Quando a menina escutando Ariana Grande finalmente saiu da fila, eu consegui pedir duas coca colas, um snickers e dois lanches com cheddar, queijo, carne mal passada e alface.
Tudo isso num jato de vergonha que sempre me abatia sem eu saber porquê.
Se passam trinta minutos até que eu consiga meu pedido e enquanto ele não chega fico divagando em um daqueles refis que saem refrigerante toda hora. Nunca entendi porque as pessoas ainda não estragaram uma coisa tão boa como aquela - é o que elas mais sabem fazer de melhor hoje em dia.
O pedido fica pronto e vou andando até uma mesa reservada por mim, Tabitha e Vanya. As únicas duas pessoas que considero amigas (ou o mais próximo da escala social amigavel que vou conseguir alcançar).
Elas não sabem o que eu faço. Acham que eu trabalho em alguma multinacional séria e privada que ajuda passageiros a acharem suas bagagens perdidas. Não sei onde estava com a cabeça quando inventei aquela. Na verdade sei, sim. Acho que da parte minha que desconfiei delas duas logo de inicio.
Quer dizer, elas não parecem pessoas muito normais pra mim. Sempre achei que mulheres de vinte ou vinte e dois anos se preocupava com aparencia o suficiente pra não pedirem X-cheddars e coca colas. Achei que elas pediriam sucos ou algo bem menos pesado. Mas acho que me equivoquei - como nos ultimos dois meses - a respeito delas de novo.
Vanya é amiga da minha irmã. Elas se conheceram na escola e estudaram juntas até o ensino médio. Quando havia festinhas lá em casa, minha irmã chamava ela e outra renca de meninas. E mesmo que depois de alguns anos, (conforme minha irmã ia crescendo) o número de meninas indo até lá tivesse diminuido, Vanya continuava indo lá em casa sendo íntima dos meus pais e fazendo carinho no nosso cachorro. Não sei se foi fazendo um ou o outro que conversamos pela primeira vez, mas lembro que o assunto era sobre meninos. Ela queria saber se eu gostava de algum em específico recentemente e eu respondi que não e que não tinha tempo pra isso.
Com uma cara de esperta ela parou de coçar a barriga do nosso cão (agora lembrei qual das duas coisas) e me disse:
- Toooodo mundo tem tempo pra isso.
E foi ai que nasceu nossa amizade. Ou mais ou menos isso. Eu estava trabalhando a dois meses para o FBI quando finalmente tivemos uma conversa séria e lembro de pensar se o fato de ela ir lá em casa toda hora (para não dizer toda via) poderia ser algum sinal de sociopatia ainda não diagnosticada.
Tabitha chegou um pouco tempo depois. Foi uma daquelas amizades inocentes que você acaba tendo acidentalnente em um ponto de ôbibus e ele não chega logo e você precisa saber logo se ele realmente passa ali. No caso, eu precisava saber se meu onibus passava naquele ponto. Estava voltando de uma festa/conferencia da empresa e havia ingerido bastante alcool. Os postes de rua estavam todos borrados e toda vez que eu olhava pras minhas mãos, elas pareciam distantes do meu corpo.
Quando me lembrou desse dia, Tabitha disse que minha voz estava uma oitava mais alta que o necessario para conversar com alguém na rua.
- Eu tive que me segurar pra não mandar você calar a boca e parar de gritar, Damian. Nossa, como eu me segurei. Imagina só se eu não tivesse me segurado.
Ah, eu imaginei sim. Fiquei pensando se aquela leve ameaça poderia se tornar algo real mais tarde. Naquele mesmo dia, Tabitha e eu pegamos o mesmo onibus e ela me contou toda a sua história de vida. Desde quando ela sempre morou em Cherryland e teve que morar fora dois anos com o pai, até quando ela voltou e teve que se reajustar de novo.
- Fazia muito sol lá. Eu ia pra praia todo dia.
Depois desse dia, nos encontramos mais duas vezes e desde então tem sido dificil não me imaginar começando meu dia sem Tabitha falando sobre suas aventuras sulistas em um estado tropical e diferente daquele.
Nunca cheguei a apresentar Tabitha a Vanya, mas elas se conhecem. Ao que tudo indica, Cherryland não é só uma bolha cheia de pessoas que usam o poder que têm de maneira errada - também é uma bolha por si só.
Também não influenciei em nada o encontro de hoje. Tudo isso foi estipulado pelas duas. Elas se encontrariam em algum ponto de Cherryland entre o trabalho de Tabitha e a rua da casa de Vanya e de lá viriam até aqui.
Pelo menos esse era o plano. Elas já estavam vinte minutos atrasadas. Quarenta minutos atrás me enviaram uma mensagem com seus devidos pedidos e mesmo que eu tenha que admitir que (com a demora para preparar lanches) aquilo tenha sido uma boa tacada, o tempo delas estava se esgotando em uma ampulheta só vista por mim.
Em seis minutos eu começaria a surtar se elas não chegassem.
Meu pensamento parece que foi o gongo. Olhei para o arco da entrada do boliche naquele momento com mimha cara fechada e vi duas figuras rindo a beça como se tivessem todo o tempo do mundo.
Minha boca formigou pensando na primeira coisa que diria quando elas chegassem perto o suficiente pra me ouvirem. O que é tão engraçado? Ei, vocês acham que o lanche de vocês esfriou? Ah, chegaram as bonitas.
Notei então uma terceira pessoa vindo atrás delas. Era um menino. Ele era alto e vestia uma jaqueta azul com aqueles pelos de animais dentro da toca que eu sempre achei e sempre vou achar a coisa mais desumana do mundo.
Ainda continuei achando a coisa mais desumana do mundo quando eles viraram a pista cheia de outras familias se inclinando e rindo como se não pudessem ter escolhido uma noite melhor e reconheci ele. E aí sim comecei a surtar.
O menino vindo atrás de Tabitha e Vanya era William Primes. O menino com quem passei a primeira noite na Into.You.
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INTO.YOU (Gay - Policial)
AksiDamian é um jovem agente do FBI. Com dezesseis anos, conseguiu altas notas no ensino médio que chamaram a atenção de profiliadores e hoje é um dos mais importantes integrantes da força internacional de Cherryland. Em seu primeiro mês de férias, ele...