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2021 | Wattpad
Seven Bloom

Analiso bem as olheiras em meu rosto, faziam logos minutos que eu estava em frente ao espelho me encarando, poderia fazer isso o dia inteiro, e criar inúmeras teorias na cabeça, como por exemplo: será que o espelho nada mais era do que um portal p...

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Analiso bem as olheiras em meu rosto, faziam logos minutos que eu estava em frente ao espelho me encarando, poderia fazer isso o dia inteiro, e criar inúmeras teorias na cabeça, como por exemplo: será que o espelho nada mais era do que um portal para uma outra dimensão, talvez a Nia que eu encarava no espelho, não fosse a mesma Nia dessa dimensão, talvez fosse uma outra Nia, e talvez fizessemos absolutamente tudo sincronizado, exatamente como o espelho nos mostrava. Faziam dois dias que eu mal dormia, sabia que meu corpo estava em um estado de mania, mais uma das muitas crise das quais já estava acostumada a lidar, mas se contasse a mamãe ela me faria tomar os remédios, o fato era que eu os odiava, odiava pois me deixavam grogue e exausta. Na maioria das vezes eu nem mesmo sentia que era eu mesma, isso me frustrava. Por fim, decido passar um corretivo na região, ele disfarçaria as bolsas roxas embaixo dos olhos e ninguém me faria perguntas.

Assim que desço as escadas sinto o cheirinho de café da manhã, meus pais haviam acordado a duas horas, eu sabia disso pois os ouvi levantando, era sábado, então, nada de trabalho para eles, e como eu estava de férias da escola podia acordar mais tarde, não que eu tivesse conseguido dormir, afinal, tinha coisas mais importantes para fazer, durante a madrugada, consegui escrever uma música, fiz alguns rascunhos de desenhos que jamais terminaria, já que sabia que se pintasse ficaria manchada de tinta e mamãe desconfiaria, retirei todas as fotos da minha parede para poder reorganiza-las depois, arrumei meu closet e limpei a pia do meu banheiro, organizando os cosméticos e os produtos de cabelo.

— Vou ao centro comprar tinta! — digo enfiando um waffle na boca, e mamãe me lança seu olhar de reprovação por comer tão rapidamente.

— Precisa de carona? — meu pai pergunta da onde está sentado, ele lia o jornal, como fazia todo santo dia, enquanto tomava uma enorme xícara de café puro e sem açúcar, eu viraria uma pilha de nervos se tomasse o tanto de café que meu pai costuma tomar, sinto um leve tremor nas mãos só de imaginar.

— Não, eu vou de bicicleta — explico de boca cheia.

— Suas tintas já acabaram? — minha mãe pergunta enquanto colocava massa na máquina de waffle.

— Vou comprar tinta de parede mãe! — digo em quase tom de suplica enquanto vestia o casaco jeans e colocava o meu gorro amarelo mostarda de sempre sob a cabeça.

Ela arqueia as sobrancelhas, mas não lhe dou tempo para mais perguntas, adentro a garagem e tiro a minha bicicleta de lá, o dia estava nublado e úmido, dava até mesmo para ver as gotículas de água se condensando no ar, então visto a minha capa de chuva para não chegar ensopada na ferragem.

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— Tudo deu... — Soren olha a tela do computador — $9,75 — ele me encara, Soren costumava ajudar na ferragem do pai durante as férias, ele estava economizando para trocar de carro.

Tiro as notas completamente emboladas do bolso e apoio sobre a bancada, separando o valor exato a ser pago.

— Então — o garoto olha para os lados para verificar se estávamos a sós, e então se estica por cima do balcão — Você está em um daqueles...

— Não! — sussurro alto antes que ele termine — Por Deus Soren, eu estou bem, só não tenho nada mais interessante para fazer, então decidi mudar a decoração do meu quarto! — explico.

Ele não parece cair na minha desculpa, já que a desconfiança estava implantada em seus belos olhos de gato azuis. Era inevitável, entre todos os meus amigos, Adans era o que mais me conhecia, o que mais sabia lidar com a minha doença, então ele não tenta me contradizer, apenas balança a cabeça em concordância e recolhe o dinheiro do balcão.

— Valeu! — mando um beijo sobre o ar para ele e quando me viro para sair bato em algo maior do que eu, o cambalear para trás quase me derruba, como um tomate podre — Mil perdões eu...

Minhas palavras se perdem quando meus olhos pousam na minha vítima de atropelamento.

— Deveria ter mais cuidado por onde anda, ou vai acabar se machucando — o garoto estica o dedo mindinho e retira para o lado, com cautela, uma mecha de cabelo que caíra em meu rosto.

Assim que entendo o que está acontecendo dou um passo para trás me afastando, coloco novamente a touca e o encaro para saber que não pode me intimidar. Garotos como Jesse Longwell podiam jogar esse charme e atingir a garota que bem quisessem, mas não a mim.

— Que seja! — respondo torcendo o nariz, passo por ele e vou em direção a minha bicicleta que estava em frente a loja.

— Qual é o seu problema comigo? — ele pergunta vindo logo atrás.

Jogo as minhas compras na cestinha da bicicleta e me agacho para abrir o cadeado que prendia a mesma a placa de pare.

— Com você? — encaro garoto — Nenhum! — respondo em tom de desinteresse, enrolando a corrente no quadro da bicicleta fechando o cadeado e subindo na mesma.

— Então por que age assim? — ele questiona, as íris alternando a direção em que olhavam, como se ele me analisasse.

— Sabe o que é? — sua atenção estava completamente voltada para mim — Eu tenho muita coisa para fazer!

Ele abre a boca para dizer algo, mas nada sai, então dou a primeira pedalada deixando-o para trás.

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O cheiro de tinta invadia cada milímetro do meu quarto, e talvez escolher logo aquele dia para mudar o tom da parede não fora uma decisão muito inteligente, o ideal seria esperar o sol aparecer, não que nós, reles moradores de Ocean Shores, tivéssemos o ar da sua graça sempre, eram poucos dias do ano em que a cidade não estivesse completamente submersa a ondas e mais ondas de nuvens, isso quando a neblina não resolvia tapar toda a visão das ruas.

Aspen aparece como um furacão passando pela janela do meu quarto, e logo faz uma careta de desgosto ao ver toda a bagunça que eu havia feito, a cama estava fora do seu lugar padrão e talvez continuasse por lá, jornais adornavam o piso e minha cara provavelmente estava cheia de respingos de tinta, assim como a mão que eu usava para manusear o pincel.

— Pelos céus, aconteceu uma revolução aqui e eu não fiquei sabendo? — ela diz alarmada.

— Uma revolução não, mas irá se você não pegar aquele pincel ali e começar a me ajudar agora! — digo em tom autoritário.

Aspen abre um sorriso ladino e obedece, pegando o pincel e começando a me ajudar.

— Então, o que pretende fazer com essa parede? — ela quer saber.

— Estou em dúvida, entre um grafite bem moderno, pensei em fazer uma garota, com o rosto angelical, e depois trazer o meu mini jardim para colocar nos cabelos, não para cobrir tudo, apenas algumas partes, ou desenhar umas flores geométricas.

— Eu gosto da garota! — ela responde pincelando o canto inferior da parede, próximo ao rodapé.

— Também gosto!

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⏰ Última atualização: Jan 14, 2021 ⏰

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