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2019 | Wattpad
Seven Bloom

2019 | Wattpad Seven Bloom

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— Eu vou lá falar com ele.

Declarou Aspen inquieta a minha frente, seus olhos azuis pareciam um pouco mais escuros do que o normal, ela estava com aquele olhar de predadora, ela sabia que a lei do "querer é poder" se aplicava perfeitamente ao seu caso.

— Vai falar com quem? — Soren pergunta se aproximando da nossa mesa e se jogando ao meu lado, o que quase me faz borrar o desenho.

— Soren! — resmungo irritadiça, na verdade eu não estava irritada com ele, mas sim com a situação em que Aspen queria se meter, era um pouco estúpido da sua parte, seu ex namorado estava na mesa e ela estava prestes a ir flertar com um garoto que o acompanhava.

— Com o Longwell — responde com simplicidade, o nome saindo de sua boca com certa intimidade, como se fossem velhos amigos.

— E quem é ? — ele pergunta entediado, Aspen aponta com o queixo em direção aos garotos.

Soren vira o corpo a procura de Jesse, ele encara a mesa dos Sweepers por um tempo e solta uma gargalhada se virando para nós novamente.

— Não acha que o Sullivan vai arranjar confusão? — pergunta o loiro e por um segundo sinto vontade de abraçá-lo por parecer o mais sensato dali. — Além do mais, Jesse é muita areia para o seu caminhãozinho — completa e preciso me segurar para não rir o que não acontece com Heather, que solta uma gargalhada descarada.

Soren era assim, sincero e as vezes até mesmo inconveniente, sempre com uma resposta pronta na ponta da língua, mas sem dúvidas um amigo incrível, as vezes quando eu pensava que incomodaria Aspen com meus problemas, eu ligava para Soren, que sempre esteve ao meu lado, me dando apoio e até mesmo conselhos.

A garota semicerra os olhos e balança a cabeça para Soren, mas algo chama a sua atenção e sua expressão transparece um pouco de nervosismo, como se algo grande estivesse prestes a acontecer. É então que Jesse apoia uma das mãos na mesa, ao meu lado, enquanto que a outra pousa no encosto do sofá, atrás da minha cabeça e se eu não o tivesse visto entrando, e por consequência visto a jaqueta de couro que usava, jamais saberia ser ele, pois não ouso erguer meu olhar.

— Eaí primo — ele troca um soquinho em cumprimento com Soren e posso ver o queixo de Aspen cair nesse momento, enquanto eu me preocupo em fechar meu caderno, não que ele fosse se interessar em ver o que eu estava fazendo, mas a ideia de um estranho ver meu desenho me causava dor de barriga.

— Ta escondendo o que aí? — ouço-o perguntar e quase congelo quando percebo que a pergunta havia se dirigido a mim, finalmente o encaro, os olhos azuis penetram os meus castanhos esverdeados e acabo por arquear a sobrancelha, sua voz soa intimidadora, mas por alguma razão isso não combina com ele.

— Acho que se fosse para você saber, eu não teria fechado o caderno, não acha? — respondo em tom tranquilo, não queria soar grossa, mas ele certamente não deveria ser tão intrometido.

O garoto ergue o olhar, agora encarando Aspen e quase posso presenciar os cantos da sua boca lutarem para não se curvarem para cima, ele solta uma piscadela e finalmente se afasta, volto meu olhar à minha amiga, que agora parecia hipnotizada, reviro os olhos e guardo o caderno.

— Anda — chamo Soren — Vamos nos inscrever no karaokê.

— Mas eu pensei que você ia cantar comigo — Aspen faz muxoxo, ela não está mais vidrada em observar as costas largas do moreno que acabará de flertar com ela. — E o que foi isso? — pergunta cética, como se voltasse a realidade. — "Se fosse pra você saber, eu não teria fechado o caderno" — ela cita a minha fala.

Dou de ombros ignorando sua pergunta.

— Bom, já que está tão interessada no novato, eu pensei que iria chama-lo para cantar com você — sorrio para ela.

— Ótima ideia Nia — ela abre um sorriso largo e se levantando. — É por isso que você é o meu anjo.

— É, eu sei — digo como se estivesse entediada, mas acabamos por soltar uma gargalhada juntas.

— Vocês duas são tão gays — Heather resmunga revirando os olhos, o que só faz aumentar as gargalhadas.

𖥸

O relógio marca exatamente 3:40 no relógio, meus olhos estão ardendo, mas é uma ardência boa, da qual eu já me acostumei, ligo o computador que parece demorar uma eternidade para carregar, no meio do processo acabo desistindo e puxo a sua tomada, eu sei, é errado fazer isso, pode queimar a máquina, mas a minha ansiedade parece querer transbordar, o tédio está quase me consumindo. Pego a guitarra no canto do quarto e pondero se devo liga-la ou não, por fim resolvo respeitar o sono dos meus pais, o som é quase um acústico, apesar de existir algo metalizado no fundo, começo a tocar "blue" de Troye Sivan, a letra escapa de meus lábios com facilidade e fecho os olhos tentando fazer com que a música me leve, leve como uma pena, fluída, não é o que acontece.

— Chega — resmungo para mim mesma, soa quase como uma advertência, o que você está fazendo Nia, quero gritar comigo mesma.

Largo a guitarra e abro a porta do meu closet. Pego uma calça de ginástica a vestindo, calço os tênis e empurro a janela do meu quarto, o vento gelado daquela noite bate em meu rosto quente, o contraste é gostoso, mordo o lábio analisando a altura da janela até o chão, eu estava no segundo andar, o que quer dizer que seria uma queda feia. Passo a primeira perna, nesse momento a adrenalina atravessa o meu corpo, a sensação é quase como a de uma droga correndo em minhas veias, se eu fizesse qualquer ruido meus pais poderiam facilmente acordar e sei que não gostariam nada de me ver fazendo aquilo.

Minha mão está tremula e suada, mas consigo me esticar e agarrar o galho da velha árvore em frente ao meu quarto, passo a outra perna e estico os pés até o tronco robusto, puxo o corpo e estou nela, a parte difícil, tinha terminado, durante a infância escalei tantas vezes aquela árvore que é quase como uma brincadeira descer dela. Encaro a casa, como se esperasse que uma luz acendesse e minha mãe saísse brava pela porta, consigo a ouvir brigando comigo, mas como nada disso acontece, eu começo a correr.

A rua estava completamente vazia, era iluminada pela lua e pelos postes de luz que haviam pelo caminho, começo com uma corrida lenta, vou acelerando o passo e corro em potencia máxima, corro como se minha vida dependesse disso e depende, a medida que corro e o vento bate nos meus cabelo bagunçando-os sinto minha pele pinicar, mas ignoro a sensação. Porque tudo o que eu preciso fazer é correr.

Não sei se sou capaz, mas eu tento correr ainda mais rápido, assim que atravesso a pequena ponte que levava ao parque central da cidade, meus pulmões queimam, minhas pernas parecem querer ceder, mas eu ignoro, ignoro tudo no meu corpo que me manda parar, porque minha cabeça me manda ir. E quando minha cabeça fala, eu obedeço.

One Million PiecesOnde histórias criam vida. Descubra agora