O celular toca, olho, ainda meio sonolento,o despertador marca seis e meia da manhã.
Me levanto,arrumo a cama,vou para cozinha,acaricio a gata que se chama Onze ,ela é preta,os pelos brilham é bem cuidada,coloco água para fazer meu café, alguns minutos depois a água está fervendo,assim como a vida lá fora.
Pego uma caneca ,me sirvo,ligo a TV para ver o jornal da manhã,minha mente inquieta só consegue pensar nela,me levanto,ando de uma lado para o outro,escondo atrás da cortina e penso se devo ou não olhar,ainda é muito cedo não deve estar acontecendo nada naquela rua,a essa hora da manhã.
Volto para o sofá,acendo um cigarro,mais lembro que não fumo dentro de casa,vou para a lavanderia,mais lá, não é a mesma coisa.Apago o cigarro,volto para a sala,na TV uma notícia que me faz revirar os olhos de tédio.
Me rendo ao meu vício diário.
Abro a janela que a vista da para rua da frente da minha casa,uma rua bem movimentada,o que me faz ficar alí por horas,olhando a vida lá fora.
Observo tudo.
Aquele horário às crianças estavam saindo para ir a escola,os pais apressados os colocavam nas vans,com suas mochilas e lancheiras.
Tudo normal até agora,exceto o meu vício de olhar pela janela e espiar a vida alheia.
Para mim as janelas deveriam ser um imenso telão, daqueles de cinema,e eu estava de camarote.
Dalí eu observava a vida passar,o dia correr ,e meu vício me consumir.
Acendo outro cigarro,fico dividido entre meus dois vícios,olhar pela janela e fumar o cigarro que se consumia em brasa até queimar meu dedo.
As vezes a vida é cansativa demais,para me distrair eu olho pela janela.
O pai que saiu cedo para trabalhar.
A mãe que não foi ao trabalho para levar o filho ao médico.
A avó que cuida dos quatro filhos,para a mãe solteira trabalhar em dois empregos e assim poder dar uma vida melhor para eles.
Vejo os adolescentes,passando pela transformação de seus corpos,e vejo também os olhares insinuante,que algumas pessoas olham para eles.
Vejo a presença suspeita de uma moto que sobe e desce a rua sem parar,olhando os portões.
Uma senhora que cuida da vida dos outros,assim como eu.
A outra que passeia com o cachorro,que não recolhe as fezes que ele faz minha calçada,que eu lavei na noite anterior.
Já são quase meio dia e eu preciso almoçar...
Faço meu prato, mais não saio da janela,penso que é melhor me tratar,isso já está indo longe de mais.
Só mais um dia,penso eu,olho através da cortina e vejo a senhora da frente,ela comprou algo,chegou a caixa grande.
Grande mesmo é minha obsessão por olhar o que está acontecendo lá fora.
A tarde cai,com sua melancolia,como se fosse tarde de domingo que dá um desespero em saber que o dia seguinte é segunda-feira.
A noite chega com sua solidão,e eu com minha janela não quero saber da vida aqui dentro, lá fora é mais interessante.
Olha a casa da esquina,a vizinha comprou uma TV nova,acredito que deve ter umas sessenta e cinco polegadas,e ainda HD, imagens perfeitas e vem definidas,da minha janela consigo ver perfeitamente.
Que absurdo,eu tentando achar uma razão no que estou fazendo.
A vida passa diante da minha janela,e eu mal consigo ver para onde ela vai.
A janela que vejo tudo, não me mostra nada a respeito de mim mesmo,pois a vida dos outros sempre é mais interessante.
Tenho que me tratar?
Talvez não...
Só mais um dia,e eu paro, só mais um cigarro e eu paro,de tantas promessas,que eu fiz se eu fosse julgado por não cumprir,eu estaria a dois mil anos presos.
Enquanto minha vida não segue o mesmo ritmo da vida do lado de fora da minha janela,eu me entrego ao meu vício.
Não do cigarro,mais o de olhar no outro o que falta em mim.A.Luper
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coletânea de contos
Short Storytoda semana um conto novo,trazendo reflexões,humor, emoção .