INTO.YOU (Gay - Policial)

3 - Noite do boliche pt. 2 (O que você vai querer?)

A cara que William fez quando me viu ao chegar com as meninas teria me feito rir dele uns seis meses atrás, quando eu ainda nutria respeito e um pouco de medo dele. Agora, vendo entre Vanya e Tabitha com o rosto todo avermelhado apenas fico estagnado no meu lugar, tentando entender o que ele está fazendo ali. William, o outro agente mandado para a missão Into. You. O lugar dele não é aqui, numa pista de boliche (muito menos na mesma pista de boliche que eu). O lugar dele é lá no fim de mundo que ele veio quando acabou com a minha vida.

Tabitha e Vanya saltam na minha frente, me arrancando da minha concentração. Tabitha está com o lábio inferior dentro da boca e me olhando com pena. Não consigo entender porque até ela abrir a boca.

- Por favoooooooor, não mata a gente! - diz ela. - Eu esqueci de falar que a gente ia buscar  o William antes. Aliás, esse é o William. William, esse é o Damian. O menino mais estressadinho e sério que você vai conhecer nesse mundo inteiro.

Ele ainda estava me olhando sério antes de Tabitha começar a falar. Quando ela encontra seu olhar, no entanto, ele move a cabeça e abre a fileira de dentes. Falso.

- Oi.

- Damian é legal - diz Vanya como se alguém tivesse perguntando alguma coisa. - E vai pagar um lanche pra você também. Não vai, Damian?

Sei que tenho que falar bem rápido pra ninguém desconfiar de nada, mas não consigo desviar o olhar. Não é uma criação da minha cabeça e nem um sósia incrível de William; é ele mesmo parado na minha frente, com as mãos dentro do casaco parecendo um menino tímido com medo de dizer sua parte no trabalho no meio da sala de aula.

Não sei como consigo, mas consigo falar finalmente. É uma luta constante contra o bolo dentro da minha boca que quer xingar ou jogar uma das bolas na cabeça dele.

- Claro.

- Viu?! Não falei que ele era legal.

Tabitha me chama atenção para me dizer quem é o estranho que elas trouxeram sem me avisar. O tom estimulado dela enquanto me conta tudo faz com que eu tenha um pouco de dó dela. Eu conheço ele, Ta, quase digo. Conheço ele bem até demais.

-...E aí a gente foi até ele e perguntou se ele queria comer sozinho mesmo. Eu sabia que ele não queria, então nem precisei perguntar nada, mas fiz mesmo assim. E mais... A Vanya quer pegar ele.

A boca de Vanya vira um O.

- Eu não quero não! - ela olha William por sobre o ombro. - Ignora ela, ela tem problemas.

- Legal da parte de vocês... Fazer isso - digo. Ao que parece, elas viram William sentado sozinho comendo numa cafeteria e chamaram ele para vir junto. Por mais doido que pareça, não fico surpreso com a atitude delas. Mês passado, quando se conheceram, as duas puxaram assunto com um cara no carnaval apenas porque ele tinha perguntado onde ficava uma rua. - Pode sentar, William. O que você vai querer?

Ele continua me encarando embasbacado e acho que é uma coisa boa para ele. As meninas vão apenas suspeitar que ele está sem graça por que alguém que ele supostamente não conhece está pagando um lanche para ele. É, que menino mais tímido. Nunca nem machucaria uma mosca.

William finalmente fala o pedido e as meninas começam a pressiona-lo para que ele se sente. Eu penso: nem se incomodem, meninas. 

Finalmente ele se senta na minha frente e elas se afastam para ir no banheiro. No começo, não falo nada, apenas encaro a pista de boliche. Está uma noite muito bonita mesmo, com as luzinhas que alguém esqueceu de tirar desde o natal e as famílias envolta umas das outras rindo das tentativas delas de derrubarem todos os pinos. Eles parecem que estão no paraíso, mas bem aqui, na última cabine eu estou no meu inferno particular me segurando para não voar na cara dele.

- Damian.

Não falo nada e nem olho para ele.

- Damian, fala alguma coisa. Eu tô tão chocado quanto você.  Eu nem ia vir nem nada, mas elas insistiram e...

- Você sabia quem elas eram?

Ele não fala nada. Fico imaginando apenas o pior.

- Seu filho da...

- Eu posso explicar.

Vejo pelo canto do meu olhar que as meninas já estão voltando. Provavelmente nem acharam o banheiro ou apenas perderam a vontade. Encaro William com uma expressão falsa de quem está interessado no que ele diz, mas bem baixo, falo:

- É claro que você pode. Mas não aqui e nem agora. Agora você vai ficar quieto. Porque elas tão vindo.