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- Veio morar aqui?

Paramos na Ha'Penny Bridge, a ponte que liga o lado norte de Dublin ao lado sul. Subo o zíper do meu casaco amarelo ouro até a minha garganta, devido a baixa na temperatura. Estamos no mês de fevereiro e a estação do momento é a primavera, há flores por todos os cantos do país, mas o clima ainda continua gélido e variável, nos proporcionando até as quatro estações do ano em um só dia.

- Não, vim apenas conhecer. - Olho para o rio abaixo de nós - Volto amanhã

- Já? - Ele pergunta surpreso

- Ahã, não posso faltar muito na escola.

- Espera, você está dizendo que matou aula só para vim pra cá? Em que ano você está?

Confirmo com a cabeça.

- No último - Solto um riso nervoso quando ele continua me encarando sério - Eu sei, é irresponsável, mas me pareceu uma boa idéia quando comprei as passagens aéreas no impulso.

Ele tira uma de suas mãos do bolso e toca na estrutura de ferro da ponte.

- Eu sinto como se ainda estivesse faltando peças no quebra-cabeça desta história - Ele comenta pensativo - O que a motivou a viajar?

Encaro o chão de paralelepípedo.

- A minha avó paterna - Respondo - Vovó Aimee fez parte das adolescentes rebeldes dos anos 50 que saiam na sexta para se divertir com o Bart e no sábado com o Simon, ela gostava de viajar também, está no sangue da família. - Dou uma pausa para olhar o ruivo que continua atento a conversa - Ela sempre me ensinou que só vivemos uma vez, temos que aproveitar cada segundo da vida, sem ficar no passado e nem pensar muito no presente, apenas experimentando o presente. - Dou um sorriso nostálgico ao recitar suas palavras - Quando fiz dezoito anos há cinco dias atrás, tive a idéia de viajar sozinha. Eu sempre tive vontade de fazer isso, e na hora pareceu a coisa certa a se fazer. Então peguei o dinheiro que juntei nos meus trabalhos de verões passados, comprei as passagens e avisei a minha família o que tinha feito quando já estava aqui.

- Sua família deve ter levado um susto - Ele comenta me fazendo soltar uma risadinha

Balanço a cabeça para cima e para baixo.

- Sim, meus pais me deram uma bronca.

- Viajar sozinho é meio perigoso, é sempre bom avisar alguém.

- É sim. - Concordo - Aprendi do jeito mais difícil.

- Por que você escolheu a Irlanda?

É inevitável ri quando me lembro de como escolhi viajar para cá.

- Então... - Começo ainda sorrindo - Tecnicamente não foi bem a minha escolha.

Suas sobrancelhas ruivas se juntam em confusão enquanto ele espera que eu termine de explicar.

- Escrevi em uma folha os nomes de alguns países que eu admiro, cortei o papel e fiz uma espécie de sorteio.

- E o resultado foi a Irlanda - Ele completa

- Foi o melhor resultado de sorteio que eu já vi, não me arrependo nem um pouco de ter vindo para cá.

Ele sorri, mostrando pela primeira vez um par de covinhas nas bochechas avermelhadas pelo frio.

- Você pretende voltar?

- Eu não sei - Digo vagamente - Vai depender de como vão está as coisas no meu futuro

Dois Raios Não Caem No Mesmo LugarOnde histórias criam vida. Descubra agora