Life changes everything

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Aquilo não era esperado. E Harry jura por tudo o que é mais sagrado que nunca planejou que fosse acontecer tão cedo. Mas, do dia para a noite ele deixou de ser um garoto comum, que vive em uma cidade comum, com amigos comuns, para tornar-se... mais um numero em uma estatística. Aos 16 anos, quando tudo aconteceu, ele tinha certeza que aquelas aulas sobre educação sexual e as dificuldades de uma paternidade precoce eram indiretas dos professores e da escola para ele. Ninguém fala sobre o que é ser pai na adolescência, todos falam da mãe, de tudo o que a menina vai perder de sua juventude, do preconceito da escola, do julgamento dos colegas e familiares; enquanto o pai continua uma vida normal, vendo o "moleque" uma ou duas vezes por semana sendo um completo desajeitado só em ficar alguns minutos sozinho com o rebento. Mas, a única coisa que Harry tinha em comum com os outros pais na idade dele era a presença de seu nome na estatística dos adolescentes irresponsáveis que arrumaram um filho.

Seguindo a tradição de casal magia, Hilde e Harry foram os primeiros um do outro até no sexo. Foi um pouco confuso, um tanto doloroso para ela, um tanto constrangedor para ele, mas na terceira ou quarta vez eles conseguiram o prazer mutuo e finalmente entender porque as outras pessoas falavam tanto de sexo quanto de amor. Porque era bom, bom até demais. Várias vezes eles intencionalmente esqueceram o preservativo. Sorriam maliciosos um para o outro e prosseguiam daquele jeito mesmo. Concluíram depois de uma curta fase de testes que sem preservativo era melhor e se Harry tirasse antes não teria problemas. Mas, teve... 

Hilde ficou furiosa e apavorada quando descobriu. Ela iria completar 16 anos em um mês e aquela noticia não poderia vir em pior hora, uma vez que ela tinha conseguido bolsa para estudar no ano seguinte em um conceituado colégio católico de regime interno. Seria o preparo perfeito para seu ingresso em Oxford, um grande passo para realizar o sonho de ser promotora de justiça. Um filho iria destruir tudo e ela não estava disposta a encarar isso.

Harry não teve tempo para curtir a ideia e saltitar por aí. Uma parte dele queria ficar radiante de ser pai e finalmente ter uma criança pra ele cuidar, mesmo sendo tão novo. Até brotou nele uma faísca de felicidade depois da surpresa. Mas logo depois, virou desespero:

 Eu estou grávida, Harry!

Ela mostrou os dois testes que havia feito: um de farmácia e outro no laboratório. Ambos feitos escondida da família.

— E eu não vou ter esse bebê. Precisamos fazer alguma coisa.

— O que?... O que?

Assim, pego de supetão em um dilema que ele jamais saberia como resolver sozinho. Se Hilde quisesse mesmo tirar não haveria nada que Harry pudesse fazer. Aprendeu desde pequeno a respeitar as meninas e a decisão delas. Quando começou sua vida sexual uma das coisas que seus pais mais lhe martelavam foi que todo o direito do corpo da menina era exclusivamente dela. Mas, aquele serzinho era dele também! Ajudou a concebê-lo. Desejava-o antes mesmo de saber como e de onde vinham os bebês, fora alvo de brincadeiras maldosas na escola porque brincava de boneca junto com as meninas ao invés de jogar futebol. Era incondicionalmente apaixonado por aquela criança que nem havia nascido ainda... Hilde não tinha esse direito! Não tinha! E Harry dessa vez quis dar-se ao direito de ser um pouquinho egoísta.

Eles brigaram e brigaram e brigaram. Em um ato de inconsequência, Harry contou aos pais de Hilde, esperando que os sogros fossem convencê-la a não tirar. Não foi o que aconteceu. Além de furiosos com os dois adolescentes – uma discussão feia regada a tapas na cara, gritos e xingamentos – os pais de Hilde se negaram a permitir que aquela gravidez fosse à frente. Eles podiam adorar crianças e apoiar muito que o jovem casal formasse uma volumosa família dali a alguns anos, mas eles eram duas crianças desmioladas e não saberiam jamais criar outra criança. Tinham dinheiro para um aborto seguro e ficaria tudo bem. Os pais de Harry por sua vez, lavaram as mãos. A decisão era de Hilde não dele e sua mãe repetiu o discurso de antes, incluindo que ele era jovem tinha muito a viver pela frente e poderia muito bem ter filhos mais tarde, quando tivesse condições financeiras e psicológicas de arcar com essa responsabilidade.

Nenhum amigo o apoiou também. Ele só devia estar maluco "Conseguiu o que quase ninguém consegue: uma menina que engravida, não quer o filho e tem condições de tirar. Para que o drama? É só fazer outro depois". Ninguém entendia que ele não queria outro, queria aquele! Tudo bem foi mesmo uma irresponsabilidade, ele era novo, não tinha um emprego, ainda não terminou a escola, era menor de idade, mas e daí?

Estava correndo contra o tempo. Hilde teria que tirar o quanto antes ou a gravidez estaria muito avançada e as complicações de um aborto nesse estagio eram maiores. Esgotados todos os seus planos para conseguir a ajuda de alguém, todos os argumentos que pode encontrar e seu relacionamento com a menina prestes a ruir depois de tantas brigas, ele marcou com ela um encontro para uma ultima conversa, que seria dois dias antes de ela se internar na tal clinica. 

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