1-Café

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Mais uma vez, ele sonhara com esses malditos insetos. Não o entenda a mal, mas depois de ter passado duas semanas sonhando com essas malditas borboletas, ele sentia que cada vez que acordava, ele ficava mais cansado do que revigorado. Estava dormindo mais horas, e se atrasando cada vez mais. Não que tenha um horário certo para chegar ao estúdio, mas como Logan dizia, "quanto mais cedo chegar, mais coisas vai produzir".

Ele olhou pela janela, ainda na cama, o céu. Havia poucas nuvens e um azul límpido por todo o horizonte. Com muito esforço, se levanta. Seus músculos estão doloridos. Ele não era uma pessoa que gostava de coisas alternativas, mas talvez fazer acupuntura seria algo bom em seu estado atual. Boceja e se espreguiça preguiçosamente. Olha o relógio no criado-mudo. Ele estava atrasado, com toda certeza, mas era irresponsável o suficiente para não ligar pra isso. Afinal, ele é uma pessoa jovem. Mas isso não paga suas contas.

Coloca pães em uma torradeira, se veste com uma calça jeans rasgada, botas, e seu casaco azul com valor sentimental, que seu pai havia comprado no seu aniversário de 17 anos. Depois de comer suas torradas e tomar um grande gole de café amargo, pra ver se ficava mais acordado, pega a única cópia da chave de seu apartamento e sai. Ele iria comprar a casa perfeita que tanto queria, mas outra pessoa havia dado um valor maior que ele, e como era impossível de pagar algo a mais, acabou perdendo. Por coincidência, essa casa ficava no caminho do estúdio.

Caesar desce as escadas ao invés de usar o elevador, e quando chega no térreo, está sem fôlego. Respira bem fundo. Essas dores musculares tem que parar, e ele não fazia ideia de como isso iria funcionar.

ㅡ Vaerlies! Você recebeu uma carta. ㅡ Era o síndico do prédio. Caesar, sinceramente, não sabia qual era seu nome, mas deu o sorriso mais gentil que conseguiu e pegou a carta que ele estava estendendo.

ㅡ Obrigado. ㅡ Assim que se virou e saiu, seu sorriso se desfez ao perceber que era um bilhete de sua tia. Ele amassou sem nem ler e colocou no bolso de seu casaco, junto com uma muta de sua falecida moto, que acabou por ficar em Nova Iorque.

Caesar estava tentando ter uma vida mais saudável, pelo menos por parte física. Caminhando com as mãos nos bolsos e o rosto levantado, nem percebe quando chega no pequeno estúdio. Ele botava fé de que um dia ficaria famoso. Logan passou pela janela do andar de cima e olhou para baixo, para Caesar. Apesar de ser seu chefe, Logan era o melhor amigo de Caesar, o que não era a melhor coisa a se pensar em questão de profissionalismo.

Ele passa pelas portas duplas, abertas, e vai para o seu refúgio.

ㅡ Cara, vai chover, sai daí! ㅡ A voz abafada de Logan passa pelas paredes antirruídos, e ele demora pra raciocinar. Isso sempre acontecia quando ele começava a produzir músicas. Focava apenas no seu bem maior, apenas no que realmente importava para ele. Por isso ele demorou para tirar os fones e abrir a porta. E por isso ele levou um soco no ombro. ㅡ Você sempre me assusta quando faz isso, é aterrorizante!

ㅡ Isso o quê? ㅡ Caesar estava fazendo seus sentidos voltarem aos poucos, desnorteado por ser interrompido em um momento sagrado.

ㅡ Isso! Você ama mesmo o que faz, te admiro. ㅡ Logan sorri um pouco, desliga as luzes do estúdio, pega seu casaco e sai, acompanhado de Caesar.

Caminham animadamente, conversando baboseiras e só se divertindo. O sorriso de ambos os lados não some por um momento sequer. Caesar sentia falta disso. De sorrir de verdade. Mas... Ele se culpava profundamente por fazer algo tão egoísta... A pessoa que ele mais amava morreu em seus braços, e ele está sendo capaz de sorrir duas semanas depois disso. "Sou um monstro" ele pensava. Tinha dó de quem tentava se relacionar com ele. Ele não iria se importar. Talvez fosse melhor ele superar, mas ele deveria fazer mais por ela.

Efeito BorboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora