Eufemismos

"escreva oque sente"

Eu quero mudar
Eu quero voar
Minha psicóloga mandou eu escrever
Mas realmente não sei oque dizer
Sinto que as paredes são as únicas que me dão ouvidos
E convivo
Com dois pais que não me propõem nenhum estimulo
Estou cansada das promessas para um amanhã
Quando não nos movemos para nada nesse dia
E as promessas vão se alastrando
Como os sentimentos que venho guardando
E eu estava melhor admito
Mas é difícil se manter sã a beira de um precipício
Sentindo que tudo que realizo é um erro
Pois sem vocês eu entro em desespero
Pois sinto que estou sempre a ser manipulada
A cada passo sendo vigiada
E cada decisão que tomo olho pra trás
Olhando em olhos que parecem me atravessar meu ser
Querendo oque não posso ser
Me sinto culpada por apenas existir
E definitivamente não queria estar aqui
Não quero entrar novamente nessa rotina
E entro em desespero sozinha
Vocês proclamam que querem me ajudar
Mas nada fazem pra também mudar
Vocês não conseguem ver
Que o ciclo se repete?
Vocês não podem entender
Que não há filha que aguente?
Minha irresponsabilidade é
Tentar cuidar de algo que não é meu
Atrapalhando tudo
É isso oque sempre aconteceu
Estou cansada de desculpas já usadas
Estou cansada de mentiras veladas
Estou cansada de sentir que tenho que provar meu valor
Estou cansada de sentir esse ardor
A quanto tempo perco meus cabelos por vocês?
A quanto tempo evitei dizer algo para evitar lágrimas em seus rostos?
A quanto tempo consigo manter as cortinas levantadas
Até que o segundo ato acontecer?
Minhas pétalas caem murchas pelo chão
E quando tento juntar-las o vento as leva de minhas mãos
Não aguento mais essa pressão
E o pior é que toda vez que suplico
Vocês negam participação
E eu acredito com medo no coração
Pois duvido de mim e até dá razão
Pois amo vocês de coração
Mas é errado eu sei
Cuidar de algo em que não me alistei
Tentando ser um modelo de uma filha perfeita
E sentindo não conseguir fazer nem uma linha
Nesse poema

Eu fico estagnada
Mas quando quero agir
Sou parada

Quando procuro conforto
Da porta sou jogada

Quando estou confusa
Vocês me mandam decidir

E quando estou com certeza
Vocês isso querem destruir

Para mim é muito fácil
Pegar um ônibus
Falar com o mundo todo
Essa independência é cativa
A verdade que sou ainda muito submissa

Minha psicóloga fala que não posso mudar vocês
Mas fala para eu falar outra vez
Me pergunto oque mudaria isto
Se tudo oque faço já foi visto
Uma maratona de episódios repetidos

Eu sinto a atmosfera pesar
E cada mínima coisa me afetar
Comentários sarcásticos ou me julgando
"Oque é isso que você está usando?"
E me sinto como um atlas
Segurando o mundo inteiro
Enquanto puxo meus cabelos
"Mas você está usando a touca?"
"Você nunca faz as coisas"

Magra ou gorda
Extressada ou atoa
Aline ou uma filha boa?

Me olho no expelho e em mim vejo um reflexo do meu dna
Vejo algo que não quero me tornar
E é impossível presa eu melhorar
Mas como faço para eles me escutar
Estou acostumada a sempre só aceitar
Como faço para esse poema parar?

Eu comecei a odiar coisas que ja amei
Coisas das quais nunca me importei
Agora dominam meus pensamentos
É isso oque é crescer
Apenas queria ser algo pra vocês
Mas também quero ser algo para mim
E isso me prende
Me deixa imprudente
Eu explodo eu brigo eu xingo
Enquanto não consigo pedir ajuda
Enquanto não consigo fazer vocês entender
Oque preciso fazer
Pra ser gente que nem você?

Não quero mais ficar doente
E tento com todas as minhas forças
Mas nunca é suficiente
E ainda tenho que engolir
"Você só consegue fazer se você se esforçar aline"

Acho que vou agora dormir
Talvez para realmente não desistir
Pois preciso de um tempo
Para assimilar tudo isso aqui
Tudo que já escrevi
Tudo oque já vivi
E de fato me sinto uma ingrata
Pois nada faz sentido
Nada mas nada
E a nostalgia é de momentos
Nos quais eu nem sabia oque estava guardando por dentro.