- Eva, a madre superiora deseja falar com você.- Diz uma das freiras, me chamando a atenção enquanto estou lendo um livro.
- Irei agora mesmo.- Digo, colocando o livro de lado e caminhando em direção ao quarto da madre superiora.Ao chegar em seus aposentos, a madre superiora estaría com os seus olhos de moribunda abertos, atenta em minha chegada.
- Eva, aproxime-se.- Diz, ao me ver chegar na porta.
- Boa noite, madre superiora... Estranhei que não estivesse dormindo.- Digo.
- Irei dormir bastante no descanso eterno, filha... Mas não posso descansar enquanto não consertar o meu maior pecado, se é que tem conserto.- Diz a madre superiora.
- Do que está falando, madre?- Pergunto confusa.
- O meu maior pecado, foi em aceitar você em troco de uma boa quantia de dinheiro, me perdoe, Eva.- Diz a madre, segurando uma de minhas mãos.
- Me deu uma educação de senhorita distinta, madre... Não tenho no que perdoa-la, meus pais me abandonaram com a senhora porque não queriam uma filha mulher, não fez mal em aceitar o dinheiro que iria ajudar a manter o convento.- Digo.
- O meu maior pecado foi mentir para você, filha... E aceitar participar de um crime por uma boa quantidade em dinheiro.- Diz a madre.
- Seja clara, madre, não estou entendendo.- Digo.
- Irei contar a sua verdadeira história... E espero que saiba o que fazer com essa informação em mãos.- Diz a madre superiora.Era o dia de meu nascimento. Helena Quintas, minha mãe, teria a sua terceira filha, eu, com a ajuda de Gertrudes, a parteira da fazenda. Meu pai e meus dois irmãos me esperavam no corredor e quando ouviram o meu choro, entraram às pressas no quarto para me conhecerem.
- É uma menina! E a menina mais linda que vi em toda a minha vida.- Disse meu pai, com emoção nos olhos.
Nessa mesma noite, dez homens mascarados e armados invadiram a fazenda, matando os feitores e espantando os escravos da casa. Três deles surpreenderam meus pais, que acordaram com o barulho da porta abrindo, e até a mim mesma, que acordei em prantos. Enquanto um rendia o meu pai, colocando uma arma em sua cabeça, o outro rendia a minha mãe, da mesma forma. Eles imploraram que não me levassem, falaram que eles dariam o que quisessem, mas que não fizessem mal aos seus filhos, porém os homens não quiseram acordo e me levaram embora, naquela mesma noite. Fui levada de imediato para as embarcações e lá estaria Fernando, um dos capangas de Erasmo Cabral, o maior inimigo de meu pai. Fernando pagou os meus seqüestradores e eu fui dada a Dolores, uma ama de leite que ficaria comigo até que eu desmamasse. Assim que entramos a bordo, Fernando correu até a fazenda de Erasmo Cabral para contar o ocorrido e poucos minutos depois, chegou o meu pai, Arthur Quintas, acompanhado da polícia.
- Eu sei que você tem a ver com o rapto de minha filha, seu carniceiro desgraçado.- Diz meu pai, quase atacando Erasmo, mas é contido por dois guardas.
- Como se atreve a vim até a minha casa, a essa hora da noite, para me acusar.- Diz Erasmo.
- Você nunca se conformou com o fato de as minhas colheitas de café serem as preferidas, fez isso para desviar a minha atenção e ficar com os lucros maiores.- Diz meu pai.
- Irei relevar a sua acusação, porque é de um pai desesperado, Arthur... Mas saiba que estou fazendo os meus próprios clientes Brasil a fora para as minhas importações de café e não preciso recorrer a um crime monstruoso como o rapto de um bebê para conseguir algo.- Diz Erasmo, fingindo fúria.
- Irei procurar a minha filha até os últimos dias de minha vida e irei encontra-lá... Se eu descobrir que você tem algo a ver com esse sequestro... Você irá sofrer muito, Erasmo.- Diz meu pai.
- Vamos comendador Quintas, iremos mandar milícias hoje mesmo para procurar a sua filha.- Diz um dos guardas, conduzindo o meu pai para fora.- Desde esse dia, o comendador Arthur Quintas usou cada segundo de sua vida para procurar você, Senhor Erasmo Cabral conseguiu tomar a liderança nas vendas de café e enriquecer bastante, como queria.- Diz a madre superiora.
