Domingo, 6 de Agosto de 1944

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Querida Kitty,

Peter e eu conversamos ontem. Depois do angustiante jantar, nós fomos ao porão, e penso que ficamos mais de uma hora tagarelando. Ele me contou tudo que sentiu durante a invasão, disse que teve soluços e quase se engasgou tentando pará-los. Peter também está muito abalado com toda essa mesmice, não somos mais os mesmos desde que entramos aqui, ninguém mais é. Nos acostumamos a essa rotina que não nos leva a nada, todo dia é a mesma repetição, as mesmas brigas, os mesmos humores e chatices, nos alimentamos com apenas algumas batatas e temos que nos contentar com isso. Não podemos mais ter sonhos para não nos importarmos com a dureza da realidade lá fora. Não há especulações para um pós guerra, não aqui dentro. A esperança é a última que morre, e infelizmente, na cabeça dos adultos aqui dentro, ela já foi a muito tempo. A única coisa que ainda me faz feliz, é saber que tenho Peter ao meu lado, sinto que até mesmo Pim vem se afastando, como eu disse, não sou mais a mesma, e não posso fazer com que todos gostem de como me tornei. Enfim, fazer outra pessoa feliz é revigorante também. Após toda conversa, demos nosso beijo de boa noite e fomos dormir.

Sua Anne M. Frank


Anne & PeterWhere stories live. Discover now