Eu estava lá há uma semana.
Lá era a casa da minha mãe na antiga Elk Creek.
Talvez, por saber que ficaria ali por pouco tempo, eu me ajustei bem ao lugar e logo criei uma rotina. Eu passava as manhãs com Missy e Edwin, conversando e brincando. O menininho logo perdeu a desconfiança inicial que tinha de mim e Missy já me tratava como sua melhor amiga. Às vezes, os gêmeos Kirshaw se juntavam a nós e ficávamos conversando na sala de estar ou na varanda até a hora do almoço.
Foi um pouco chocante descobrir que os dois eram quatro anos mais velhos que eu. Eles pareciam – ok, Henry parecia – tão adolescentes. E toda aquela história de que antigamente as pessoas envelheciam mais cedo? Não aqueles dois.
Eu logo notei, estava mais do que óbvio, que Henry – que preferia ser chamado de Hal, já que dizia que Henry soava como nome de velho – estava completamente apaixonado por Missy. Confesso que era muito engraçado ver como a paquera acontecia naquela época. Os dois nunca ficavam sozinhos e Missy, que eu suspeitava corresponder aos sentimentos dele, sempre parecia ignorá-lo.
Mas depois que ele ia embora ficava pulando enlouquecida pela casa, rindo como uma lunática.
Eu me divertia bastante.
Passava as tardes ajudando Lucy na casa, o que conseguia afastar Missy, já que ela tinha verdadeiro horror a trabalho doméstico.
Minha irmãzinha era um pouco mimada.
Mas era ótimo, já que eu tinha tempo para conversar com Lucy. Com minha mãe. Nós falávamos muito sobre a minha infância e eu podia ver que seus olhos ficavam um pouco tristes por não poder ter me visto crescer. Contei para ela sobre a faculdade e ela ficou horrorizada ao saber que eu vivia em um dormitório misto.
Aparentemente, o tempo que ela passou no século XXI não serviu para livrá-la de todos os seus preconceitos.
Eu também falei para ela sobre Keith.
Eu nunca havia realmente conversado sobre ele depois de sua morte. Com ninguém. Simplesmente me fechei em uma concha com minha dor e segui em frente, numa espécie de semivida. E, então, finalmente pude abrir meu coração e de verdade chorar a morte do meu grande amor no colo da minha mãe.
Ela me ouviu e chorou comigo. Disse que gostaria de ter estado lá para dividir aquela dor que, um dia, conheceu bem.
E eu disse que estava tudo bem. Ela estava ali agora.
Lucy também me perguntou sobre meu pai e, por sua voz, eu percebi que ela ainda o amava muito. Meu pai ainda era o grande amor da vida dela, no fim de tudo. Ainda era sua metade. Sua alma gêmea.
E eu finalmente entendia o que ela havia deixado para trás. E como não foi fácil.
Eu estava prestes a fazer a mesma coisa.
Nathaniel não veio à casa nenhuma vez, não depois da manhã em que caminhamos pela praia e eu agi como uma completa lunática.
Mas nós nos encontrávamos todas as noites.
Eu provavelmente não era o exemplo de moça direita do final do século XIX, pois todas as noites, depois que todos na casa iam dormir, eu me arrastava como uma criminosa para fora da casa e ia caminhando na escuridão até a praia.
Nathaniel estava sempre lá, esperando por mim.
A escuridão do mundo era a mais completa e profunda em que eu já havia estado. Sem postes de iluminação e as luzes das casas, hotéis, restaurantes e das lojas de equipamentos para surfe. Mas era só assim que eu podia realmente ser banhada pela luz cintilante dos astros no céu. A lua e as estrelas faziam um caminho de luz prateada que se derramava sobre tudo naquelas noites escuras.
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Ocean Eyes
RomanceO mar me tirou quem eu mais amava, o menino com olhos da cor do oceano. Olhos de oceano que foram fechados para sempre. Mas eu não sabia que, ao mergulhar em águas desconhecidas, os veria novamente. História inspirada por cinco músicas do álbum Ocea...