Nothing is your fault.

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Camila apertava uma bolsa de gelo no pé esquerdo, a luxação inchava e latejava. Maldita hora em que inventara de subir naquela escada. Tudo o que queria era dormir ouvindo os CDs que ganhara de sua irmã, anos atrás. Ela mordia o lábio e fazia caretas de dor para o pé gordinho. Sentada no chão do corredor, ouviu o celular tremendo no assoalho. Ally informava-lhe sua chegada. Havia deixado à porta encostada, para não esforçar o tornozelo quando a amiga chegasse. Dali então aproveitou para pegar uma bolsa de gelo na cozinha, antes de jogar-se em qualquer canto do apartamento.

A porta foi aberta e Camila sorriu entre dores para baixinha que adentrava seu apartamento. Olhou-a por frações de segundos e de novo, foi conferir o inchaço no pé. Ela sentiu um perfume diferente, que de jeito nenhum pertencia a Ally. Inclinando a cabeça, viu Lauren ultrapassando a porta, o susto foi grande e ela jurava que ele arrastara seus órgãos por dentro. Mas que merda era aquela? Lauren não queria distância? Ou ela estava com Ally quando ligou?

– Wow, Mila! – Ally afastou a mão dela, passando a investigar o tornozelo de todos os ângulos. – Como é que você aderiu esta façanha? Apoie-se em mim, no três, vamos lá... – Camila segurou no ombro dela. – Três! – usando as duas mãos, Ally a colocou sentada no sofá. – Consegue se apoiar em mim até chegarmos ao carro?

Lauren olhava para as duas com aquele olhar curioso, orgulhoso. Parecia mais uma vizinha enxerida, daquelas que saem de suas casas para ver o resultado da tragédia na vizinhança, pronta para lamentar a qualquer momento. O pé de Camila estava ficando um pouco roxo, ela devia sentir bastante dor. De coração sentido, Lauren moveu-se, devagar, vendo a figura da latina cada vez mais perto. Impulsivamente, tocou a mão dela.

– Eu a levo.

– Agradeço. – Zombou e barrou um gemido. – Posso me apoiar em Ally. – olhando ao seu lado, suspirou. – Allycat, me desculpe, eu não queria atrapalhar a festa de vocês. – A mão de Lauren continuou em seu braço, sentiu o calor dela. Queria gritar e mandá-la a merda mas sua lesão era a prioridade do momento.

– Sei que faria o mesmo por mim. – Ela disse, enfiando o celular embaixo do braço. Queria evitar uma conversa mais longa. O clima entre as duas não era dos bons. – Não coloque o pé esquerdo no chão, pode piorar.

Subestimada, Lauren a pegou no colo, suas emoções a controlavam. Camila a olhou prontíssima para xingá-la com sua língua afiada mas ela foi andando até a saída.

– Levaria tempo demais para que você chegasse até o carro. – Foi a explicação pobre.

Ally virou de costas para elas, trancando a porta. Sorriu das duas, mas conteve-se e apertou o primeiro botão do elevador, sempre conferindo a lesão de sua desastrada amiga. Lauren a segurava como se ela fosse uma garotinha de dez anos. Camila mal respirava direito, queria pular fora do colo dela. Jauregui ficou de lado para que seu pé não se chocasse com a porta do elevador ao entrarem, a mulher mais parecia um robô, olhava sempre para frente, exibindo no rosto a figura imponente, como se aquilo fosse um grande favor, nada mais.

Ela foi colocada no banco da frente. Lauren havia batido a cabeça, ao ajeitá-la. Xingou um mundaréu de palavrões e Camila confirmou: Ela ingeriu bebida alcoólica e mesmo assim, estava docemente agradável em seu melhor estilo. Ally durante o percurso ia conversando com elas e consecutivamente desviando de assuntos que as deixassem em atritos. Por Deus! As duas pareciam duas leoas brigando por território.

Novamente, Camila foi carregada por Lauren. Ally conseguiu uma cadeira de rodas para ela com um enfermeiro. Na emergência, Camila foi atendida pelos mesmos médicos que a examinaram da vez em que sofrera a reação alérgica por conta dos camarões. A torção foi avaliada e o inchaço diminuía com rapidez, a dor ainda permanecia, foi sujeita a exames de radiografia e ressonância magnética.

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