Seis horas da manhã e os Cabral já estariam reunidos em um desjejum. A cabeceira da mesa estaria Erasmo, o dono e senhor da fazenda. Ao redor, estaria Bernardo, seu filho mais velho, estaria também Alonzo, Gabriel e Ariela, sua filha mais nova.
- Em poucos dias teremos a ilustre presença da marquesa sentada a essa mesa.- Diz Erasmo.
- Em poucos dias teremos um ilustre baile nesta casa.- Diz Ariela.
- Não fantasie, tanto, Ariela, não pense que ficará livre para estar de conversinha com o filho do general.- Diz Bernardo.
- Mas você pode ficar livre para ter suas fantasias com as negras na senzala, não é mesmo, Bernardo?- Diz Ariela, provocando.
- Chega! Não quero saber de discussão na hora do desjejum, já falei que não quero a senhorita de conversa com o filho do general.- Diz Erasmo.
- Qual o problema em que Henrique me faça a corte? Ele é doutor das leis, um homem educado, cavalheiro... Não entendo essa implicância se o general é seu amigo, papai.- Diz Ariela.
- Cale-se, menina insolente! não sabe o que é melhor para você! É uma fedelha de dezesseis anos.- Diz Bernardo irritado.
- Você com menos do que isso obrigava aquelas pobres mulheres a se deitarem com você!- Rebate Ariela.
- " Pobres mulheres" agora virou defensora das escravas? Receio que nem o filho do general e nem qualquer outro homem desposará uma mulher insolente e rebelde desse jeito.- Diz Alonzo.
- Por que nao se preocupa com o seu próprio casamento? Acho que nenhum homem vai querer um genro que fique a sombra de seu pai, como marido da filha.- Diz Ariela.
- Basta!- Diz Erasmo, dando um golpe a mesa.
- Todos os meus filhos, dona Ariela, são doutores da lei e estão preparados para desposarem qualquer mulher, quem não está preparada para um casamento é a senhorita com esta língua afiada, levante-se da mesa e está proibida de sair da fazenda, leve isso como um castigo.- Diz Erasmo.
- Sou castigada por falar verdades... O problema é que as mulheres são tratadas como um objeto, nunca podemos fazer ou falar nada!- Diz Ariela.
- As mulheres existem para procriar e satisfazerem aos maridos... As mulheres não são feitas para pensar, assim como os escravos, e quando tentam... Acaba em tragedia.- Diz Alonzo.
- Tem certeza disso, Alonzo? Garanto que com todo o tempo que passei lendo os livros de leis, sei mais sobre elas do que qualquer um de vocês.- Diz Ariela.
- Garota teimosa! Vai sair da mesa nem que seja arrastada, vamos!- Diz Erasmo, levantando-se bruscamente e levando Ariela pelo braço.Juliana, mucama e melhor amiga de Ariela estaria arrumando o quarto de sua ama, quando a mesma é jogada em cima de sua própria cama.
- Não saia daqui, não quero ver a sua cara hoje, espero que não me desobedeça porque a tempos estou querendo te dar uma surra!- Diz Erasmo, saindo do quarto e batendo à porta atrás de si.
- O que aconteceu, Ariela?- Pergunta Juliana, sentando-se a cama ao lado de sua amiga.
- Como sempre, minha amiga... Como sempre o machismo de minha família, não posso opinar e nem pensar... Mas sabe o que tudo isso me encoraja a fazer?- Diz Ariela.
- Sei... O mesmo que passa a mim... E sei que algum dia, uma descendente minha será livre, e poderá ser uma advogada, que é o meu maior sonho.- Diz Juliana.
- Aposto que você e eu sabemos mais de leis do que qualquer doutorzinho meia boca desses... Então usemos isso como estímulo, e vamos ler! Quem começa, você ou eu?- Diz Ariela, pegando um de seus grossos livros sobre leis.
- Ariela! Fale baixo! Se escutam que sei ler nos meteremos em problemas .- Sussurra Juliana.
- Desculpe, me empolguei tanto que esqueci.- Sussurra Ariela, abrindo o livro entre risadas baixas.Após o café da manhã, Erasmo, Bernardo, Alonzo e Gabriel vão para uma reunião com outros grandes senhores, entre eles Marcelo e Augusto, meus irmãos e Arthur, o meu pai. Todos se juntariam a câmara, local que teria proibida a entrada de mulheres e escravos e que seria o marco de todas as decisões ao favor dos grandes senhores.
- Arthur Quintas... Já tinha tempo que você e seus filhos não vinham a uma reunião da câmara... O que aconteceu de inovador? Achou sua filha perdida?- Diz Erasmo.
- Talvez se você falar o paradeiro de Eva, poderemos encontrá-la.- Diz Marcelo, meu irmão mais velho.
- Está acusando o meu pai sem provas? Quer ser preso agora mesmo?- Diz Alonzo.
- Senhores... Não vamos começar uma confusão, a reunião já vai começar, para que voltar com velhos assuntos?- Diz Erasmo.
- Quando se trata de minha filha, este assunto nunca será velho, Erasmo, e como te disse há 18 anos, não vou desistir de encontrá-la.- Diz Arthur.
- Que lindas palavras, comendador Quintas, me sinto em um conto de fadas.- Diz Alonzo, com deboche.

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A Marquesa
Mystery / ThrillerEva é a filha mais nova do fazendeiro mais importante de sua província, e como resultado de uma vingança de seu rival, é raptada ainda recém-nascida, após uma suposta invasão de quilombolas. Ao se interar de sua história, Eva decide voltar para o l...