verdade, eu preferia continuar estudando eternamente, de alguma forma...

Eu sempre tive esse lugar idealizado.

Não parece muito, mas é, pra mim.

Fui criada pra acreditar em conceitos distintos dos mais comuns socialmente ensinados. Bem, não "fui criada" para isso, mas me criaram desse jeito. Cresci sendo educada para não considerar um parceiro romântico como algo essencial para felicidade ou alguma regra da vida adulta, diferente de um ensino superior completo, que ainda fica no processo de exigências de valores. Fui educada pra lembrar da parte comercializada e idealizada do romantismo, que essa parte simplesmente não importava. Só que aí vai o seguinte: quem me educou desse jeito, estão certos, verdade. É só que eu te conheci e a gente é caseiro junto, introvertido junto, rola um sentimento de fazer lavar a louça ser divertido. Não vou dizer que quero me casar ou viver contigo pra sempre, vou dizer que amo fazer qualquer coisa contigo hoje e o ideal, perfeito e magnifico seria que isso durasse para sempre.

Pois então talvez esse apartamento incluísse pôsteres e imagens enquadradas de referências preferidas por você. Talvez incluísse consoles de vídeo game que eu não tenho a mínima capacidade mental de estratégia ou esse tipo de lógica ou qualquer outra desculpa que me for permitida usar pra dizer que eu não faço ideia de como funcionam, e os dvdsinhos coloridos em exibição pra nós mesmos e os fantasmas das nossas próprias paranoias, únicos a habitar esse lar.

Ah, e, falando nisso... Se a renda permitisse, é claro... Gatos. Um, dois, três, o dinheiro é meu manda-chuva e eu sou a louca dos gatos, dê-me as condições que lhes entrego as bolas de pelo. Ronronantes, dorminhocos, fofos, demonstradores do seu próprio estilo de amor. E de banho. Apesar de eu preferir o clássico pra mim mesma.

Você, uma vez me disse que queria que um deles, o primeiro, fosse chamado "Jubim". Não entendi, mas não ligo. Á vontade.

...

...

...

A questão sobre essa casinha é que ela não existe.

Ela é feita de sonhos, devaneios. 

Sim, talvez ela exista, mas o que te faz acreditar nisso? 

Em 10 anos? 5 anos?

Com ou sem gatos, com ou sem pôsteres, com ou sem amor...  

Eu conseguiria?

E não me venha com motivações sem cabimento, desconhecidas, por favor...

Eu sou tão jovem, mas a pessoa que mais devia ter orgulho de mim reclama diariamente de como eu gasto o tempo de todos ao meu redor sendo inútil, patinando no tempo...

Estou cansada, exausta. Sou fraca.

Eu decepcionei.

Eu não fui quem eu nasci pra ser, porque mesmo hoje em dia as pessoas nascem para ser algo que nem sempre elas podem ser só não existem mais leis constitucionais ditando os casos. 

Eu sou menos...

E me pergunto se jamais farei alguma coisa, serei alguma coisa, terei alguma coisa? Se jamais teria as chaves do apartamento?

Meu amor, perdoe pelo futuro obscuro e pela desesperança. Não é querendo te magoar, é querendo entender, é querendo sobreviver...

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