Pânico

5 0 0
                                    

29 de Maio de 2019

Ontem tive um dos meus piores ataques de ansiedade. Na verdade, o meu pior ataque de pânico. Ou crise, como diz meu psiquiatra. Crise, ataque, episódio, não me importo tanto com a nomenclatura, apesar de ter encontrado e anexado uma explicação pra quem quiser ver.

Repetente pela primeira vez na vida, fui mais uma vez na aula que reprovei – redes – e já é maio, metade do ano que não entendo, não sei o que é pra fazer, eu só me sento em ódio próprio e, ao ouvir da próxima prova, não conseguia mais respirar direito nos cantos daquele laboratório. Minhas mãos já viajavam com atrito forte entre onde meu cabelo acaba – embaixo da nuca – ate em cima dos olhos pra não estragar mais ainda esses óculos quebrados. Não conseguia respirar direito, respirar baixinho, não conseguia não pensar em todo o resto que acontece agora – corte de verbas, outras 16 matérias, outras 15 brigas outros 13 assuntos, 10 remédios, 8 Rivotril –, mas cada caso corria como as páginas de um livro largado no meio de um vendaval.

No meio de tudo isso, meu corpo exigiu berrar.

Estupido, que absurdo, pshiu, para.

Olhei pros meus colegas sem saber o que perguntar ou dizer, ninguém me olhava, eu estava em silêncio aparente. Juntei os materiais, o notebook, o caderno, carregadores e estojo dentro da mochila; não tem por que ficar nesse laboratório que só me faz mal por uma presença que não muda nada. Quando passei por eles, estavam borrados, devia ter alguma coisa nas lentes dos meus óculos.

Passei pelo professor, virei o corredor, meu corpo ainda exigia o mesmo.

Sabe aquelas cenas de filme em que alguém grita em choque, e, pelo efeito dramático, os editores cortam o som do vídeo? 

Bem, eu fiz meu corpo berrar do mesmo jeito que eu faço ele caminhar. Eu senti as ondas sonoras nas minhas cordas vocais, eu senti minha garganta secar e doer, só que eu não senti nada.

E aí eu caí.

De olhos fechados, aproveitei o canto mais próximo, a parede mais próxima, aproveitei o inverno que me fez sair de casa hoje de manhã vestindo casaco e toca e me enrolei nesses todos, em mim mesma enquanto chorava, recusando abrir os olhos por ninguém, sem fazer ideia de quem assistia ou não, de quem pertencia a voz que me chamava pelo nome errado, com empatia no tom e vontade de me ajudar nesse mesmo. Deixei que fizesse, que me ajudasse. Quando parei de sentir os olhares.

O choro secou rápido.


Mais tarde, fui questionada por que gritei

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Mais tarde, fui questionada por que gritei.

Precisei.


PonderoOnde histórias criam vida. Descubra agora