É estranho demais pensar que tudo isso está aqui embaixo, quando lá fora não sobrou nada. Por algum motivo, eu estava imaginando que as partes de "alta segurança" do laboratório seriam uma área pequena. Alguns poucos cômodos, uns servidores para garantir que não iam perder nenhum dado importante, mas nada assim. Porque o que estou vendo são salas de pesquisa, alojamentos, algumas salas que não quero nem pensar para que servem e uma "área de pouso" grande o bastante para uma nave três ou quatro vezes maior que a minha. O que faz um certo sentido, considerando que teriam que transportar as mulheres terráqueas de alguma forma. Se é que esse é um dos laboratórios que fazia experiências conosco - e eu preferia nem pensar nisso agora.
— Como o governo não sabe disso? — Murmuro enquanto sigo Arcen pelo corredor de paredes cinza claro. — Se fossem só algumas salas, até daria para entender, mas...
Não são só algumas salas. E como se não bastasse isso, a área de alta segurança tem um gerador próprio que imagino que aguente bastante tempo, porque Arcen não parece nem um pouco preocupado com a possibilidade das luzes se apagarem ou os filtros de ar se desligarem.
Ele olha para trás de relance e continua andando.
— Por mais que meu pai tenha começado as pesquisas a pedido do governo, eles sempre tiveram interesse demais no que estávamos fazendo. Não gosto de trabalhar dando satisfação de cada passo, então preferi fazer isso. O governo tem as plantas completas de alguns laboratórios e dos outros só sabem de uma parte das instalações subterrâneas. O pessoal que trabalhava nas áreas de segurança passavam por um processo de verificação pesado antes de receber esse tipo de acesso. Então o governo nunca teve motivos para imaginar que eu estava escondendo alguma coisa. Eles recebiam informações o suficiente para ficarem satisfeitos.
Hmm. Faz sentido. Se ele tinha como garantir que os funcionários não falariam - e não duvido nem um pouco que tivesse - isso poderia funcionar. E até entendo a questão de não querer ter alguém vigiando tudo o que estavam fazendo, mesmo que não concorde. Se as pesquisas estivessem sendo monitoradas de verdade... Não ia fazer a menor diferença, porque o governo drilliano sempre soube das abduções e não se importou.
O que quer dizer que o nível de paranoia de Arcen tem outro motivo. E isso é da minha conta, porque é o tipo de informação que pode afetar esse trabalho.
— Por que isso tudo?
Arcen para na frente de uma das portas idênticas desse corredor e faz todo aquele processo de virar as mãos até conseguir colocar a palma da mão direita no sensor.
— Curiosa demais? — Ele pergunta, sem olhar para mim.
Argh. Acho que eu preferia quando ele estava entre o hesitante e com raiva. Depois que entramos aqui, Arcen parece mais tranquilo, mais ele mesmo, ainda que eu não tenha certeza do que isso quer dizer. Não que seja difícil entender o motivo: ele está no ambiente dele, da mesma forma que eu estava muito mais relaxada na minha nave. Aqui, minha única defesa é minha pistola, e se ele for rápido o bastante as escamas dos drillianos conseguem parar qualquer tiro.
— Não é curiosidade — falo ao mesmo tempo em que a porta se abre. — Mas se tem motivos para desconfiar do governo há tanto tempo, isso é o tipo de coisa que eu preciso saber, porque pode fazer a diferença nos meus planos.
Ele entra na sala. Suspiro e o acompanho, parando na porta. Certo. A última vez que vi tantos terminais e monitores em um lugar foi quando passei pela central de segurança de Vorha. Todas as paredes estão cobertas por monitores e controles e a sala em si está pelo menos cinco graus mais fria que o corredor.
E Arcen está parado na frente de um dos terminais, me encarando. Cruzo os braços. Se ele não quiser responder, é só não falar nada. Não precisa ficar me medindo assim - e ter colocado minha mini pistola de dardos em um coldre escondido no braço me parece ter sido uma ótima ideia.
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Arcen (Filhos do Acordo 7) - Degustação
Romance-= Primeira versão, não revisada. A versão final pode ter alterações. =- Para Renata, ficar no Acordo nunca foi uma escolha. Sua única opção era como ficaria ali: uma escrava dos aliens ou alguém que até mesmo eles aprenderiam a respeitar. Oito anos...