Quarta lição

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Investimento externo
Pág. 61-76
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A inflação

Se a oferta  de caviar  fosse  tão  abundante quanto a  de batatas,  o preço  do caviar  – isto é, a  relação  de troca  entre caviar  e dinheiro, ou entre caviar  e  outras mercadorias – se alteraria  consideravelmente.  Nesse  caso,  seria  possível  adquiri-lo a  um preço  muito menor  que o exigido hoje.  Da mesma maneira, se a quantidade de dinheiro aumenta, o  poder de compra da  unidade monetária  diminui,  e a quantidade de bens que pode ser adquirida  com uma unidade desse dinheiro também se reduz.

Quando, no século XVI, as reservas de  ouro e prata da América foram descobertas  e exploradas,  enormes quantidades desses metais preciosos foram transportadas para a  Europa.  A consequência desse aumento da  quantidade de  moeda  foi  uma tendência  geral  à elevação  dos preços.   Do  mesmo modo, quando, em nossos dias, um governo aumenta a quantidade de  papel-moeda,  a consequência é a queda progressiva do poder de compra da unidade monetária e a correspondente elevação  dos preços.  A isso se chama de  inflação.  Infelizmente,  nos  Estados Unidos, bem como em outros países, alguns preferem ver a causa da inflação  não no aumento da quantidade de dinheiro, mas na elevação dos preços.

Entretanto, nunca se apresentou qualquer contestação séria à interpretação  econômica  da  relação  entre os preços  e a quantidade de dinheiro, ou da relação  de troca entre a moeda e outros bens, mercadorias e serviços.  Nas condições  tecnológicas  atuais, nada é mais fácil que fabricar pedaços de papel e imprimir  sobre eles determinados valores  monetários.  Nos  Estados Unidos, onde todas as notas têm o mesmo tamanho, imprimir  uma nota de mil dólares (p. 61 termina aqui) 
não  custa mais ao  governo que imprimir  uma de um dólar.  Tratase exclusivamente de um processo de impressão, a exigir, nos dois casos, idênticas quantidades de papel e de tinta.

No século XVIII, quando se fizeram as primeiras tentativas de emitir cédulas bancárias e atribuir-lhes a qualidade de  moeda corrente – isto é, o direito de serem honradas em transações de  troca do  mesmo  modo  que  as  moedas  de  ouro  e  prata  –,  os governos e as nações acreditavam que os banqueiros detinham algum conhecimento secreto que lhes permitia produzir  riqueza a partir do nada.  Quando os governos do século XVIII se viam em dificuldades financeiras, julgavam ser suficiente, para delas se  livrarem,  entregar  a  um  banqueiro  engenhoso  a  condução  de sua administração financeira.  Alguns anos antes da  Revolução Francesa, quando a realeza da  França atravessava problemas financeiros, o  rei da França procurou um desses banqueiros engenhosos e nomeou-o para uma função importante.  Esse homem era, sob todos os aspectos, o oposto das pessoas que vinham regendo  a  nação  até  aquele  momento.    Para  começar,  não  era  francês, era um estrangeiro – um genovês.  Em segundo lugar, não pertencia à  aristocracia, era um simples plebeu.  E, o que contava mais ainda na França do século XVIII, não era católico, e sim protestante.  E assim  Monsieur  Necker, pai da famosa Madame de Staël, tornou-se o ministro das finanças, e todos esperavam que resolvesse os problemas financeiros do país.  Mas, a despeito do elevado grau de confiança desfrutado por  Monsieur  Necker, os cofres reais permaneceram vazios.  O grande erro de Decker consistiu na tentativa de prestar auxílio financeiro aos colonos da América em sua guerra de independência contra a  Inglaterra sem elevar os  impostos.   Aquela era certamente uma maneira errada de procurar resolver os problemas financeiros da França.

Não há nenhuma maneira secreta para a  solução dos problemas financeiros de um governo: Se deseja fazer algo benéfico – construir um hospital, por exemplo –, o meio de que o governo dispõe para arrecadar o dinheiro necessário é cobrar  tributos dos cidadãos e construir o hospital com a receita assim constituída.  Nesse caso, não ocorrerá nenhuma “revolução dos preços”, porque, quando o  governo arrecada dinheiro para a construção (p. 62) do hospital, os cidadãos – onerados por esse tributo adicional – são obrigados a reduzir seus gastos.   O  contribuinte individual é forçado  a  reduzir ou o  seu  consumo, ou os  seus investimentos, ou a sua  poupança.  Quando se apresenta no  mercado como um comprador, o governo  substitui  o  cidadão: este passa a comprar menos.  Mas isto se dá porque o governo está comprando mais.  Evidentemente, o governo não compra exatamente os mesmos bens que os cidadãos comprariam; em média, no entanto, não se verifica nenhuma elevação de preços em decorrência da construção do hospital pelo governo.

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