Capítulo VIII *Parte I

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Foi tão brutal.

Primeiro senti uma sacudida incomoda, tão fraca que quase não fui capaz de perceber que era o meu próprio corpo que a recebia, como um pequeno choque de adrenalina ao sofrer uma emoção forte diante de algum estímulo. Depois, a sacudida esburacou o meu peito me deixando sem ar. Uma sacudida sem piedade alguma, tão bestial que por um momento pensei que tinha acabado no inferno e que esse seria um dos muitos castigos que receberia ao longo da eternidade. Mas não foi assim.

Abri os olhos de repente, tão dolorido que as lágrimas se escaparam por eles. Minhas costas se arquearam fracamente, antes mesmo de minhas pupilas perceberem que haviam cravado em algo conhecido, em uma superfície lisa e branca que ocultava a visão do céu escuro o qual eu havia visto segundos antes, uma confusão de mãos se precipitaram sobre mim, agarrando meu corpo e empurrando-o para baixo.

Mexi a cabeça um pouco, aturdido e ainda sentindo falta de ar e a forte dor no peito que havia me destruído por dentro. Quando ergui o olhar, comecei a reconhecer as coisas, corpos que se moviam rapidamente ao meu redor, vozes com tons aliviados e preocupados, algumas, inclusive, desesperadas. As pessoas vestiam um jaleco branco e um homem, com uma crachá pregado a roupa, afastou umas placas de metal de mim, batendo-as e sotando-as sobre uma superfície de metal. Me inclinei para frente, tentando me levantar, mas algumas mãos agarraram meus ombros e colocaram com brusquidão uma máscara em meu rosto, ajustando-a bem. Quando me virei, ou melhor, tentei me virar, vi as mãos de uma mulher carregando um saquinho de cor vermelho-escuro em que se lia claramente, O negativo. A pendurou em uma barra de metal, ao meu lado e observei meio dormente como o líquido vermelho escorria por um tubo transparente que ia até... o meu braço. Uma agulha atravessava-o sem piedade grudada por um pedaço de esparadrapo. Uns cabos nojentos estavam conectados no meu corpo e iam até uma máquina que desenhava uma estranha linha amarela que ia pra cima e pra baixo. Um apito insistente ressoava por todo o quarto: Pi, pi, pi, pi, pi...

Meus olhos viajaram por todo o local, confusos, até se cravaram de novo na agulha cravada em meu braço... e depois mais pra baixo, pro lugar onde eu recebia uma fraca pressão pelas várias faixas que uma outra mulher enrolava em meus pulsos, apertando-as com força. Observei como o médico que havia tirado as placas de metal de mim, jogava um tucho de tecido ensanguentado em uma minúscula lixeira e depois se virava pra mim, olhando-me com curiosidade.

- Ele recuperou a estabilidade doutor. - Ouvi a voz feminina e suave de uma garota a minha esquerda.

- Estou vendo. Santo Deus, quanto sangue ele perdeu? O coração dele parou por mais de um minuto.

- Sim, quase se foi. Pobre garoto!

- Quem o trouxe?

- O pai dele, ou padrasto. Ao que parece ele o encontrou ainda consciente, exatamente quando ele acabava de se cortar, mas não pode fazer nada para evitar. Mesmo assim, terá que falar com ele. A mãe dele também está ali fora com seus primos ou amigos, não sei.

- Temos que levá-lo para a unidade de cuidados intensivos. O que me preocupa é o tempo que o cérebro dele ficou sem oxigênio.

- Ele recuperou a consciência, doutor. - O homem de jaleco se virou para mim. Se inclinou levemente, olhando-me fixamente.

- Como ele se chama? - Perguntou.

- Louis. Louis Tomlinson, doutor.

- Olá, Louis, como está? - Me custou certo trabalho pra perceber que o homem estava se dirigindo a mim. - Pode falar? Está me entendendo?

- Hum... - Foi a única coisa que pude dizer. Minha boca estava dormente. Eu não sentia meus lábios e a minha língua se movia pastosamente dentro da minha boca. - Eerr...

Muñeco 2 ❌ L.S ❌ [✔]Onde histórias criam vida. Descubra agora