- Erasmo Cabral usou o meu sequestro para desviar a atenção de minha família das plantações de café e para que ele pudesse monopolizar tudo.- Digo, com os olhos em lágrimas, ainda em estado de choque.
- Deixei uma carta para você com a Teresa, lá tem o destino de sua família... Faça o correto com esta informação e espero que me perdoe... Agora sim tenho o coração tranquilo e posso esperar a misericórdia divina.- Diz a madre superiora, por fim, cerrando os seus olhos no descanso profundo.Após uma semana da morte da madre superiora, estaría pronta para partir rumo a minha família, mas antes de tudo, o meu sentimento é de ódio e de vingança.
- O que pretende fazer, Eva?- Pergunta Teresa, minha melhor amiga do convento.
- Irei retornar para o Brasil o mais rápido possível... Mas para isso, preciso seguir um plano.- Digo.
- O que tem em mente?- Pergunta Teresa.
- Passamos quatro meses preparando um vestido impecável para a impiedosa marquesa Olívia Montenegro... Nada mais justo do que eu mesma usar o vestido que foi o fruto de nosso suor.- Digo, olhando para uma carta em minhas mãos.
- O que pretende fazer?- Pergunta Teresa.
- Irei para o Brasil como a marquesa Olívia Montenegro... E para isso, minha amiga, preciso de sua ajuda.- Digo, segurando as mãos de Teresa.
- Só me diz o que tenho que fazer.- Diz Teresa.
- Consegui uma carta de Erasmo Cabral nas coisas da falecida madre superiora e preciso que imite a letra dele, cancelando o casamento de seu filho com a marquesa.- Digo.
- Pode deixar comigo, amiga.- Diz Teresa.Teresa passou a noite inteira tentando imitar a letra de Erasmo Cabral, e quando por fim conseguiu, nos encarregamos que a marquesa Olívia Montenegro a recebesse na manhã seguinte, no qual apareceu algumas horas depois no convento, furiosa.
- Vim cancelar o vestido, não terá mais casamento.- Diz a marquesa.
- O que houve, marquesa?- Pergunta uma das freiras.
- Erasmo Cabral cancelou o meu casamento com seu filho, isso só prova o quanto este povo da colônia não tem palavra.- Diz a marquesa.
- E o que faço com o vestido, marquesa?- Pergunto, disfarçando o sorriso satisfeito em meu rosto.
- Faça o que bem entender! Isso não é de minha conta, só vim avisar e trazer o pagamento, aqui está.- Diz a marquesa, entregando o dinheiro a freira, e retirando-se do recinto.Aquelas palavras de que não haveria o seu casamento com o filho mais velho de Erasmo Cabral foi musica para os meus ouvidos! Secretamente, Teresa e eu comemoramos o acontecido e logo fomos arrumar as nossas coisas para irmos ao Brasil.
Uma das freiras nos levou até o porto, local onde ficavam os barcos. Logo, abençoou a nossa partida e nos deixou adentrar, despedindo-se de longe, assistindo-nos, até que o barco fosse perdido de sua vista.
- Já sabe o que vai fazer quando chegar lá, Eva?- Pergunta Teresa.
- Irei conhecer toda a família, descobrir seus pontos fracos e irei destrui-los como um veneno, pouco a pouco.- Respondo.
- Tome cuidado... Não deixe que o ódio a cegue, Eva... Coloque a razão sempre em primeiro lugar.- Diz Teresa.
- A minha razão e o desejo de justiça andam juntos, Teresa... Saberei o que fazer.- Digo.
- Espero que essa sede de justiça não mude a pessoa que você é, Eva.- Diz Teresa.
- Olivia... A partir de agora sou Olívia Montenegro, a impiedosa marquesa portuguesa.- Digo.
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A Marquesa
Mystery / ThrillerEva é a filha mais nova do fazendeiro mais importante de sua província, e como resultado de uma vingança de seu rival, é raptada ainda recém-nascida, após uma suposta invasão de quilombolas. Ao se interar de sua história, Eva decide voltar para o l...