Acordo assustada procurando o celular pela cama. Me sento atordoada, passando as mãos nos olhos. O relógio na tela marca exatamente sete e quarenta e cinco. Me desespero e no impulso pulo para fora da cama. Sacudo Ana tantas vezes que ela desperta com cara de poucos amigos. Congelo um instante, mas volto a ativa rapidamente. Deixo que ela levante por conta própria e começo a correr pela casa apavorada. Entro no banheiro, escovo os dentes bem rápido e vou preparar o café. Vejo Ana no batente da porta parada coçando os olhos com ambas mãos freneticamente. Vou até ela tirando seus punhos do rosto e falo para se aprontar rápido pois estamos mais atrasadas do que poderíamos. Ela desperta rapidamente e se enfia no banheiro. Preparo o café, o deixo na cafeteira e saio para o quarto.
Ligo a luz e quase sinto vontade de voltar para cama. Está frio e os cobertores desarrumados sobre o colchão me chamam para mais uma maratona de sono. Pragejo e viro de costas. Procuro por uma calça social limpa, mas nenhuma das mais novas está ali. Eu precisava me organizar para conseguir lavar as roupas duas vezes por semana, porque estava ficando impossível encontrar algo que ficasse bom em mim que estivesse ao alcance das mãos. Pego um jeans rasgado, que eu não gostava muito de usar para trabalhar, mas era o jeito. Vesti uma camiseta e por cima pus meu casaco mais quente. Assim que Ana reapareceu, pedi que ela pegasse suas botas na sapateira enquanto eu procurava por uma calça para ela por debaixo da do uniforme.
"Vem aqui Ana. Deixa a mamãe te ajudar a se vestir hoje, senão vamos perder o dia todo e não podemos."
Ela assente e trás as botas consigo. De pé puxo a calça de moletom por suas pernas pálidas, e depois coloco seu uniforme. Ela se senta e deixo que coloque a parte de cima sozinha - uma regata, uma cacharrel, a camiseta do Colégio e uma blusa de moletom forrada - enquanto visto suas meias e botas.
Estamos quase prontas, tirando o fato de que preciso pentear ambos cabelos, e pegar meu sapato. Ana pega o pente no banheiro e me acompanha até a cozinha. Me sirvo um pouco de café, e preparo seu lanche. Pego o cereal no armário e o leite na geladeira, despejando ambos num pote de plástico. Ela come apressada entre o tempo que prendo seu cabelo num rabo de cavalo, e tomo o resto do meu café.
Corro para o quarto de novo, pegando minha bolsa, a mochila de Ana e uma sapatilha confortável. De jeito nenhum eu iria correr a cidade toda em cima de um salto fino num jeans rasgado. Ana me bloqueia abruptamente na porta e mexe no bolso frontal da mochila. Fico parada prestando atenção em seu desespero imediato e entendo que te aflige. Ela tira de dentro do bolso uma folha: O desenho com uma estrela dourada no canto superior. O papel está rasgado quase que totalmente, fora o estrago que a água fez.
Fico horrorizada com a situação. Não sei como me portar ao vê-la assustada e agitada querendo chorar.
"Calma querida vamos dar um jeito." Me agacho, passando a mão em seu rosto. "A mamãe vai te ajudar a arrumar."
Eu deveria ter me lembrado de olhar isso no dia da chuva, mas estava tão perdida em pensamentos, e Ana pelo jeito deve ter visto a catástrofe no dia anterior, mas havia esquecido de me contar. Seguro a mão dela já de pé, largo minha bolsa e sapatos no sofá e vamos até a mesa da cozinha. Bato o olho imediatamente sobre o desenho na geladeira e contorno a mesa para pegá-lo. Ana se senta na cadeira e deixa a folha já desenhada em sua frente. Ela segura o desenho rasgado e maltratado com a pior feição possível. Seu semblante emana tristeza.
"Olhe Ana, você pode colorir esse aqui igual ao que está na sua mão, e depois eu colo a estrela no lugar, tudo bem?"
"Mas ai não vamos ter um na geladeira."
"A mamãe vai tirar foto quando você terminar, tudo bem, e ai quando chegarmos em casa mais tarde você pode fazer outro pra gente colocar no lugar."
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Minha decisão
ChickLitQuando algumas perguntas não conseguem ser respondidas, o que você faz? E se a resposta surgir de repente, você a deixa entrar? Desire passou por mal bocados a vida inteira. Criada apenas pela mãe, a garota viveu em meio as dificuldades, problemas e...