Efeito Borboleta

3-Pintura

   Seus pensamentos estavam em um turbilhão. Havia deitado no sofá, mas não pregara os olhos. Ele não sabe exatamente o porquê de ter recusado Becky, já que parecia claro o quão atraente ela é, e como ela estava querendo ele. Mas Caesar se sentiu mal ao desejar isso. Ele... infelizmente, ele ainda se culpava pela morte de sua irmã, e saber que ele poderia se dar ao luxo de ter ao menos um sexo casual, o deixava muito mal. E ele virou a noite em claro com esse pensamento de como era um egoísta, um covarde.

  Se levantou quando viu pela janela da sala os primeiros raios de Sol. Ainda estava de toalha pela noite anterior, então se dirigiu ao seu quarto demasiadamente silencioso, com certo cuidado ao abrir a porta, já que Becky estava lá. Então ele tirou seu celular do carregador, pegou a primeira roupa confortável que viu pela frente, calçou seus tênis e saiu do apartamento. A última coisa que ele queria era passar tempo com aquelas duas visitas indesejáveis em seu lar. Colocou seus fones de ouvido e saiu correndo, sem rumo aparente.

   Caesar acabou por chegar em uma pequena cafeteria, ainda fechada por ser -ele constatou no celular- cinco e meia da manhã. Andou mais um pouco, sabendo que entraria em uma pequena mata e encontraria um lago mais a fundo, com alguns peixes vivendo nele. Se sentou na beirada e ficou olhando pra água calma, tentando fazer seus pensamentos voltarem a ordem. Mas percebeu uma pequena fumaça em sua visão periférica, e se deparou com uma adolescente extremamente típica, com roupas rasgadas, maquiagem pesada e cabelos amarrados em maria chiquinha. 

   ㅡTá olhando o quê? Perdeu alguma coisa?ㅡ Ela o encara, com um olhar ameaçador, apesar de ser uma garota jovem.

  ㅡSim, eu perdi meu celular, e vou ligar para a polícia e avisar que uma adolescente está matando aula pra fumar maconha.

Ela suspira, achando graça.

ㅡPode ligar, meu pai é o delegado dessa merda. 

ㅡBom, então você tem estoque de graça de drogas. Se seu pai souber... Bom, não posso falar nada, nem sei quem é você. Até mais.ㅡ Caesar balança a mão, como que se despedindo, desinteressado, e volta correndo. Compra um café na cafeteria que acabara de abrir e volta caminhando para casa.

Quando abre, não ouve som algum, e acaba pegando seu celular ao constatar que ainda era sete horas da manhã e que provavelmente sua tia não acordava cedo desde a época da escola. Ele suspira e vai pro seu quarto, mas se arrepende no último instante ao se lembrar que Becky estava lá dentro, dormindo e vulnerável, e que ela entenderia completamente errado se Caesar entrasse silenciosamente lá. 

Suspirando, ele volta pra sala, pensando que ficaria fedendo suor por mais algumas horas, até elas acordarem, quando vê no chão a toalha da noite anterior que ele havia usado. Bom, não era o que ele havia em mente mas bastava. E foi aí que percebeu que isso não iria dar em lugar algum, porque suas roupas continuavam no quarto e não ficaria pelado. Então desistiu de tudo isso e foi para a cozinha preparar alguma coisa para comer.

∆

O dia havia passado rápido, e com algumas aspirinas, Caesar tinha de admitir. Ficara com muita raiva de sua tia enchendo-lhe o saco com perguntas inoportunas e desconfortáveis, mas ela havia o abraçado quando começaram a falar de Sophia, sua irmãzinha, e isso fez seu coração se aquecer um pouco. Ele sabia que sua tia estava fazendo tudo isso por se preocupar com ele, por ter medo de ele ficar triste e sozinho, se sentindo culpado.

  Quando ele havia conseguido um momento de paz, pegou seu celular e lembro-se de imediato da garota que ele havia "sem querer" atropelado com seu corpo, e ligou pra ela. E ficou chamando, até dar caixa postal. Ele refletiu por um instante, imaginando se ligar de novo para uma garota que nem sabia o nome era estranho, mas estava querendo fugir ao menos um pouco disso tudo que se passava no seu apartamento, agora conturbado, e ligou novamente. E, de novo, veio a caixa postal. Soltou um suspiro, e pensou que se ela não atendesse de novo ele desistiria. Mas então, ouviu a sua doce voz trespassar pelo auto-falante de seu celular, e abriu um sorriso involuntário.