•Londres•

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   O frio do lado de fora,fazia o ar  embaçar quando tocava o vidro do carro, como um cobertor tomando conta das partes transparente do vidro.
   Watari teve que diminuir a pressão no acelerador várias vezes para poder passar um lenço que já estava a postos no banco ao seu lado.
   O jovem pega mais um doce com os finos dedos e mastiga devagar. Levanta a xícara com um chá escuro e adoçado, e toma um gole.
   A imagem da neve caindo devagar sobre o telhado das casas e da rua era refletida nos olhos negros e profundos dele.
   A pele tão branca quanto o gelo lá fora, estava coberta apenas com a fina camisa sem cor habitual e os jens surrados. Um leve tremor faz os cabelos de sua nuca se arrepiarem, e são afastados com mais um gole da bebida quente.
   Há meses que L não voltava a Londres. Não mudou muito desde a última vez, mas ainda era intrigante observar as pessoas todas iguais, com seus escuros sobretudos e os guarda chuvas de cores diversas.
   Em frente ao seu acento na limusine,a mesa dobrável que havia sido posta para ele, estava vazia. Não estava assim a poucos minutos. Os bolos, balas, chocolates, doces finos e robustos, que enfeitavam a toalha desapareceram tão rápido, como se nunca tivessem existido.
   A única coisa que "escapou" de seu apetite voraz, foram os saquinhos de açúcar para o chá. Então sem qualquer hesitação, ele rasga a parte superior, e despeja os cristais sobre a língua, deixando que dissolvam com a saliva.
   Ele olha para a tentativa falha de embrulho no acento a sua frente. Por um momento ele tem vontade de destruir o papel colorido e devorar o conteúdo de alguns.
   "Não!! São presentes!!", pensa consigo mesmo, agarrando as pernas dobradas como um conforto.
    -Estamos quase chegando Lewliet...- o homem fala procurando o jovem pelo retrovisor e o encontrando com o dedão entre os dentes. O leve movimento na mandíbula, mostrava o roer.
   -Eu já sabia, Watari...-sua voz lenta e obstruída pela mania do dedo. L eleva as íris negras sobre as olheiras de panda e cruza o olhar com o homem mais velho- Mas obrigado mesmo assim por avisar.
   O caminho inteiro até o orfanato, estava gravado em seu cérebro brilhante. Cada rua, esquina, os prédios em volta, o tempo que se levava do aeroporto a mansão. Depois de alguns minutos, ele já podia ver os portões de ferro os muros de pedra esculpida.
   Watari pretendia colocar o carro em um lugar mais reservado, para que L pudesse sair, sem causar êxtase nas crianças. Então o homem bigodudo, estaciona a limusine nos fundos da mansão, em umaa vaga escondida. Com um casaco em mão, Watari abre a porta para que o jovem pudesse sair.
  Com as mãos enterradas nos bolsos, e a postura encurvada e encolhida, ele dispensa o agasalho o ignorando. Os cadarços desamarrados do tênis velho, tintilavam no caminho de pedra cobertas por uma finíssima camada de gelo.
   Podiam ouvir as risadas animadas dos pequenos correndo na neve do lado de fora da casa. O mais velho sorri, seguindo L que esboçava o rascunho de um sorriso.  Lembranças pipocando na cabeça de ambos.
   Abrindo a porta, Roger os esperava com um sorriso que se prolonga por seu rosto envelhecido quando os vêem.
   -Seus bem-vindo de volta L... Watari...-ele os recebe e os leva até uma das inúmeras salas da mansão Wammy.
    Um novo banquete de sobremesas, esperava as visitas. Em um prato, o jovem encurvado empilha o máximo que pode e se dirige até uma das poltronas vermelhas aveludada.
   Se acomoda em sua posição fetal favorita e transmite o olhar para ambos os homens que o observavam, para os papéis de parede, o lustre no teto, o carpete fofo no chão.
   Tudo parecia o mesmo.
   Até o cheiro parecia o mesmo.
   -Obrigado Roger, e muito bom estar casa, enfim...-falsa e leva um doce a boca.
    Casa...
    Era um conceito muito relativo para o detetive que passa agora a maior parte de seus dias, habitando em hotéis de luxo por causa de suas investigações pelo mundo.
   Mais o Orfanato Wammy para Jovens Super Dotados, era o marco inicial. Parecia que foi em outra vida, que o pequeno L, de oito anos, ajudou dois detetives a completar uma missão altamente importante.
   A mansão era o lugar onde se transformou no que ele era.
   Casa...
   -Como eles estão Roger ?! -Watari diz colocando os pacotes no carpete, perto a mesa,bonde uma toalha branca rendada, exibia lindos desenhos.
    Roger suspira e pensa por um momento no que dizer a eles.
   -Mello brinca, faz bagunça, desobedece, faz pirraça, como qualquer outra criança. Matt também -ele faz uma pequena pausa- Near prefere ficar sozinho com seus brinquedos...
   L vira a cabeça levemente para a direita. Deixa a louça vazia de lado para ocupar os dentes com a unha.
    Seria normal uma criança pequena ter uma personalidade tão isolada ?!
   Ele se sente hipócrita ao pensar nisso. Lewliet não era o melhor exemplo de pessoa sociável que exista. Mas o fato de Near ser pequeno o preocupava um pouco.
   -E...-Roger volta a falar. Uma mão sobe e desliza sobre os cabelos grisalhos- B.B parece estar um tanto alienado...faz alguns dias que não o vejo...
   O jovem esfrega os dedos dos pés. Pensando. Watari e Roger ficam silencio.
  -Quero me encontrar com eles...Faz tempo. -L diz sério. Ele se levanta e caminha novamente até às goloseimas- Se for possível, e claro...
   A decisão surpreende os mais velhos que cruzam o olhar com as grossas sombrancelhas levantadas.
   -Entregue os presentes para eles...-ele se senta novamente em sua maneira peculiar e engraçada- Estão devidamente assinados, e por favor, seja discreto ao chamá-los aqui!!
   Quando acabou de falar, o prato estava vazio se novo, e uma sensação quente e nostálgica tomava conta dele.
    Casa.

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