Welcome aboard

938 102 73
                                    

A segunda feira costuma ser o dia de sentir que foi atropelado por uma manada de elefantes carregando nas costas uma centena de obesos americanos viciados em fast food, e comendo Big Mac. Houve uma época que Harry tentou simplesmente não dormir de domingo para segunda feira e assim não ficaria tão cansado na hora de acordar às sete horas, a fim de aprontar o filho para a escola. Desistiu logo nas primeiras experiencias ao perceber que umas míseras horinhas de sono eram melhores que hora alguma.

Engana-se quem pensa que o movimento nos bares aos domingos terminava cedo por causa da segunda. Podia até ser um movimento reduzido depois da meia noite, mas sempre tem aquele grupo que não trabalha, não estuda, quer ser entretido e é bem mais volumoso do que se imagina. Era para esses que Harry tocava todo domingo, cada semana em um bar diferente. Depois ainda tinha de passar na casa da mãe, em outra cidade, para buscar o filho que vinha adormecido em seu colo sem que o balançar do ônibus e do metrô interrompessem seu sono. Harry não tinha carro. Custava muito para manter e ele não se considerava bom motorista. Achava mais válido investir o que ganhava para dar o melhor a seu filho, o que incluía o confortável – apesar de pequeno – apartamento de dois quartos que eles viviam.

Chegou à casa perto das quatro da manhã e depois de deitar a cabeça no travesseiro, veio de novo aquele pensamento de: não seria melhor ficar acordado até as sete? Mas, acabou pegando no sono mesmo e sendo acordado com o usual “Papai, acorda” do filho madrugador. Hunter estava curioso e encheu o pai de perguntas sobre Louis. Foi gostoso de ver o brilho nos olhos do pequeno quando Harry contou que o próximo encontro seria em um parque e que Hunter era o convidado especial. Tinha muito tempo que eles não iam ao parque de diversões, mas o menino lembrava bem do quanto gostava. Durante o caminho até a escola não houve outro assunto que não fosse parque, praia e o novo amigo do pai. Harry não disse nada sobre estarem namorando e desviou qualquer possibilidade do assunto surgir, ele e Louis combinaram de não apressar nada, afinal já estavam bem apressadinhos nas coisas.

Quando voltava para casa, Harry recuperava o sono perdido do final de semana agitado. Segundas, terças e quartas eram seus dias preferidos porque podia chegar o mais perto de uma vida normal, de acordo com seu conceito de normal, é claro. Dormia até dar a hora de buscar o filho na escola. Na volta arrumava a casa, preparava o jantar e passava o resto da noite a noite brincando com Hunter, ajudando-o no dever de casa, assistindo TV ou navegando na internet, enfim, fazendo coisas comuns. Só que dessa vez sua rotina foi alterada por intermináveis conversas por mensagens com Louis.

Estavam naquela fase de mandar imagens com memes bobos e rir disso. Faziam comentários sobre coisas que viam ou ouviam durante o dia e riam também. Harry contou que havia arrumado a casa durante a tarde, pois segunda-feira era dia de faxina para ele e Hunter, Louis perguntou quanto ele cobrava na diária e se ele usava bob e lenço no cabelo. Comentário idiota, mas que causou riso nos dois. Hunter interrompeu o momento querendo falar com Louis, cismou que queria conhecê-lo. Não adiantaria que fosse por mensagem, Harry teve de ligar o Skype do celular, uma vez que o pequeno ainda não sabia ler, nem escrever; e aconchegado no colo do pai, Hunter ainda se atreveu a pedir que eles ligassem a câmera. Uma criança a moda antiga, gostava do cara a cara.

A conversa entre eles começou vaga. Costumeiras perguntas infantis sobre o que Louis estava fazendo, quantos anos tinha, se gostava de desenho animado ao passo que Louis perguntava o que ele havia feito na escola e se o pai queimou a comida. O pequeno não mostrou nenhum interesse quando Louis disse que tinha irmãs crescidas, dizendo um “Ah, legal” por mera educação. Mas, quando soube dos irmãos caçulas que ainda estavam aprendendo a deixar as fraldas, Hunter foi conquistado. Implorou para que Louis mostrasse seus irmãos pela câmera do celular; ao ter seu pedido atendido, um sorriso igualzinho ao do pai desenhou o rosto dele.

Our Little ShipOnde histórias criam vida. Descubra agora