Capítulo VII *Parte I

343 32 63
                                    

(Louis)

Fiquei mais tempo que o necessário tentando pentear o cabelo com os dedos no banheiro. Eu não poderia sair com o cabelo todo revirado, como um louco recém saído do manicômio por causa de uma transa. Mesmo que, de qualquer forma, estragaria mais ainda com a minha reputação, eu não morreria por isso. Mas obviamente não seria uma boa pra Derek.

-Escuta... - O chamei. Ele já estava perfeitamente arrumado, com a roupa em seu lugar e o cabelo bagunçado como sempre. Merda, porque eu tinha que ter o cabelo longo se eu poderia ter um cabelo curto e sair na rua sem nem sequer ter que me pentear? Claro que isso me tornaria só mais um e isso não aconteceria nem por cima do meu cadáver. Além do mais... eu adorava o meu cabelo.

Sparky cravou seu olhar em mim através do espelho.

- O quê?

- O que aconteceria se eu gritasse aos quatro ventos o que aconteceu aqui hoje? Porque eu estou com muita vontade de fazer isso. - Ele riu, mesmo que com uma careta um pouco tensa.

- Te devolveria a jogada fazendo um milhão de cópias do seu registro e do seu irmão e os jogaria lá do telhado para que todo mundo visse o quão intima era a relação que vocês mantinham.

- Que extremista.

- De qualquer forma, não foi pra tanto. - Revirei os olhos, fingindo me indignar.

- Você nunca foi em uma palestra de planejamento familiar? Não se deve fazer amor sem camisinhas ou você pode pegar coisas ruins. Especialmente se for com homem. E especialmente eu, que sou passivo.

- Me lembrarei da próxima vez. Sempre vou levar camisinhas de emergência para esses casos. - Eu franzi o cenho, afastando-me do espelho, um pouco mais ajeitado.

- Quem disse que vai haver uma próxima vez? - Sparky desencaixou a mandíbula.

- Não gosta de mim como... namorado?

- Ha! Você não quer ser meu namorado! Ser namorado significa respeitar o outro, gostar de uma maneira especial, querer estar como ele todas as horas, e quando não estiver, desejar estar, mandar mensagenzinhas pelo celular para dizer alguma coisa, mesmo que não tenha a menor importância e a única coisa que você quer saber é se ele está bem e se está pensando em você. Querer ele só pra você. Sentir-se feliz apenas por ouvir sua voz. Notar um calorzinho agradável na boca do estômago, sentir os nervos a flor da pele, estar disposto a fazer qualquer coisa por ele... e saber que ele também estará disposto a fazer qualquer coisa por você. - Baixei a cabeça e suspirei. Acabava de me lembrar porque eu estava nessa situação tão desagradável.

- Isso não é ser namorados. Isso é estar apaixonado.

- E o que você sabe? Alguma vez já se apaixonou? - Sparky deitou a cabeça. Seus dentes rasparam uns nos outros.

- Uma vez conheci uma garota... ela não sabia falar bem o inglês, era francesa, não, na verdade, foi adotada por uma família francesa. Era linda, inteligente, amável, simpática, com os cabelos castanhos e lisos, como os seus... - Seus olhos se cravaram em minha nuca com uma expressão sonhadora. Eu pude ver através do espelho. - Mas não foi o suficiente. Para os meus pais nunca foi suficiente e suponho que para as pessoas nascidas na Inglaterra também não era. Não sei se era porque ela era francesa ou chinesa, mas era certo que era porque ela não era inglesa.

- Os ingleses não são uns idiotas... como o resto do mundo parece achar as vezes.

- Oh, sim nós somos. Estamos repletos de prejuízos que herdamos também desses malditos... nazis europeus.

- Não. - Parei de olhar no espelho e me virei para que pudesse parar de me olhar e me lembrar de Harry, estampado em meu reflexo. Era curioso. Nunca nos achei parecido quando estávamos juntos, mas agora, cada vez que eu me olhava no espelho, doía-me ver o quanto eu me parecia com ele. Doía-me ver que ele estava do outro lado do espelho e que eu não podia alcançá-lo. - Qualquer pessoa que joga a culpa em sua família por seu ódio aos homossexuais, aos imigrantes, aos negros, aos pobres, aos doentes mentais... só podem ser chamadas de estúpidas e irresponsáveis. A educação de nossos pais nos afeta, mas... sempre podemos escolher. - Derek assentiu com a cabeça fracamente, com pesar. Depois encolheu os ombros. Podia-se se ver claramente a inconformidade pintada em sua rosto. - Você não pensa assim, não é?

Muñeco 2 ❌ L.S ❌ [✔]Onde histórias criam vida. Descubra agora