Entro no ônibus,procuro por um lugar,confortável e na rota de fuga,próximo a porta.
O ônibus sai.
As pessoas entram e tomam seus assentos,ao meu lado meu companheiro de olhos fechados,dormindo com certeza.
Não percebe a variedades de pessoas e situações,na verdade meus pensamentos já sobrevoavam a atmosfera do ambiente desde a fila antes do coletivo estacionar,na plataforma.
A nossa frente duas moças,calças pretas coladas ao corpo,marcavam cada curva delas.
Sim,ambas usavam calças iguais,as unhas pintadas de preta,mal podiam tocas a tela do celular,com mini blusas que deixavam seus seios volumosos em evidência,talvez fossem silicones,não sei,desconheço tal procedimento.
sim eu sei eu deveria estar cuidando da minha vida,mais eu tenho certeza que eram colegas de trabalho.
Sim,eram prostitutas.
O ônibus estaciona na plataforma,o motorista não tem habilidades nenhuma para manobrar o gigante de quatro rodas.
-Este deve ser iniciante. –comenta um senhor que esta na fila atrás de mim,mais não dou muito assunto.
A fila anda,confiro o dinheiro,a passagem custa seis reais,e trinta e cinco centavos,no total de doze reais e setenta centavos,separo algumas moedas,para facilitar o troco.
Entramos e nos sentamos.
As colegas também entraram e sentaram alguns bancos a nossa frente.
Atrás de nós a mais um passageiro,é homem.
Escolhi o assento perto da porta,pois eu sempre imagino que algo vai acontecer,assim fica mais fácil para fugir,os outros passageiros escolhem seus lugares,barulho de moeda,o cobrador passando os trocos.
Todos entram.
Os últimos a entrar são uns senhores,o homem briga com a mulher que não quer sentar ao seu lado no fundo,prefere sentar-se em um banco preferencial que esta vazio logo mais a frente,próximo das colegas de trabalho,com os seios vultosos,os olhos masculinos já os notaram de longe.
A mulher se incomoda e troca de lugar,vai mais para frente perto do cobrador que não tira os olhos dos seios das colegas de trabalho,e ele vendo de camarote,penso eu.
As colegas mexem nos celulares,com as unhas pintadas de preto,seus cabelos agora cobrem os seios,charme talvez?
O ônibus sai do terminal urbano,pega a rodovia e corre,cada vez mais veloz.
Todos mexem nos celulares.
Cada qual em seu mundo.
Eu observo cada um,as colegas de trabalho,os rapazes do banco do lado,o casal que trocam juras de amor,os amigos que combinam de sair para “pegar” mulheres.
Pegar?? -penso eu ,nos tornamos objetos que se pagam,e larga?
O ônibus freia,para em um ponto.
Uma família perfeita,entra...
O pai perfeito,a mãe perfeita e filha perfeita,pelo jeito não estão acostumados a andar de ônibus mal sabem se equilibrar,o pai senta no banco da frente ao que eu estou,a mãe senta atrás das colegas de trabalho e filha senta-se em seu colo.
Ela olha todos que estão no ônibus.
O marido não tira os olhos do celular,e dos seios das colegas de trabalho,que marcam seus clientes pelo celular.
Mais um ponto,um rapaz negro,com sua filha eles se levantam,ele segura uma boneca e uma mochila com morangos desenhados,eles descem,olho pela janela e ele entrega a mochila para um mulher,abraça e beija a testa da menina,e eles vão embora em um carro.
Ele ascende um cigarro.
Volto a olhar para dentro do ônibus.
São quarenta e cinco,ou menos talvez,todos sentados cada um com seus celulares,olho para o lado um rapaz com fone de ouvido,ao seu lado um mulher lê um livro,grande o suficiente para durar a viagem toda,não consigo ver o nome,mais parece bom ela parece concentrada,ela dá sinal o ônibus para e ela segue sua historia.
Lá vai o ônibus com seus passageiros,e seus celulares, cada um tem suas coleiras que te aprisionam.
E seguimos viagem ,me lembrei do senhor que queria se sentar com a esposa e agora está lá sentado com ela.
As luzes se apagam e os celulares permanecem ligados na escuridão física e iluminando a escuridão dentro de cada um.
A família perfeita conversa,o pai permanece com os olhos pregados no celular,não presta a mínima atenção na mãe perfeita e na conversa perfeita.
As colegas de trabalho,mexem nos cabelos longos,os homens tiram os olhos dos celulares por um segundo.
Mais uma parada,ninguém desceu nem subiu,alguém apertou indevidamente o sinal de parada.
A vida segue,o ônibus segue.
O senhor que disse que o motorista era lento,agora esta assustado.
-Ele corre muito nas curvas – ele comenta.
Abaixo a cabeça para ele não perceber que estou rindo.
O ônibus para desta vez alguém vai descer.
A mão perfeita,ajeita a filha perfeita,chama o pai perfeito,que se assusta e guarda o celular rapidamente,se levanta,mais antes mais uma olhada para os seios das colegas de trabalho.A esposa perfeita cutuca o esposo perfeito.
A família perfeita,desce no ponto perfeito do ônibus imperfeito,cheio de gente imperfeita nos celulares perfeitos mais de vidas imperfeitas.
O ônibus segue lentamente,olho pela janela.
O pai perfeito empurra a mãe perfeita,a criança chora,ele não liga para filha,mas liga o perfeito celular,a mãe perfeita quebra o celular que agora não é mais perfeito.
Afinal,não era um família perfeita.
Com mais velocidade seguimos viagem,uns descem outros sobem,e nós permanecemos ali.
Estamos chegando ao nosso destino.
Nós dois,as colegas de trabalho com seios grandes e unhas pretas e mais algumas pessoas que estão espalhadas pelos bancos vazios do ônibus.
-Este ponto é o ponto do metrô? – pergunto para uma senhora
-Sim ! -ela responde e sorri.
-este ponto é da estação do metrô? -pergunta um rapaz para mim.
Apenas digo que sim e desço.
As colegas descem.
Todos descem com suas malas,mochilas e seus fardos para começar a semana.
O motorista segue só, até o ponto final.
Seguimos rumo ao metrô.
As colegas seguem para o trabalho.
A vida corre,os passageiros correm.
Mas a verdade é que ninguém sabe para onde vai.A.Luper
VOCÊ ESTÁ LENDO
coletânea de contos
Historia Cortatoda semana um conto novo,trazendo reflexões,humor, emoção .