03 | Problema?

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- Sabe onde tem um restaurante legal para jantar?

Quase bati minha cabeça no mármore da mesa por causa do susto. Meus batimentos cardíacos aceleraram tanto ao ponto de sentir o pulsar do meu coração em meu corpo inteiro. Ofegante, coloquei as duas mãos no peito tentando me acalmar.

Levantei o olhar já sabendo quem era o dono daquela voz. Minha vontade era ficar abaixada até ele ir embora, mas me levantei apoiando as mãos na borda do balcão. Ele parecia ao ponto de soltar uma gargalhada, mas estava contida.

- O hotel possui uma cozinha, você pode pedir comida em seu próprio quarto. Tem um telefone para isso, inclusive. - falei impaciente. Meu subconsciente repreendeu-me por tratá-lo daquele jeito, ele ainda era um hóspede.

Um hóspede muito mal educado, por sinal. Eu ainda estava esperando um pedido de desculpas pelo susto que dado.

- Sim, eu sei. - reforçou a última frase - Mas quero sair, conhecer a ilha e jantar em algum lugar. - deu de ombros - Você poderia me levar. - sugeriu.

- É estritamente proibido o convívio de funcionários e hóspedes. - cruzei os braços mantendo uma postura defensiva.

- Então eu poderia te contratar como guia turística e você me levava em um restaurante... - arqueou a sobrancelha esquerda. É uma expressão muito bonita, inclusive.

Uma oferta bastante tentadora, sendo sincera.

- Na verdade, não. Sou formada em hotelaria. Poderíamos sair numa trilha arriscada e você poderia cair acidentalmente, é claro, em um dos abismos. - ajeitei minha postura tentando passar mais confiança já que estava mentindo, turismo também era minha formação.

- Sem contar que ainda estou em horário de trabalho. - continuei.

Dando-se por vencido, Sr. Khelan apenas deu de ombros enquanto soltava um riso desacreditado com o meu comportamento difícil e caminhou para a saída do hotel, lançando um último olhar sugestivo para mim. Ele queria que eu fosse então. Em resposta, acenei para ele demonstrando um completo desinteresse.

O que é mentira, já que eu estou totalmente interessada e, de acordo com o relógio em meu pulso, meu horário de trabalho acabava em dez minutos, já que a recepção funciona de 8h às 20h.

Mas, sobre a convivência de hóspedes e funcionários, serve apenas dentro do hotel. Kynthia sempre deixou bem claro que o contato deveria ser totalmente profissional.

- Eu não acredito que não foi com ele, Maria

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- Eu não acredito que não foi com ele, Maria. - Phoebe me repreendeu. Eu apenas escondi meu rosto atrás de uma almofada com estampa de gatinho. Tinha acabado de contar sobre o convite do Sr. Khelan para minha melhor amiga e ela estava desacreditada.

Phoebe e eu nos conhecíamos desde o dia em que coloquei meus pés em Santorini. Nós fizemos a travessia para cá juntas e desde então não desgrudamos. A diferença é que ela vem de longas gerações de moradores da ilha.

Com os recursos que eu tinha, consegui alugar uma casa bem na rua em que ela trabalha. Desde então, Phoebe vive por aqui e fazemos companhia uma à outra. Ela sempre tentava fugir da rotina cansativa do bar em que trabalha, e de sobra, ainda me trazia iogurte grego*.

No ápice de seus vinte anos, Ebe aparentava ter apenas dezessete anos e sua personalidade confirmava isso. Muitas vezes, ela se comportava como uma adolescente e colocava todo mundo em um teste eterno de paciência.

- Mesmo se eu quisesse sair com ele, não poderia, ainda era horário de trabalho, Ebe. - a almofada foi brutalmente tirada de mim. - Ei, que agressividade.

- Você deveria dar mais chances a si mesma, eu vivo te dizendo isso. - reclamou enquanto se jogava ao meu lado na cama.

- Ele me cheira a problema e eu não preciso de mais, é exatamente por isso que eu estou na Grécia.

- Por que a única coisa que você faz é fugir dos seus problemas? - disparou e minha boca se abriu em espanto. - Nem pense em responder, é uma pergunta retórica.

Ai. Doeu.

Emburrada, virei de bruços e escondi meu rosto entre as cobertas. Afinal, Phoebe está certa e é muito difícil ouvir isso em voz alta. É muito comum as pessoas fugirem dos seus problemas porque não querem ter responsabilidades.

Não foi à toa que meu pai fugiu da responsabilidade de me criar: eu fui e continuo sendo um problema.

Aos poucos, Phoebe ia tirando os fios de cabelo que cobriam meu rosto mal-humorado. Se eu não a conhecesse, juraria que a expressão em seu rosto era de arrependimento.

- Eu só quero que você se permita viver um pouco, só isso. - deu de ombros - Sei que foi muito difícil pra você chegar até aqui, mas já passou por tudo o que tinha que passar.

Realmente, no começo, morar em Santorini foi bem difícil. Confesso que já tive medo de morar em um vulcão, levando em consideração que a última erupção ocorreu nos anos cinquenta. Além disso, muitas nativos me olhavam de um jeito nada amigável.

Lembro que um terremoto agitou a ilha nos meus primeiros dias aqui. Eu estava caminhando pela rua quando vi pessoas correndo para dentro de suas casas, totalmente assustadas.

Aquele lugar foi feito especialmente para pessoas insanas e corajosas.

E o tempo passou. E apesar das diferenças culturais, da Espanha para Grécia, eu acabei conhecendo pessoas gentis e boas de coração - Kynthia e Phoebe -.

Até então, minha vida é simples, mas esse lugar não é para qualquer um. Todos que vivem aqui são fruto de uma mistura louca e explosiva: lava, mar, fogo, vento e céu.

I got ninety-nine problems

But you won't be one

Like what!

* iogurte grego não é aquele da Vigor, como alguns de vocês devem conhecer, mas sim o verdadeiro iogurte grego

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* iogurte grego não é aquele da Vigor, como alguns de vocês devem conhecer, mas sim o verdadeiro iogurte grego. Na Grécia ele não é servido apenas como sobremesa, mas também é servido como acompanhamento de pratos salgados.

Me falem, vocês estão gostando?

O que vocês esperam que vai acontecer com Maria e Jason?

Até o próximo!

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