Prólogo

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Ainda segurava o cabo da adaga com as duas mãos.

Sabia que tudo não demorou sequer dois segundos para acontecer, mas para ele pareceu uma eternidade, a dor que sentiu somente foi menor que o remorso que o corroía de dentro para fora, como uma doença que se alastrava pelo seu corpo.

Engoliu em seco encarando seus olhos assim que levantou a cabeça, seu rosto estava desfigurado em uma máscara de dor, suas mãos envoltas no líquido vermelho que escorria de seu peito, como se fossem luvas.

E mesmo assim, apesar de tudo, seus olhos quando o encararam não demonstravam raiva, não demonstravam ódio, eles pareciam arrependidos, como se tudo tivesse sido sua a culpa, como se dissesse que sentia muito e que iria ficar tudo bem.

Mas ele sabia que não.

Era apenas o começo.

Por que você não pode simplesmente me odiar!

O fato de não o odiar somente tornava tudo mais difícil, ainda não queria matá-la, antes tinha que descobrir como ela o havia feito existir em sua nova realidade, mas agora era tarde e já cometera o erro, olhou para a jovem Melanie que tinha acabado de conseguir derrotar sua marionete, nada mais importava, não adiantaria matá-la, não adiantaria matar Arthur, estava tudo acabado, havia perdido dessa vez, ele ainda existia e agora era somente questão de tempo para matá-lo com suas próprias mãos.

Puxou a faca rápido, tinha de sair dali, não poderia se entregar ao sentimento, não agora, não quando estava tão perto. Virou as costas antes de ver o corpo cair na neve a manchando de vermelho, limpou a adaga em suas roupas sem olhar para baixo.

O primeiro passo.

Passo após passo começou a caminhar hesitante, não ouvia mais nada ao redor, tinha bloqueado tudo, passou pelo campo de batalha sem nada sentir, respirou fundo se acalmando, voltando a seu estado frio, insensível, chegou a sorrir ao pensar que finalmente havia conseguido.

Faltava pouco, muito pouco, pensou enquanto arrancava a capa dos ombros a jogando no chão, dando seus últimos passos para fora daquela realidade condenada, desaparecendo no ar como se nunca tivesse estado ali.

***

Diversos objetos estranhos encontravam-se sobre a mesa, engenhocas criadas através dos tempos, diversas delas, de tamanhos, cores e formatos diferentes.

Continuou olhando para aquilo, recostou na cadeira pensativo, há sempre um preço por saber o futuro e geralmente não é você quem paga.

O peso doloroso caia sobre seus ombros, quase causando uma dor física, não que fosse jovem e não sentisse dores, mas ultimamente estava pesando ainda mais.

Olhava fixamente para o livro.

Uma capa surrada de couro marrom, com desenhos entalhados, arabescos que cobriam toda sua extremidade em volta de uma fechadura. Encontrava-se aberto, em uma página em branco, que logo estaria preenchida com uma nova história.

O livro do Tempo.

Devo dizer, é um nome realmente adequado.

O primeiro feitiço dera certo.

Cerrou os dentes, quanta dor ainda iria ter que causar?

Quanto sofrimento ainda estaria por vir?

Quantas almas ainda teriam de queimar?

Não.

Não poderia se permitir pensar dessa forma, se não nunca faria o que deveria fazer, estava escrito, sabia disso, já viajara muito, tinha visto maravilhas que nenhum ser humano sequer pode imaginar (pelo menos, não nessa Era).

Continuou parado olhando-o, atrasando o inevitável, buscando coragem.

Tirou todos os pensamentos que o assolavam, pegou o livro, fechou-o com uma chave, aproximou sua boca da lateral e sussurrou um feitiço:

"Através dos tempos irás buscar e o teu verdadeiro herdeiro encontrarás.

Pelo momento certo esperarás, e o escolhido protegerás.

Este com um poder de uma alma pura e corajosa.

Dará ao mal o seu derradeiro fim encontrando a paz desejada."

No instante em que termina, a magia lacra o livro (por enquanto) e uma luz roxa é emitida de dentro dele, sua imagem fica translúcida em sua mão, treme como uma miragem até desaparecer.

O que está feito, está feito.

Não pode ser mudado.

Agora tudo está em suas mãos...

Os Guardiões do Tempo: Agentes da Ordem (Volume único) + AudiolivroOnde histórias criam vida. Descubra agora